A pintura no cavalo e a objetificação dos animais


Um rumoroso episódio de maus-tratos e desrespeito foi registrado recentemente na Sociedade Hípica de Brasília. Crianças foram orientadas a usar “canetinhas” para pintar um cavalo como forma de entretenimento, em uma colônia de férias. A foto viralizou nas redes sociais e gerou críticas generalizadas por expor o animal a um alto nível de estresse, e sobre a objetificação dos animais.

A atividade, além de cruel e antididática, banaliza o abuso e a exploração de animais. “Enquanto tentamos educar as crianças para que tenhamos uma sociedade mais consciente, que saiba respeitar todas as formas de vida, deparamos com uma coisa absurda dessas”, desabafaram ativistas.

A Sociedade Hípica de Brasília alegou que a atividade é pedagógica e que usa a pintura em cavalos para que as crianças percam o medo desses animais. A atividade é realizada entre crianças de três a 14 anos com animais de comportamento “dócil e previsível”.

Nas redes sociais, o caráter pedagógico da atividade foi questionado pelos internautas, e foi justamente questionado que a brincadeira desse um mau exemplo às crianças.

Segundo a psicopedagoga e especialista em autismo Jeana Oliveira, em entrevista publicada no portal G1, a interação entre crianças e animais é positiva, mas o uso das tintas, possivelmente, não seria necessário ou recomendado. “A interação com o animal é algo importante, prazeroso. Você começa a estabelecer vínculo, respeito aos seres vivos. O problema é usar o animal como um ‘recurso’ de pintura. Essa associação pode, sim, trazer prejuízo”, explica.

“É até meio contraditório. Eu ensino a escrever no animal, e depois ensino a lavar o animal? Como se a primeira ação fosse algo errado? A gente limpa coisas que outra pessoa vai usar, o animal não é esse tipo de acessório. A gente não ensina a bater para ensinar a pedir desculpas”, afirmou a psicopedagoga.

Após a denúncia, a Hípica foi notificada, mas os fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Ibram (Instituto Brasília Ambiental) não autuaram os responsáveis, considerando a fiscalização que não houve maus-tratos*.

O fato é que a argumentação de que não houve estresse para o animal envolvido e a naturalidade em aceitar a atividade mostram que, em muitas mentes, a coisificação ou objetificação dos animais deve ser combatida, e não podemos permitir algo como “festas com animais”, sob a desculpa de que isso aproxima as crianças dos bichos, enquanto que, na verdade, o que é ensinado é exatamente o contrário: a continuidade do desrespeito à vida animal e o desprezo à senciência animal – a capacidade cognitiva e de sentir que os animais possuem.

Fonte: Pleno News 

Foto: Reprodução


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. A reação do Ibama, lamentavelmente, não é nenhuma surpresa. Relembre alguns outros exemplos de como age esse órgão de "defesa" dos animais e da natureza:




2. Leia mais sobre a realidade da exploração de cavalos em hípicas:



Um comentário:

  1. Falta do que fazer de adultos que ao invés de orientar crianças para a proteção aos animais, fazem a palhaçada de incentivá-las a lidar com eles exatamente como não se deve, com essa prática esdrúxula e anti natural que nada contribui para o bem estar do animal, ao contrário, sinaliza para as crianças que animais são palhaços e se pode pintar o sete com eles à vontade porque eles existem para isso mesmo. Antipedagógico e um desrespeito à integridade de qualquer ser vivo, a não ser que ele seja um candidato voluntário para ser tatuado, pintado, rabiscado, desenhado, o diabo a quatro, o que não é o caso.

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