Quem tem sabe: gatos são lindos, independentes e muito sedutores

Os gatos são cercados de mitos. Por exemplo, de que dão azar e de que valorizam o ambiente e o conforto da casa onde vivem, e não o tutor. Mas aqueles que convivem com alguns em casa discordam e se dizem totalmente seduzidos pelos bichinhos. “O número de residências com felinos no Brasil está aumentando bastante. Segundo pesquisa do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já batem a casa dos 22 milhões (são 52 milhões com cães)”, contabiliza a veterinária Jacqueline Felippetto, que trata de pequenos animais há 26 anos.

Segundo ela, a má fama dos gatos vem lá do passado: “Por serem animais misteriosos, foram rotulados de maneira preconceituosa e injusta. Por isso, quanto mais informação, menos mistificação”. E desde quando os pretinhos dão azar? “Essa superstição surgiu na Idade Média, devido aos gatos terem hábitos noturnos. Eram considerados diabólicos por causa da associação da cor com as trevas e a magia negra. Que bom que hoje os gatos pretos estão na moda, ganhando cada vez mais fãs”, comemora a médica veterinária Mariana Cardoso da Costa. 

Para o budismo, gatos representam a espiritualidade. “No Antigo Egito, eram animais sagrados”, ressalta o médico e nutrólogo veterinário de pequenos animais, Rafael Perdiz. E, hoje, fazem sucesso na internet. Quem já riu com vídeos de gatinhos fofos postados nas redes sociais ou no WhatsApp que o diga! Um estudo com sete mil internautas até mostrou que esse hábito alivia a ansiedade. “Eles amam e precisam ser amados, tendo um papel fundamental na natureza. Gostos devem ser respeitados, bem como a vida deles”, reforça Mariana.

As telas do cinema receberam, no mês passado, um documentário dedicado aos felinos, que a diretora do hospital recomenda assistir: “O filme Gatos conta como a quarta maior cidade do mundo e a maior da Turquia, Istambul, respeita a vida desses animais, cada qual com sua diferença na sociedade. Relata a forma como eles entendem as emoções. É um filme que nos faz repensar nossa jornada. Vale a pena”.

“Interessante é saber que o focinho funciona como suas impressões digitais, pois não existem dois iguais”, comenta Jacqueline, que tem o blogue Farmácia de Bicho e o canal no YouTube Bichos na TV, para partilhar dicas de saúde, curiosidades e cuidados com animais de estimação. “Gatos pulam até cinco vezes sua altura e têm 24 bigodes, que os guiam por onde conseguem passar”, complementa Rafael Perdiz, que entrega outra curiosidade: os que têm pelagem com três cores são fêmeas.

O que mais Mariana ouve dos clientes é sobre a interatividade entre o gato e seu tutor. “Todos têm histórias para contar, e muitas são divertidíssimas. Isso faz bem às pessoas, controlando a depressão, o estresse e até a pressão arterial. A gente percebe que é o animal apropriado para quem tem uma vida corrida e não quer abrir mão de ter um bicho de estimação, por ele conseguir se disciplinar com relação às suas necessidades de higiene e ter certa independência dos tutores para sua rotina diária.”

Uma confusão que se faz é acreditar que o barulhinho que eles emitem no peito sinaliza problema respiratório e que podem transmitir alguma doença. Muito pelo contrário. “O gato emite aquele som justamente quando está numa situação de muito conforto, segurança e tranquilidade. Com esse som, é como se ele estivesse dizendo: ‘Olha como eu gosto de ficar ao seu lado!’”, explica Perdiz. Ele acrescenta que não é o pelo do gato que pode gerar alergia em humanos, e sim uma proteína presente na saliva que adere ao pelo quando o animal se lambe. 

Mitos x verdades

Outras crenças que devemos desfazer sobre os felinos, na visão dos veterinários entrevistados, são:

> Têm sete vidas. A verdade: é importante cuidar muito bem da saúde deles. Senão, vão adoecer como qualquer outro animal. 

> Sempre caem de pé. A verdade, segundo Mariana, expert em clínica, cirurgia geral e oncologia de pequenos animais: “Somente se for de uma altura de 60 centímetros. Caso contrário, não dará tempo de se virarem e podem se machucar muito”. 

> Enxergam no escuro. A verdade: eles enxergam 10 vezes melhor que os humanos. Mesmo assim, apresentam dificuldades e precisam de um pouco de luminosidade, para que sua visão fique melhor durante a noite.

> Têm medo de água. A verdade, segundo Jacqueline: “Se o tutor acostumá-los desde pequenos, vão gostar de banho, pois conheço muitos que relaxam e aproveitam”. Mariana acrescenta: “Assim como algumas pessoas não gostam, alguns felinos tampouco. Mas alguns adoram água, chegando a mergulhar na água das torneiras, nos vasos sanitários ou até mesmo no boxe onde seu tutor está tomando banho”. Jacqueline lembra que gatos não gostam muito do ruído de secadores. O ideal é ter um soprador. Para adiantar o serviço, vale secá-los com uma toalha primeiramente. E usar produtos específicos para o pelo felino. Dar banho em casa exige paciência, por isso é recomendado levá-los em lojas especializadas nesse tipo de trabalho, para evitar futuros problemas de pele, por não secar corretamente os pelos.

