"Uma vez que todos habitamos a Terra, somos todos considerados terráqueos. Não há sexismo, racismo ou especismo no termo 'terráqueo'. Ele abrange cada um de nós: de sangue quente ou frio, mamíferos, vertebrados ou invertebrados, pássaros, répteis, anfíbios, peixes e humanos.
Humanos, portanto, não sendo a única espécie no planeta, compartilham este mundo com milhões de outras criaturas vivas, já que todos nós evoluímos aqui juntos. Contudo é o terráqueo humano que tende a dominar a Terra, frequentemente tratando outros terráqueos e seres vivos como meros objetos. Isso é o que significa especismo.
Numa analogia com o racismo e sexismo, o termo 'especismo' é o preconceito a favor dos interesses dos membros de uma espécie contra os membros de outra.
Se um ser sofre, não há justificativa moral para não levarmos em consideração esse sofrimento. Não importa qual seja a natureza do ser, o princípio da igualdade requer que o sofrimento de alguém seja equiparado ao sofrimento de qualquer outro ser.
Os racistas violam o princípio da igualdade, dando peso maior aos interesses dos membros de sua própria raça quando há um conflito entre seus interesses e os de outra raça. Os sexistas violam o princípio da igualdade ao favorecer os interesses de seu próprio sexo. De forma semelhante, os especistas permitem que os interesses de sua própria espécie anulem os interesses dos membros de outras espécies. Em cada caso, o padrão é idêntico.
Embora reconheçamos, dentro da família humana, o imperativo moral do respeito, no qual todo ser humano é alguém e não algo, mesmo assim tratamentos moralmente desrespeitosos ocorrem, quando os que detêm o poder em uma relação tratam os mais fracos como meros objetos. O estuprador faz isso com a vítima do estupro. O molestador de crianças com a criança molestada. O senhor com o escravo. Em cada um desses casos, humanos têm poder para explorar aqueles que não têm poder. Pode o mesmo ser válido sobre como os humanos tratam outros animais ou outros terráqueos?
Sem dúvida, há diferenças, já que humanos e animais não são iguais em todos os aspectos. Mas a questão da igualdade tem outro sentido. É certo que esses animais não têm todos os desejos que nós, humanos, temos. É certo que eles não compreendem tudo o que nós, humanos, compreendemos. Porém tanto eles quanto nós temos alguns dos mesmos desejos e compreendemos algumas das mesmas coisas. Os desejos de comida e água, abrigo e companhia, liberdade de movimento e prevenção de dor. Esses desejos são compartilhados por animais não humanos e seres humanos.
Quanto à compreensão, assim como os humanos, muitos animais não humanos entendem o mundo onde vivem e se movem. De outra forma, não poderiam sobreviver. Assim, em meio a tantas diferenças, há semelhanças. Como nós, esses animais incorporam o mistério e a maravilha da consciência. Como nós, eles não apenas estão no mundo, mas têm consciência dele. Como nós, eles são os centros psicológicos de uma vida que é unicamente deles. Nesse aspecto fundamental, os humanos estão em termos iguais com os porcos, vacas, galinhas e perus. O que devemos a esses animais, como moralmente devemos tratá-los, são questões cujas respostas começam com o reconhecimento de nosso parentesco psicológico com eles."
O texto acima é a introdução de Terráqueos (Earthlings, 2005), documentário indispensável narrado por Joaquin Phoenix e com trilha sonora de Moby. Veja o filme na íntegra e legendado aqui.
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