Apesar da medida adotada pelo presidente Donald Trump, empresas continuarão
a reduzir as emissões de gases tóxicos (Foto: Pixabay / Juegernpm)
a reduzir as emissões de gases tóxicos (Foto: Pixabay / Juegernpm)
Há 25 anos, a cidade do Rio de Janeiro era palco de um dos mais importantes encontros da história para discutir o futuro do planeta. Com a presença de mais de 100 chefes de Estado, que se reuniram entre os dias 3 e 14 de junho no centro de convenções Riocentro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento colocou o desenvolvimento econômico sustentável como a principal prioridade para o futuro das nações.
Após o fim da União Soviética, no final de 1991, baixavam as tensões do período da Guerra Fria e o temor de um possível conflito mundial. Ao subir na tribuna de discursos, o então presidente cubano Fidel Castro indicava os caminhos para o futuro sem a ameaça da devastação da guerra nuclear. "Quando já não há pretextos para guerras frias, corridas armamentistas e gastos militares, o que impede dedicar de imediato esses recursos na promoção do desenvolvimento do Terceiro Mundo e combater a ameaça de destruição ecológica do planeta? Amanhã, será tarde demais para fazer aquilo que deveríamos ter feito há muito tempo", disse um dos últimos líderes socialistas do planeta durante a Conferência, que ficou mais conhecida como Eco-92
O clima de concórdia e otimismo em relação ao futuro mundial, no entanto, esbarrou nos interesses de um dos principais atores do encontro: George Bush, então presidente dos Estados Unidos, se mostrou um dos maiores opositores às medidas adotadas durante a convenção. Os norte-americanos não assinaram a Convenção sobre a Biodiversidade, que pretendia proteger espécies ameaçadas, e rejeitou a proposta de destinar 0,7% do PIB para projetos ambientais. "Acredito que, em biodiversidade, é importante proteger nossos direitos, nossos direitos nos negócios", disse Bush, pai de George W. Bush, que governaria os Estados Unidos de 2001 a 2008.
Após um quarto de século, a história parece se repetir. Membro do Partido Republicano como George Bush, o presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos sairão do Acordo de Paris - aprovado em dezembro de 2015, 175 países assinaram o documento, que tem força de lei internacional e prevê determinações obrigatórias e recomendações às nações signatárias. Com a mesma justificativa de proteger os interesses norte-americanos, Trump afirmou que o tratado prejudicaria a economia dos Estados Unidos e seria responsável por retirar empregos, já que seriam necessárias mudanças em relação ao desenvolvimento produtivo do país.
Estabelecendo o objetivo de desacelerar o aquecimento global a partir de investimentos em energias limpas e na redução de emissões de poluentes, o Acordo de Paris é considerado por especialistas como a iniciativa mais completa para lutar contra as mudanças climáticas - o tratado entrará em vigor a partir de 4 de novembro de 2019. Assim como na Eco-92, no entanto, a decisão dos Estados Unidos poderá frustrar os objetivos globais de proteção ao meio ambiente.
Em sua campanha presidencial, Trump afirmou que não acreditava no aquecimento global
(Foto: Wiki Commons)
(Foto: Wiki Commons)
A decisão de Trump já era esperada pela comunidade internacional. Após afirmar que não acreditava no aquecimento global, o presidente nomeou o político republicano Scott Pruitt, crítico declarado de políticas ambientalistas, justamente para liderar a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos. No início de janeiro de 2017, informações sobre o aquecimento global foram retiradas do site da Casa Branca e, na mesma época, um comunicado enviado a agências federais afirmava que os cientistas não deveriam divulgar informações sem autorização de seus superiores.
No entanto, a guerra de Trump contra as iniciativas em defesa do meio ambiente não deverão barrar os esforços de diferentes nações do planeta. Apesar de a participação dos Estados Unidos ser decisiva para o sucesso de qualquer acordo global, especialistas indicam quais serão os possíveis cenários para o mundo após a decisão norte-americana de sair do Acordo de Paris.
Mudanças geopolíticas: França e China ganham protagonismo
Após o final da Eco-92, analistas afirmavam que o Japão ganharia papel de destaque na liderança global ao contrariar os Estados Unidos e apoiar os tratados sobre preservação da biodiversidade. Após 25 anos, a bola da vez é a China: com a política de "isolamento" proposta pelo presidente Donald Trump, o país asiático conquista posições para reunir diferentes países em torno de uma agenda de desenvolvimento econômico e social.
