Clarice e Ulisses imortalizados pela escultura de Edgar Duvivier
e pelo clique de Luis Teixeira Mendes
Por Paulo Furstenau*
“Aí está ele, o mar, o mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos.” Assim a escritora Clarice Lispector inicia sua crônica As Águas do Mundo, publicada no Jornal do Brasil como As Águas do Mar, em 13 de outubro de 1973, e depois no livro A Descoberta do Mundo, uma antologia dos textos de sua coluna semanal naquele periódico.
Foi esse trecho que o fotógrafo Luis Teixeira Mendes usou para legendar o registro que fez da estátua de Clarice e seu cão, Ulisses, que fica no Leme, bairro carioca onde a escritora viveu por 12 anos. E a representação em bronze dos dois evoca um complemento mental às palavras da escritora: “Aqui está também o cachorro, o mais fiel amigo dos humanos”. Ulisses, imortalizado na escultura de Edgar Duvivier junto com sua tutora poeta, foi o terceiro (após Dilermando e Jack) e último cão de Clarice Lispector.
“Sou um pouco malcriado, não obedeço sempre, gosto de fazer o que eu quero, faço xixi na sala de Clarice.” Eis como Ulisses se apresenta no livro infantil Quase de Verdade, todo narrado por ele. Segundo o cachorro, que tinha “pelo castanho cor de guaraná e olhos dourados”, ele ficava latindo para Clarice, e ela, como entendia o significado de seus latidos, escrevia o que ele lhe contava.
Foi esse trecho que o fotógrafo Luis Teixeira Mendes usou para legendar o registro que fez da estátua de Clarice e seu cão, Ulisses, que fica no Leme, bairro carioca onde a escritora viveu por 12 anos. E a representação em bronze dos dois evoca um complemento mental às palavras da escritora: “Aqui está também o cachorro, o mais fiel amigo dos humanos”. Ulisses, imortalizado na escultura de Edgar Duvivier junto com sua tutora poeta, foi o terceiro (após Dilermando e Jack) e último cão de Clarice Lispector.
“Sou um pouco malcriado, não obedeço sempre, gosto de fazer o que eu quero, faço xixi na sala de Clarice.” Eis como Ulisses se apresenta no livro infantil Quase de Verdade, todo narrado por ele. Segundo o cachorro, que tinha “pelo castanho cor de guaraná e olhos dourados”, ele ficava latindo para Clarice, e ela, como entendia o significado de seus latidos, escrevia o que ele lhe contava.
Clarice e Ulisses em Quase de Verdade (Editora Rocco Jovens Leitores),
nos traços da ilustradora Mariana Massarani
No livro, ele conta suas aventuras no “enorme quintal de uma senhora chamada Oniria”, onde esteve hospedado. Na vida real, Ulisses, “um pouco neurótico”, como Clarice o descrevia devido a seu temperamento bagunceiro, cometia excessos como beber refrigerante e uísque, além de roubar bitucas de cigarros dos cinzeiros. Péssimo para a saúde de qualquer ser vivo, mas sua tutora, embora relaxasse na educação do bicho, tinha consciência sobre certos hábitos cruéis contra cachorros, conforme Ulisses atesta, também em Quase de Verdade: “Minha dona não quis cortar meu rabo porque acha que cortar seria contra a natureza”. E é isso mesmo. Hoje, cortar cauda ou orelha de cachorros é não só contra a natureza do animal, como também crime de maus-tratos.
Os hábitos mundanos e inapropriados para os cães mantidos por Ulisses - que gostava de fazer o que queria, como ele mesmo disse - lhe renderam até uma menção especial no jornal satírico O Pasquim. Em 1974, os repórteres da publicação entrevistaram Clarice na presença do peludo e acabaram escrevendo sobre ele também, descrevendo-o como um “bicho muito louco”.
Mas Ulisses não era um pouco neurótico nem muito louco. Ele era um cachorro, curioso e arteiro (e maravilhoso) como todos os cães. Clarice Lispector lhe disse certa vez: “Quanta inveja tenho de você, Ulisses, porque você só fica sendo”.
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