Caminhão de matadouro atravessa o Brasil com bois rumo à liberdade



A ação que ficou conhecida como Bois de Forquilhas cheg​ou ao fim n​a noite de 16 de fevereiro de 2017, quando as últimas carretas partiram da região de Biguaçu (SC) para, finalmente, distribuir a manada em lares definitivos. Passaram quase quatro meses desde 26​ de outubro de 2016, quando os bois foram encontrados em um terreno baldio sem pasto nem água, muito debilitados e grande parte sendo devorada ainda viva por urubus. Embora seja crime ambiental, a Delegacia do Meio Ambiente lavou as mãos, o que mobilizou um grupo de pessoas a decidirem pelo caso.

Ao todo, tratava-se de 60 bovinos que receberam a comoção de ativistas independentes que buscaram, através de uma liminar na Justiça, a guarda temporária desses animais até que o processo fosse julgado como procedente. Durante os três dias de resgate, somente 39​ animais​ foram efetivamente levados para a proteção dos ativistas; os demais não aguentaram e morreram na região, o bairro Forquilhas, na cidade de​ São José (SC). Sete deles não aguentaram as terríveis condições e vieram a óbito, mas, para a alegria de todos, havia vacas prenhas que deram à luz três​ novos bezerros que já nasceram de ventre livre, totalizando a manada dos​ ​​35 ​bois de Forquilhas, os primeiros animais a cruzarem o Brasil num caminhão de matadouro com símbolos da liberdade.

Com respaldo da Comissão dos Direitos dos Animais de São José mais as contribuições recolhidas através de campanhas de arrecadação, os bois de Forquilhas foram tratados por 1​10 dias num lar temporário e receberam suplementação e tratamento veterinário, a fim de se reabilitarem enquanto aguardavam decisão judicial​, para, só então, poderem partir para sítios vegetarianos e santuários - estes foram entrevistados pelo Instituto É o Bicho, passando por estrita análise​: infraestrutura do local, coeficiente geográfico (se os terrenos eram planos ou acidentados), qualidade do pasto, condição financeira dos adotantes e histórico de convivência com animais de grande porte.

O caso recebeu ampla repercussão nas redes sociais e em muitos portais da imprensa porque, curiosamente, imagina-se que ninguém abandonaria bois saudáveis à própria sorte. O episódio só evidencia o fato de que a indústria pecuária já não é mais tão lucrativa assim. Trata-se de um caso emblemático também para a causa animal e o veganismo, já que uma boiada inteira está sendo liberta com aval da Justiça.


“Conseguimos configurar, pela primeira vez, maus-tratos aos animais de matadouro, o que é muito difícil, já que eles estão expostos pacificamente a todo tipo de exploração pela indústria alimentícia, vestuário e entretenimento”, diz a advogada do caso e presidente da Comissão dos Direitos dos Animais da OAB de São José/SC, Bárbara Hartmann Cardoso. Segundo ela, além dos problemas burocráticos, de campo e todas as tomadas de decisões envolvidas entre ativistas e a Promotoria, houve toda a chaga que os ativistas sofreram durante o período da operação, como calúnias, difamações e escárnio. Os membros da equipe tiveram conhecimento até mesmo de um grupo no WhatsApp criado para denegrir a imagem dos ativistas - este já está sendo monitorado como crime cibernético e todas as informações colhidas a fim de se estruturar um processo em defesa da honra dos envolvidos.

Os bovinos demoraram um mês a mais do que o esperado para partir, já que, recentemente, a equipe teve problemas burocráticos para liberar os animais para os santuários, oriundos da retirada do GTA (guia de transporte animal), visto que animais de grande porte precisam estar com todas as vacinas e documentação em dia para trafegar em viagens interestaduais. A boa notícia é que isso já foi resolvido: a decisão judicial foi favorável e os ativistas conseguiram a guarda definitiva dos animais no início de fevereiro e, até o fechamento desta matéria, eles estão chegando ao seu destino: sítios vegetarianos, alguns dentro do estado de Santa Catarina e outros distribuídos nas cidades de Peruíbe e Mairiporã, em São Paulo.

Judicialmente, o caso está encerrado: um dossiê com diversas páginas relatando todo o histórico da operação, bem como a prestação de contas através de uma planilha de gastos, cópias de todos os recibos, fotos, vídeos e laudos do Cidasc (órgão respectivo ao Ministério da Pecuária de Santa Catarina) foram entregues ​oficialmente, ​em 16 de janeiro de 2017, ao Ministério Público, juntamente com o doutor promotor Raul de Araújo Santos Neto e autorizado pela Justiça.

