Sobre seres vivos – edição de Páscoa

    Foto: Reprodução

    Foto: Bandai / Divulgação

    Foto: Natureza em Forma / Divulgação




Por Paulo Furstenau*


Quais as diferenças entre as três fotos? Na primeira, temos dois exemplares de um bichinho peludinho, fofinho, que você pode acariciar, beijar e dormir juntinho com ele. E fazer isso para sempre, porque ele não vai morrer – nem mesmo crescer, envelhecer ou adoecer. Melhor ainda: não vai roer tudo o que ver pela frente nem fazer xixi e cocô!

A segunda foto mostra alguns Tamagotchis, um brinquedinho eletrônico que cabe na palma da mão e simula a vida de um animal. Sensação entre as crianças dos anos 1990, ele está voltando. Por enquanto, apenas no Japão, mas certamente alcançará o mundo todo mais cedo ou mais tarde novamente. Ele não é peludinho e fofinho como um bichinho de pelúcia, mas exige cuidados como ser “alimentado”, “banhado”, “medicado” e “colocado para dormir”. Quanto melhor tratado ele for, mais ele “vive”. Alguns pais presenteavam seus filhos com um Tamagotchi para ensinar os pimpolhos a ter “responsabilidade”.

E, finalmente, a terceira foto mostra os irmãos Camomila e Citronela. Ao contrário dos outros retratados nesta postagem, eles são seres vivos. A mãe deles foi abandonada grávida na rua – sabe quando? -, após a Páscoa do ano passado. Sabe por que isso acontece todos os anos, com vários coelhos? Porque algumas pessoas acham que animais são brinquedos (primeiramente, creem que são produtos ou mercadorias, pois os compram). Chega a Páscoa e dão coelhos de presente para as crianças, se acreditando ser um pai/mãe/tio/tia/padrinho/madrinha/etc. “top”. Mas o coelho cresce. E logo a criança se enjoa da novidade e não quer mais, ou até quer, mas os pais ficam horrorizados com o trabalho que dá, diante dos móveis e fios da casa roídos, e escandalizados em descobrir que aquele animal ainda por cima faz xixi e cocô, como pode? E descartam aquela vida na rua, como se fosse um objeto.

E assim vemos essas lamentáveis histórias se repetirem anualmente. Cabe dizer que isso acontece com todos os tipos de animais, durante todo o ano (outro emblemático é o pintinho, que, quando cresce e vira galo ou galinha, é abandonado ou, pior, vai para a panela), mas esta época é o inferno dos coelhos.

Lembramos sempre: animais não são mercadoria (nenhum deles); animais não são brinquedo (de novo: nenhum deles). Assim, em primeiro lugar: nunca compre animais (leia aqui sobre como funciona o comércio de vidas). Adote. E, quando adotar, tenha em mente que não se trata de um brinquedo ou objeto descartável, mas de uma vida, sobre a qual você será responsável até o fim, na saúde e na doença, e irá cuidá-la muito bem. 

Se quiser presentear uma criança com qualquer animal que seja, tenha isso sempre em mente. Se for seu filho, o trabalho será seu. Se for filho de outra pessoa, consulte esses pais e tenha certeza de que eles estão cientes da responsabilidade. Do contrário, dê um bicho de pelúcia: esse, sim, não dá trabalho e pode ser descartado a qualquer momento. Se quiser ensinar a tal “responsabilidade” para que a criança aprenda a cuidar de uma vida, repetimos: o trabalho, na verdade, será seu - a criança, como criança que é, será um aprendiz. E que lição errada – de responsabilidade e afeto - você dará a seu filho se abandonar um animal, não é mesmo? É melhor esperar mais um pouco, pois o Tamagotchi logo, logo, chega no Brasil.

Quanto ao Camomila e Citronela, ainda estão em nosso Centro de Adoção (a mãe já foi adotada) aguardando uma família que lhes ofereça os devidos cuidados, amor e responsabilidade, até o fim de suas vidas.



Foto: Natureza em Forma / Divulgação


Sobre a guarda responsável de coelhos:

Ambientação

Separe um cômodo inteiro (da sua casa ou apartamento) para o coelho, como um banheiro ou um quarto sem uso. Nunca gaiola: animal nenhum cometeu crime para merecer viver preso dentro de gaiolas, jaulas, baias ou aquários.

Faça uma toca nesse local, para o coelho se esconder, podendo ser um caixote de madeira de reaproveitamento de feira, tipo palete, fechado, somente com uma entrada pequena, ou um vaso de fibra de coco invertido, com um buraco. 

Coloque peças de madeira (também paletes, que são madeiras cruas, sem verniz ou outros produtos tóxicos ao animal), galhos e troncos para o coelho roer. O coelho é um bicho que necessita roer para gastar os dentes, então o que estiver no recinto é para essa finalidade. Quando já estiver tudo gasto, faça a reposição.

Disponibilize também uma bandeja com areia (de construção/rio; lojas de construção vendem baratinho em sacos) ou terra - coelhos costumam brincar se refastelando nela, mas alguns fazem suas necessidades ali, por isso é importante ficar atento para o uso que o animal faz da areia ou terra, para mantê-la sempre limpa.

Além desse cômodo especialmente preparado, deixe o coelho solto quando você estiver em casa, para que ele possa se exercitar e interagir - claro que sob condições seguras, como portas para o quintal ou hall fechadas e janelas teladas ou fechadas. 

Alimentação

Ofereça o que supostamente o animal encontraria na natureza, como folhas verde-escuras, frutas e legumes - boa parte desses alimentos pode ser obtida gratuitamente na feira, por meio do descarte, ou até mesmo pelo descarte pessoal, como cascas de frutas e legumes (banana, batata, melancia, melão, talos de brócolis e couve-flor etc., com exceção de frutas cítricas).

Enfim, descarte de alimentos, caixotes de madeira... e tudo gratuito! A feira é uma parada obrigatória para os tutores de coelhos!

Para complementar essa alimentação natural, existe ração própria para coelhos, mas esta deve corresponder a apenas 20% da dieta do animal.

Higiene 

Num canto do cômodo onde o coelho morar, coloque serragem (vendida em pet shops ou obtida gratuitamente em serralherias) para ele fazer suas necessidades e troque-a diariamente.

Coelhos fazem sua higienização corporal sozinhos, mas você pode limpar suas patas ou área genital, caso estejam sujas, com lenços umedecidos – nunca dê banho, pois isso é um risco para seu sistema imunológico, que é bastante sensível. 

Adoção

Se o que você leu acima não te pareceu nenhum bicho de sete cabeças, se você tiver muito amor para dar, for vegetariano (há pessoas que comem carne de coelho, por isso colocamos essa condição) e se interessou em adotar o Camomila e o Citronela (eles estão para adoção em dupla), entre em contato conosco: (11) 3151-2536 / 3151-4885 / 7766-1559 (Nextel) / contato@naturezaemforma.org.br.

Caso não esteja em São Paulo, procure se informar sobre outras ONGs e feiras de adoção de animais. Mas nunca, nunca, compre qualquer animal. Amor e amizade não se compra (e sim se cuida)!


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

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