Cuidados com a saúde

Para que os gatos tenham vida longa, Jacqueline orienta manter a vacinação em dia, cuidando do esquema que é feito em filhotes. Uma das vacinas mais importantes é contra a raiva, que não está erradicada no Brasil*. “Um caso recente foi registrado em Recife, onde uma mulher foi arranhada por um gato infectado pelo vírus e faleceu. Isso é muito sério”, alerta a veterinária.

Além disso, realize a castração, para evitar uma ninhada indesejada e a fuga dos bichanos na época do cio, mantenha o vermífugo em dia, aplique produtos contra pulgas e carrapatos, deixe água fresca e à vontade, tenha brinquedinhos para entretê-los, dê ração de boa qualidade e fique atento a qualquer mudança de comportamento (como comer menos, ter dificuldade em urinar, ficar muito quietinho sem querer brincar). Algumas raças podem desenvolver doenças genéticas ao longo da vida. Por isso, é vital ter um médico veterinário para acompanhamento. 

Rafael Perdiz recomenda: “É essencial que o médico saiba como está o funcionamento renal e hepático, pois o gato às vezes demora a manifestar sintomas. Nessas visitas, cheque se a alimentação está adequada. A perda do apetite pode indicar desde a formação de bolas de pelos no estômago até um problema renal grave, passando por não ter gostado da alimentação ou do local do comedouro. O momento do carinho é ótimo para se observar as condições dos olhos, pele, ouvidos, dentes e até de seu estado psicológico”. 

Vantagens de ter gatos

Em relação aos cães, os bichanos são mais independentes e exigem menos cuidados. Não precisam de passeios diários nem de banhos, pois eles próprios fazem sua higiene lambendo os pelos. Fazem menos barulho, pois apenas ronronam – e de vez em quando! “Adaptam-se facilmente a espaços pequenos (ainda mais hoje, com os apartamentos ficando cada vez menores)”, destaca Jacqueline. “Você não precisa ensiná-los a fazer suas necessidades no lugar certo, é só colocar uma caixa com areia adequada que eles vão procurar. Mas mantenha-a sempre limpa, pois gato não usa areia suja, prende a urina e as fezes e fica doente. Se tiver mais de um bichano, coloque mais caixas”, completa a veterinária. 

Recado às grávidas

Perdiz fica triste com a constatação de que muitas mulheres grávidas doam ou abandonam seu gato por medo da toxoplasmose ou de que ele machuque o bebê. “Grávidas podem ter gatos tranquilamente”, corrobora Jacqueline, ensinando que o que deve ser evitado é o contato com as fezes. “Se a gestante precisar fazer essa coleta, é necessário usar uma pá específica e luvas. Assim, evita uma possível contaminação, caso o gato esteja infectado pelo protozoário toxoplasma”, ensina Jacqueline.

O veterinário reforça que os gatos podem ser hospedeiros da toxoplasmose, mas não necessariamente transmitir a doença. Os cistos são eliminados nas fezes, mas é preciso de pelo menos um dia para se tornar infectante. “Então se você lava bem as mãos com água e sabão e limpa a caixa de areia pelo menos uma vez ao dia, não permitirá que se complete o ciclo, evitando a doença.”

Casa, carinho e sorte

Uma pesquisa recente, assinada por cientistas norte-americanos da Universidade Estadual de Ohio, acaba com os rumores de que gatos sejam antissociais e egoístas. Eles descobriram que metade dos 50 felinos resgatados de abrigos preferiam a interação com pessoas a outros três estímulos – comida, brinquedos e objetos para farejar. “Isso é mais uma prova de que são amorosos”, comenta a veterinária blogueira. 

Para Mariana, eles amam o tutor e são territorialistas também, “sendo que o vínculo com o território normalmente está correlacionado com a forma como são criados”. De fato, o felino tem uma relação bem complexa com o ambiente onde vive, de acordo com Perdiz, demarcando um local para cada atividade de sua rotina, como descansar, comer, brincar. 

“Feito isso, ele sente dificuldade para se adaptar a um novo ambiente. Mas reconhece, sim, seu tutor como uma pessoa querida e companheira. Quando esfrega a lateral do rosto nas pernas e no rosto do tutor, é para impregná-lo com o feromônio do bem-estar. E, quanto à questão sorte ou azar, eu vejo assim: quem tem um gato tem sorte. Quem não tem, azar!”, finaliza o especialista.

Fonte: A Tribuna

Foto: Natureza em Forma / Divulgação


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Uma observação sobre a diferença entre erradicação da raiva e área livre da raiva. Essa doença está erradicada, mas isso não significa que o Brasil seja uma área livre dela, pois países que fazem fronteira com nosso país, como a Bolívia, que não erradicaram a doença, acabam, em estados como Mato Grosso, "exportando" o vírus para o Brasil, fazendo com que, apesar de erradicada, nosso país não seja uma área livre da doença. Outro aspecto diz respeito à raiva de tipo silvestre, que vem aumentando em função do desmatamento e invasão de áreas endêmicas de florestas e cerrado.

2. Gostou dos bichanos da foto? Eles e outros aguardam um lar em nosso Centro de Adoção (veja aqui nossos animais). Confira aqui nosso endereço e telefones, para que você possa vir conhecê-los pessoalmente, se apaixonar e levar um (ou mais) para casa, para cuidar com muito amor e responsabilidade.

Tom foi um de nossos adotados recentes. Agora, ele se chama Chico 

e tem um irmão felino chamado Nicolau (Foto: Natureza em Forma / Divulgação)