Adestrador ensina no programa É de Casa a educar cães que atacam outros cães - e nós fazemos aqui uma importante ressalva



Por Paulo Furstenau*


O programa É de Casa, da TV Globo, do último sábado (19/8/2017), recebeu o adestrador Alexandre Rossi para ensinar tutores a educar cães que atacam outros cães. A apresentadora e repórter Ana Furtado levou ao estúdio o Duque, que tem problemas com outros machos em seus passeios pela rua, e Gorki, seu vizinho e principal desafeto. 

A tutora de Duque, Vera, contou que já caiu na rua algumas vezes e até mesmo quebrou os dedos, tamanha a força com que o cachorro a derrubou. Rossi comentou que esse é um dos motivos de abandono de cães: pessoas que, em vez de aprenderem a lidar com o bicho, simplesmente desistem dele. Segundo Vera, toda vez que ela cai, tem esse pensamento, mas é só "na hora da raiva".

Aqui fazemos nossa primeira observação: nenhum tipo de comportamento indesejado do animal justifica o abandono. Seja um brigão na rua, seja um destruidor de sofá, a atitude do tutor deve ser sempre de educar o bicho, NUNCA abandoná-lo. Mesmo porque, na maioria das vezes, a culpa da falta de educação do animal é do próprio tutor, por diversas razões, que vão desde não saber dizer não até gritar ou bater no bicho, achando que isso irá ensiná-lo algo.

Outro exemplo de mau comportamento, mas do tutor, é justamente o caso de Vera em relação ao Duque: ele não é castrado. Essa deve ser a primeira atitude de qualquer tutor responsável, por diversos motivos, inclusive de saúde, como diminuição do risco de doenças como câncer. E, no caso de Duque, certamente reduziria sua competitividade com outros cães, possivelmente até mesmo cessaria. Outro comportamento indesejado - e constante motivo de queixa de tutores - corrigido pela castração é a demarcação territorial com urina, inclusive dentro de casa. (Saiba mais sobre castração aqui. Em nosso Centro Cirúrgico, realizamos esse procedimento a preços solidários.)

Alexandre Rossi chegou a mencionar o papel da castração na redução da agressividade de cachorros com outros machos, porém, não se aprofundou no assunto, afinal a pauta do programa não era essa. O adestrador deu dicas à tutora sobre como educar seu cão por meio de reforço positivo: "Recompensa e carinho ajudam a melhorar comportamento de cães agressivos". Mas, ainda assim e mais uma vez, nós frisamos: em primeiro lugar, a castração! 

Veja aqui o programa na íntegra. 

Destacamos também que todo processo de socialização de um animal deve seguir as três máximas:

1. Cada animal tem sua personalidade e características próprias; 

2. A relação entre animal e tutor deve ser integradora, prazerosa e respeitosa; 

3. As características e individualidade do animal devem ser respeitadas.

Portanto qualquer atividade voltada para educação do comportamento animal deve associar essa ação a sentimentos positivos e prazerosos e deve ser um momento de integração e lazer, atrelado a comportamentos positivos. Qualquer proposta que ultrapasse a linha divisória entre a tolerância do animal e sua aceitação do trabalho de socialização deve ser questionada, sendo o melhor termômetro a leitura do próprio comportamento do animal, que dará as pistas necessárias de quando parar ou prosseguir com o trabalho de socialização. O respeito deve ser o princípio sempre.


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

Foto: É de Casa / Gshow / Reprodução

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