Um dia na vida de um pintinho

    Foto: Public Domain Pictures


Para aqueles pintinhos que não são moídos vivos ou atirados em contêineres de lixo logo após o nascimento, resta encarar um pesadelo de dois anos, marcado por confinamento intensivo, doenças e mutilação, que começa com o processo de debicagem - veja abaixo o vídeo de uma empresa que produz esses equipamentos (essa é sua propaganda) e conheça esse método cruel empregado pela indústria de ovos.



Da incubadora até a gaiola

Pintinhos machos são jogados no lixo (Foto: Animal Equality)


Nas incubadoras que fornecem galinhas poedeiras para fazendas de ovos comerciais, proprietários de chácaras ou criadores domésticos, pintinhos machos são brutalmente moídos vivos, postos em câmaras de gás, eletrocutados ou sufocados em sacos de lixo, simplesmente porque não são da mesma raça daqueles que são vendidos para a indústria de carnes, e porque são inúteis para a indústria de ovos. Já as fêmeas são debicadas com apenas alguns dias de vida, a fim de minimizar os danos causados pelo ato de bicar umas às outras, sendo esse um comportamento compulsivo gerado pelo estresse associado ao confinamento severo. 

Mais de 95% das galinhas nos EUA vêm de "baterias de gaiolas", nas quais uma galinha é confinada com outras cinco a 11 em um espaço equivalente a uma gaveta de arquivo. Cada galinha passa seus 18 a 24 meses de vida com menos do que uma folha de papel A4 de espaço individual, incapaz até mesmo de se virar ou abrir as asas. Nessas condições enlouquecedoras, as aves estressadas e angustiadas bicam implacavelmente umas às outras, e galinhas famintas ou mal nutridas irão, inclusive, ingerir as penas de suas companheiras na tentativa de conseguir nutrientes.

O que é a debicagem

"A parte de cima deve ser cortada entre 1/3 a 2/3 nas galinhas poedeiras e 1/3 no caso de galinhas de corte, enquanto a parte de baixo deve ser cortada de 1/4 a 1/3 nas galinhas poedeiras"
(Manual Prático para Criação de Aves – Peace Corps M11)


A máquina de debicagem mostrada acima é exatamente a mesma utilizada em fazendas nos EUA. Como o vídeo foi produzido para uma propaganda pela companhia que vende a máquina, ele fornece uma boa ideia do que de fato acontece com as galinhas durante o processo de debicagem. Também conhecida eufemisticamente como "apara de bico", é um procedimento doloroso no qual 1/3 a 2/3 do bico sensível de cada galinha é cortado com uma lâmina flamejante, sem nenhum anestésico. Trata-se de procedimento padrão em fazendas de ovos de todo o mundo, incluindo aquelas que recebem os selos de "criado solto", "livre de gaiola" ou quaisquer outros rótulos "felizes" (ou bem-estaristas).

Apesar de produtores frequentemente caracterizarem a prática de debicagem como sendo inofensiva, comparando-a com corte de unhas, os bicos das galinhas não são de modo algum como unhas humanas. Na verdade, eles funcionam como as digitais dos nossos dedos – repletos de vasos sanguíneos, receptores de dor, e nervos sensoriais que facilitam a detecção de comida no meio ambiente. Em um estudo intitulado O Órgão Sensorial das Galinhas, pesquisadores descobriram que a ponta do bico de uma galinha contém mais receptores sensoriais do que qualquer outra área do bico, com uma alta concentração de terminações nervosas e estruturas táteis especializadas.

      Foto: Free from Harm


Segundo a pesquisa, "o grande número de mecanorreceptores sugere que, assim como várias outras aves, as galinhas desenvolveram essas estruturas especializadas na ponta do bico para fornecer a discriminação tátil fina que as torna capazes de realizar inúmeras tarefas orais complexas. A amputação parcial, por menor que seja, leva a uma perda considerável de inputs sensoriais, resultando em dificuldades para se alimentar nas aves submetidas a esse procedimento. Nós fornecemos evidências de que tanto dor aguda quanto crônica ocorrem após a apara de bico".