Desde o começo, os ativistas deixaram claro que a operação Bois de Forquilhas era muito mais do que apenas resgate, possuindo também a incumbência de conscientização, através de vídeos e postagens que fizessem com que as pessoas pudessem conviver com os animais de abate e conhecer a doçura de cada comportamento, percebendo assim a senciência, inteligência e amorosidade dos animais de matadouro.

E para finalizar com chave de ouro, uma carreta com mais 23 bois partiu em 15 de fevereiro, numa ação de guerrilha impressionante, com uma faixa que levava os dizeres “Carga viva rumo à liberdade – porque lugar de bois não é no matadouro”. 

Assista à campanha final e emocione-se.



Fonte: Olhar Animal

Fotos: Divulgação


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

1. Atualização em 16 de março de 2017: entramos em contato com os ativistas da ação e eles nos contaram que os animais foram entregues não em duplas como havia sido planejado no início, mas muito melhor: as adoções aconteceram em bando. Os documentos oficiais de adoção, guarda definitiva e proteção integral até o fim de suas vidas emitidos pela Comissão dos Direitos dos Animais da OAB e a Promotoria estão na página do Facebook Bois de Forquilhas - São José. Os locais onde hoje eles vivem são bem protegidos para a segurança dos animais. Estão todos bem e felizes!

2. Animais não são alimento, nenhum deles. Eles não são comida nem escravos dos humanos. Sentem como todos nós e por isso merecem a vida e a liberdade. A alimentação vegetariana estrita, sem carne de qualquer tipo ou derivados (laticínios, ovos, mel), já está provada como sendo a mais saudável para os humanos. Quem opta pelo veganismo (que engloba não somente a dieta vegetariana estrita, como também o não uso de roupas e acessórios de couro, lã, pele e seda, assim como o boicote a "atrações" que exploram os animais, como zoológicos, circos e aquários, e a empresas que fazem testes em animais) está fazendo um bem pelos animais e para sua própria saúde e vida. E não é difícil nem caro. Quer uma ajuda para começar a parar de comer carne? O primeiro passo é a informação. Aprenda com quem já vive esse estilo de vida: pergunte, pesquise. Use as redes sociais para expandir seu conhecimento sobre vários assuntos, inclusive esse, que é vital para você e um imensurável número de vidas inocentes. Há diversos grupos sobre o tema no Facebook. Listamos abaixo alguns deles:

VegAjuda - Veganismo disponibiliza um tópico fixo com uma lista de produtos (não só para alimentação) livres de crueldade animal e oferece sempre diversas dicas para iniciantes e "veteranos";

Veganismo é um dos maiores grupos sobre o tema no Facebook, com quase 50 mil membros sempre compartilhando experiências e tirando dúvidas;

Veganismo Popular e Veganos Pobres Brasil desmitificam a ideia de que veganismo é caro. É perfeitamente viável seguir uma alimentação diária sem crueldade animal e sem maltratar o bolso;

Musculação Vegana é voltado para os praticantes de atividades físicas. Nele, você pode ver como é preconceituosa e errada a ideia que algumas pessoas tentam propagar, de que vegetarianos estritos são fracos fisicamente (muito pelo contrário, são mais fortes e saudáveis). O grupo oferece diversas dicas de alimentação e suplementação vegana.

Existem diversos sites e blogues com deliciosas receitas veganas (além dos tradicionais livros de receitas), simples e baratas de fazer. Clique aqui para conhecer uma lista deles!

Já a Revista dos Vegetarianos é uma publicação mensal (impressa e on-line) com excelente conteúdo que vai bem além de receitas, focando a saúde como um todo. 

Mapa Vegano lista diversos estabelecimentos em todo o Brasil, abrangendo produtos e serviços de alimentos e bebidas, higiene e beleza, roupas e acessórios, ONGs e outros. 

Informe-se sempre! Aqui mesmo em nosso blogue, publicamos diariamente matérias sobre veganismo x indústria da carne (e do leite, ovos etc.). Leia também em outras fontes, converse com outros veganos e vegetarianos (mesmo que você não conheça pessoalmente, como nos grupos indicados acima) e veja de que lado é o certo ficar. Mas já saiba desde o começo que abraçar o veganismo é uma mudança e tanto, que fará um imenso bem para você, para os animais e para o planeta.

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