O conceito de fast-fashion, de produção de moda rápida e contínua, tem conseguido com o passar do tempo aumentar a oferta de peças de vestuário a preços mais competitivos. O problema é que, cada vez mais, os recursos renováveis perdem espaço nesse novo perfil de consumo para matérias-primas sintéticas, como o petróleo.
Mas há uma outra vertente dessa indústria que procura justamente a direção oposta. No lugar de produtos de origem animal, como lã natural, seda e couro, tem ofertado alternativas para atender aos adeptos ao veganismo, feitas a partir de material sintético ou de origem vegetal.
Quem entrou recentemente nesse mercado foi a atriz Rooney Mara, indicada ao Globo de Ouro e ao Oscar, que atuou em filmes como Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), Ela (Her, 2013) e Carol (2015). Vegana há sete anos, Rooney decidiu se unir a Sara Schloat, sua amiga de infância, e ao figurinista Chrys Wong para o lançamento da marca Hiraeth. A decisão foi tomada depois de ela perceber que não era coerente ser vegana, mas continuar a usar animais no guarda-roupa. Em entrevista recente, a atriz confessou se sentir desconfortável ao ver peças de couro em seu armário*.
Algumas marcas já têm flertado com esse tipo de produção. É o caso da estilista e ativista Stella McCartney, que em abril lançou uma coleção com o apelo de ser livre de qualquer tipo de crueldade animal. Outros estilistas, como Donatella Versace e Tom Ford, anunciaram que vão usar cada vez menos pele animal em suas criações.
Tecnologia ajuda
Quem também aderiu ao movimento foi a grife Hugo Boss, que há poucos meses apresentou um tênis vegano feito de “couro de abacaxi”, ou Piñatex. A tecnologia deverá ser uma aliada importante nesse aumento de produtos. Stella McCartney já usou uma seda desenvolvida a partir de levedura, obtida com uso da biotecnologia. Também já é possível encontrar várias alternativas para o couro vegano, como o material obtido do fungo, da nat-2, outro produzido à base de casca de maçã, da VEERAH, e o de levedura, da Modern Meadow.
Brasil
Dados divulgados em maio mostram que o Brasil tem 30 milhões de veganos, ou cerca de 14% da população, segundo pesquisa do Ibope feita sob encomenda da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Ao serem perguntados sobre aumentar o consumo de produtos alimentícios veganos, 55% disseram que fariam essa adesão ao novo hábito se houvesse uma indicação mais adequada na embalagem.
Apesar desse contingente, o Brasil tem poucas marcas de moda que escolheram o veganismo como plataforma, como a Insecta, fabricante gaúcha de calçados, a paulista King55 e a carioca Svetlana – as duas últimas dedicadas à produção de roupas**.
Rooney Mara tem falado da dificuldade em encontrar materiais que substituam os obtidos a partir de animais. “Tantas coisas diferentes usadas em nossas vidas têm couro ou lã, mas as pessoas estão desconectadas do que isso significa ou o que foi necessário para colocar aquele item no armário, no carro ou em qualquer outro lugar”, declarou em entrevista à W Magazine.
Ainda segundo a atriz e agora empresária, o universo da moda está atrasado na preocupação em desenvolver alternativas veganas quando se compara ao que vem acontecendo com o setor de alimentos. Mas a própria Rooney conta que quando começou no veganismo, há sete anos, encontrava apenas um tipo de queijo. Hoje, são pelo menos 50 marcas quando vai ao supermercado***.
Bilhões em cosméticos
Outro segmento de negócio vegano que está avançando é o de cosméticos. Pesquisa divulgada em maio passado pela Grand View Research aponta que em 2025 esses produtos vão movimentar globalmente algo em torno de US$ 29,8 bilhões, apresentando até lá uma taxa média anual de crescimento de 6,3%.
A matéria-prima usada pela Hiraeth vem do Reino Unido, França, Japão e Itália. A marca está instalada em Los Angeles e os itens são vendidos pelo e-commerce próprio e em duas lojas da rede Barneys. Apesar de a marca estar há pouco tempo no mercado, já conseguiu emplacar um de seus modelos no tapete vermelho: a atriz Sadie Sink, da série Stranger Things, usou uma das criações da Hiraeth em março passado.
Fonte: Estado de Minas
Foto: Angela Weiss / AFP
NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:
1. Leia também:
*2. Se Rooney ainda usava roupas de couro ou outro material de origem animal, ela não era vegana, e sim vegetariana. Se agora ela realmente se livrou desses itens e não consome mais nenhum outro produto que envolva crueldade animal, ela é vegana mesmo. Entenda aqui a diferença entre vegetarianismo e veganismo.
**3. Leia mais aqui.
***4. Fazer queijo em casa é mais gostoso e barato! Confira aqui diversas receitas.
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