Em maio deste ano, o governo chinês anunciou seu "projeto do século", com a criação de um fundo que investirá em infraestrutura na Ásia, Europa e África - a iniciativa foi batizada como Nova Rota da Seda, em referência aos mercadores europeus e africanos que se dirigiam até a China no passado em busca do valioso tecido.
O fato de um país liderado por um Partido Comunista protagonizar o desenvolvimento econômico do mundo capitalista não é o único fator surpreendente: conhecida por suas cidades industriais cobertas pelo ar poluído, a China também é uma das líderes em investimentos em energias renováveis. O país asiático é um dos maiores produtores mundiais de energia eólica e solar, além de afirmar em seu Plano Quinquenal que o desenvolvimento de carros movidos a energias limpas é um dos principais objetivos para os próximos anos.
Enquanto a China busca a liderança global, a França deseja abrigar cérebros norte-americanos: o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou cientistas e ambientalistas dos Estados Unidos a realizarem suas pesquisas no país europeu. Em comunicado, Macron criticou a decisão de Donald Trump e, em ironia às declarações de "tornar a América grande outra vez", afirmou que seria necessário "tornar nosso planeta grande outra vez".
O dragão chinês aumentará ainda mais sua influência mundial? (Foto: Pixabay / Jandyrda)
Empresas, cientistas e políticos norte-americanos lutarão contra Trump
Em 22 de abril, data que comemora o Dia da Terra, cientistas norte-americanos marcharam em diferentes cidades em protesto às políticas adotadas por Trump. "Não estamos falando apenas por nós, pois a ciência é para todos. Se não pudermos monitorar o ar limpo e a água limpa, não serão só os cientistas que sofrerão por isso, mas todas as pessoas que dependem do nosso trabalho e confiam em nós", afirmou a pesquisadora em mudanças climáticas na Universidade do Maine e uma das organizadoras do movimento de cientistas, Jacquelyn Gill.
E não foram apenas os cientistas que se mobilizaram contra o presidente norte-americano. Pode parecer estranho, mas uma das maiores empresas petrolíferas do mundo também não apoiou a decisão em sair do Acordo de Paris. Em votação realizada entre os maiores acionistas da Exxon Mobil Corp, venceu a posição de que a empresa deveria compartilhar mais informações a respeito do desenvolvimento de novas tecnologias e divulgar estudos sobre como as mudanças climáticas afetarão os negócios da empresa. Outras empresas de energia e de combustíveis fósseis também seguiram os passos da Exxon e se posicionaram a favor do desenvolvimento ambiental sustentável para o planeta.
Logo após a declaração de Trump, um grupo de três governadores norte-americanos, 30 prefeitos e mais de 80 reitores de universidades estão negociando com as Nações Unidas a proposta de continuarem a cumprir as regras do Acordo de Paris. Ex-prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg é um dos líderes da iniciativa, de acordo com informações do jornal The New York Times.
A decisão de Trump não afetará as iniciativas ambientais da maior parte dos países
A presença dos Estados Unidos no acordo climático é essencial não apenas pelo poder político da nação norte-americana. Afinal, como maior potência econômica do planeta, o país é responsável por cerca de um terço do total mundial de emissões de carbono - número absolutamente desproporcional ao se levar em conta que os norte-americanos correspondem a apenas 4% da população mundial.
Ainda assim, não é possível mais frear a disposição das demais nações em cumprir com os acordos para frear a utilização de combustíveis fósseis e buscar novas soluções energéticas para a produção e consumo de bens. Com o objetivo de limitar o aumento de temperatura em até 1,5ºC em relação às temperaturas registradas em períodos pré-industriais, o sucesso do Acordo de Paris dependerá da disposição dos países desenvolvidos em remodelar seu modelo produtivo, ao mesmo tempo que as nações em desenvolvimento, como o Brasil, terão de manter o crescimento em parâmetros mais sustentáveis.
Em setembro do ano passado, o governo brasileiro ratificou o documento com o compromisso oficial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, a partir dos parâmetros registrados em 2005. Para 2030, o Brasil deverá reduzir suas emissões em 43%. O tratado havia sido previamente assinado pela então presidente Dilma Rousseff em abril de 2016, em reunião que aconteceu em Nova Iorque - o documento foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Fonte: Revista Galileu
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