Saiba o que nunca fazer com um gato


Ser tutor de um gato não é o mesmo que ser tutor de um cão ou pai/mãe de um bebê humano. Há tutores de primeira viagem que buscam os primeiros conselhos com familiares, amigos, vizinhos e na internet. O mesmo acontece quando o gato fica doente. Nesse caso, depois de ter tentado todas as dicas do vizinho, de experimentar os comprimidos que sobraram do tratamento do animal de um parente, de se aconselhar com a senhora da farmácia e de consultar o Dr. Google (não necessariamente nessa ordem), o tutor visita finalmente o veterinário. Muitas vezes já com o animal em estado crítico, quando se torna muito mais complicado o tratamento. E se o objetivo era poupar o dinheiro de uma consulta, aconteceu exatamente o contrário. Já foi gasto dinheiro em medicamentos desnecessários ou até prejudiciais, para depois ter que recorrer ao profissional de saúde, pagar os respectivos honorários e a medicação necessária para resolver um problema bastante mais complicado do que seria numa primeira abordagem. 

O ideal seria que se criasse uma relação de confiança médico/tutor, baseada na honestidade, amizade, empatia e compreensão mútua. Assim, o tutor se sentiria à vontade para utilizar o telefone para esclarecer uma dúvida ou admitir uma dificuldade econômica que o impedisse de prestar a assistência que o animal precisasse nesse momento. Todos temos maus momentos na vida. Quem nunca passou dificuldades, sobretudo na conjuntura socioeconômica dos últimos anos? Reconhecer essa dificuldade não é um sinal de fraqueza, pelo contrário: é um sinal de honestidade e vontade de fazer o melhor. E pode ser criado um compromisso entre ambas as partes, de forma que o gato receba os cuidados médicos que necessita, sem exceder a capacidade econômica do tutor. A solidariedade é a base de uma sociedade, em todas as suas vertentes. Os veterinários não são exceção. Eles não podem deixar de cobrar pelos seus serviços, mas certamente irão empregar esforços para encontrar soluções que favoreçam ambas as partes, sem prejuízo do interesse do animal.

Cortar bigodes

As vibrissas ou bigodes são fundamentais para o equilíbrio e orientação do gato. Correspondem a um conjunto de pelos sensoriais, localizados entre o lábio superior e o nariz. Funcionam como uma espécie de radar, dando a noção exata de dimensão e distância dos objetos, facilitando a movimentação do animal na escuridão total. A perda desse órgão sensível provocará insegurança e frustração, uma vez que o gato terá dificuldade em executar determinadas tarefas rotineiras como saltar com precisão, se orientar no escuro ou andar em linha reta. 

A posição dos bigodes interfere, também, na linguagem corporal do animal. Quando está numa postura defensiva, eles se movem para trás, ficando colados à face. Se relaxado, estão na posição normal, ligeiramente afastados da face. Se curioso, sondando o ambiente ou pedindo carinho, o gato dirige os bigodes para a frente. Quanto mais longos forem os bigodes, mais eficiente será a percepção sensorial do felino. Os bigodes também são renovados e por isso é possível encontrá-los, por vezes, no local onde o gato dorme. Eles voltarão a crescer.

Dar paracetamol

Um comprimido de paracetamol atinge drasticamente os glóbulos vermelhos e o fígado do gato, levando-o à morte em poucos dias. Isso porque os gatos não conseguem metabolizá-lo, por falta de proteínas que o degradem. Não é porque um medicamento é inofensivo para bebês humanos que também será inofensivo para gatos, mesmo que adultos. Analogias entre espécies nunca devem ser feitas, uma vez que são perigosas. Muitos gatos morrem desnecessariamente porque seus tutores resolvem improvisar e medicar sem aconselhamento médico. Mesmo com tratamento adequado e intensivo, a intoxicação por paracetamol mata, de forma lenta e dolorosa.

Dar ácido acetilsalicílico

Muito utilizado como antipirético e analgésico, demora cerca de 45 horas a ser eliminado pelo metabolismo felino, enquanto que, no ser humano, o mesmo acontece em cerca de quatro horas. Isso porque os gatos não possuem concentrações suficientes da enzima necessária para a metabolização da droga. Os sinais de intoxicação são: apatia, aumento da frequência respiratória, febre, anorexia, vômitos, gastrite hemorrágica, lesões renais, hemorragias, coma e até morte. O ácido acetilsalicílico inibe a secreção e agregação de plaquetas, causando quadros hemorrágicos perigosos ou letais.

Medicar sem orientação veterinária

Automedicação é perigosa e exige conhecimento profissional. O gato possui um metabolismo peculiar, diferente do cão ou do homem. Nunca deve ser considerado um bebê humano, apesar da semelhança de peso, ou um cão de igual porte. Os metabolismos diferem muito e utilizar uma outra espécie como referência pode ser fatal. Nunca arrisque. Confie ao médico veterinário a escolha do fármaco que o animal realmente precisa.

Desparasitar com piretrinas

As piretrinas são inseticidas usados no controle de parasitas externos dos cães. São habitualmente vendidas sob a forma de pipetas de aplicação tópica, coleiras, pós ou xampus, e visam à eliminação de pulgas e carrapatos. Porém os gatos são bem mais sensíveis a esse produto, incapazes de metabolizá-lo, e sua ingestão, inalação ou contato com a pele pode ser desastroso. A intoxicação causa sintomas neurológicos e musculares agudos como salivação excessiva, tremores, convulsões, dificuldade respiratória, diarreia e vômitos, depressão ou hiperexcitabilidade, febre ou hipotermia e, como derradeiro e último sintoma, a morte desnecessária e agonizante. 

É muito importante ler atentamente os rótulos dos produtos antiparasitários que for utilizar e NUNCA usar no gato aquilo que pode utilizar num cão. Se acontecer a utilização indevida de tais produtos ou derivados, você deverá imediatamente lavar o gato com água morna (nunca quente, pois a temperatura aumenta a absorção pela pele) e sabão. Se acontecer a ingestão, nunca dê leite ou gorduras, porque estas também aumentam a absorção. Recorra imediatamente a um veterinário, porque a situação é muito grave e só ele possui meios médicos indispensáveis para aumentar a taxa de sobrevivência de um gato intoxicado com piretrina. 

O prognóstico é reservado e muitas vezes ficam sequelas nos gatos que conseguem sobreviver. Se você for tutor de gatos e cães, cuidado com a utilização desses produtos nos cachorros. O gato poderá tentar higienizar a zona umedecida do pelo do cão ou pisar acidentalmente em algumas gotas do produto que possam ter caído no chão. Sendo maníaco por limpeza, sua tentativa de retirar algo estranho ou de odor desagradável do seu corpo, imaculadamente limpo, pode levar à ingestão do produto.

Dar chocolate

Muito falado sobre cães, mas também tóxico para gatos. O chocolate contém teobromina, que não é metabolizada no fígado, causando diarreia, vômitos, tremores, descoordenação motora e até morte. Qualquer produto que contenha chocolate, mesmo que em ínfimas quantidades, está completamente proibido na alimentação felina.

Levar ao veterinário sem caixa de transporte

Inúmeros acidentes evitáveis acontecem com gatos que vão ao consultório veterinário sem estarem devidamente acondicionados numa caixa transportadora. Os tutores conhecem seu animal no contexto doméstico, em ambiente controlado e com o qual está completamente familiarizado. Salvo raras exceções, ele se sente confortável e seguro em casa e sua atitude é a esperada. Mas quando os gatos são confrontados com o ambiente hostil da sala de espera do consultório veterinário, com sons ameaçadores, cheiros assustadores e outros animais igualmente amedrontados, todos os sinais de alerta de sua condição de presa disparam e eles só querem sair dali a qualquer custo, sem medir consequências. Nesse momento de absoluto pânico, torna-se prioritário e essencial abandonarem o local, para se refugiarem em qualquer outro que considerem mais seguro. Portanto, mesmo que o seu pequeno tigre seja a mais calma e doce criatura alguma vez vista, não arrisque. Não saia com ele sem ser na transportadora, cuidadosamente verificada para que não corra o risco de se abrir. Os gatos são animais que passam subitamente de uma emoção a outra. Um gato em pânico tanto pode ficar estático quanto no segundo seguinte atacar e/ou fugir.

Dar pílula anticoncepcional

O controle da natalidade nas gatas deverá ser feito através da castração. A pílula anticoncepcional está completamente contraindicada, pelos riscos que sua administração acarreta. 


Escolher um gato para partilhar a vida implica um compromisso em que nos responsabilizamos pelo seu bem-estar físico e psicológico. É nosso dever lhe proporcionar alimentação adequada, exercício físico regular, cuidados de saúde indispensáveis e possibilidade de expressar todos os seus comportamentos naturais. Completamente indefeso, ele estará à mercê das decisões, caprichos e futilidades humanas. Uma irresponsabilidade dos tutores pode custar a vida do animal. Nunca arrisque e pondere bem qualquer decisão que envolva o bichano.

Fonte: Visão

Foto: Natureza em Forma / Divulgação


NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

O texto original da matéria também contraindicava guizo na coleira e passear com o gato usando guia. Nós excluímos essas partes porque gatos não devem usar nem mesmo coleiras, pois podem se enforcar com elas. Quanto ao passeio, gatos não devem sair de casa com guia nem sem guia. Gatos na rua estão sujeitos aos mais diversos riscos de acidentes e violências. Eles devem ser mantidos dentro de casa, em segurança, e isso significa também janelas todas teladas. Distração para o gato não deve ser a rua, e sim um ambiente enriquecido, com arranhadores, caixas, prateleiras, graminha, brinquedos etc. Sair de casa somente para consulta veterinária, viagem, mudança e outras necessidades, e, como diz a matéria, sempre dentro da caixa transportadora. 

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