De fato, a debicagem é tão dolorosa para as galinhas que algumas delas morrem de choque no local. Outras morrem de desnutrição e desidratação porque usar seus bicos passa a ser tão excruciante e suas mutilações são tão desfigurantes que elas não podem mais segurar e engolir apropriadamente o alimento.


Desvendando os enganosos selos "humanitários"

Lucinda, uma galinha resgatada pela Free from Harm, teve o bico deformado pelo
processo de debicagem (Foto: Melissa Summer Pena)


A galinha Lucinda, resgatada pela organização Free from Harm, tem uma séria deformidade resultante da debicagem, ou "amputação parcial". O veterinário que a recebeu disse que ela estava à beira de morrer de fome. O que muitas pessoas não percebem é que ovos de aves mutiladas como a Lucinda (ou às vezes ainda pior) são regularmente vendidos sob os denominados selos "criado solto" ou "livre de gaiola". Como esses selos "humanitários" não são significativamente definidos ou fiscalizados, fornecedores de ovos manipulam brechas intencionais em padrões de certificações de "bem-estar" animal. Em um relatório, mesmo o fornecedor "livre de gaiola" Trader Joe foi flagrado debicando suas aves, o que mostra que elas continuam sendo criadas em condições estressantes e confinamento severo.

É importante perceber que rótulos "humanitários" são na verdade uma jogada de marketing que atacam a disposição dos consumidores a pagar mais por um tratamento supostamente melhor dos animais. Na realidade, a minúscula porcentagem de ovos que não vem de baterias de gaiolas acaba vindo de galinhas que passaram suas vidas espremidas com milhares de outras aves, em galpões sem janelas, permanecendo em camadas tão grossas de seus próprios dejetos e excrementos que os trabalhadores que entram nesses galpões têm de usar máscaras por conta da atmosfera pungente e asfixiante de amônia.

Sob rótulos de "bem-estar" enganosos, operações de confinamento como essa servem para
vender ovos como "livre de gaiola" (Foto: Sally Ryan, New York Times)


As aves, é claro, não desfrutam desse tipo de proteção, e sofrem severas queimaduras na pele e nos olhos, bem como desordens respiratórias debilitantes. Elas também, assim como suas contrapartes engaioladas, bicam umas às outras em frustração e desespero, fazendo com que a maioria das galinhas rotuladas como "criadas soltas" ou "livres de gaiolas" também sejam dolorosamente debicadas. De fato, todos esses rótulos "humanitários" permitem a debicagem:

Certified Organic
Certified Humane
American Humane Certified
Process Verified
Free-Roaming
Food Alliance Certified
United Egg Producers Certified

    Pintinhos jogados em máquina de moagem 


O que nós podemos fazer?

Você pode ajudar a acabar com essa crueldade eliminando os ovos da sua dieta. Não, criações domésticas e pequenos produtores não são a resposta. Sempre vale a pena reiterar: as mesmas empresas que abastecem fazendas industriais também fornecem a pequenos produtores e criadores domésticos. Só nos EUA, essas empresas de incubadoras matam brutalmente cerca de 250 milhões de pintinhos machos a cada ano. Mas mesmo supondo que alguém possa contornar essa cadeia de sofrimento, é importante considerar que o consumo de ovos, assim como o consumo de laticínios, perpetua a ideia de que é moralmente aceitável usar animais e explorar seus sistemas reprodutivos. O consumo de ovos (e laticínios) envia uma poderosa mensagem: é normal controlar e comercializar corpos femininos e seus sistemas reprodutivos, e legitima a prática de trazer ao mundo, através de inseminação, seres sencientes como sendo propriedades, para explorá-los por carne e secreções que nós não temos necessidade biológica nenhuma de consumir.




NOTAS DA NATUREZA EM FORMA: 

1. Leia também:




2. Animais não são alimento, nenhum deles. Eles não são comida nem escravos dos humanos. Sentem como todos nós e por isso merecem a vida e a liberdade. A alimentação vegetariana estrita, sem carne de qualquer tipo ou derivados (laticínios, ovos, mel), já está provada como sendo a mais saudável para os humanos. Quem opta pelo veganismo (que engloba não somente a dieta vegetariana estrita, como também o não uso de roupas e acessórios de couro, lã, pele e seda, assim como o boicote a "atrações" que exploram os animais, como zoológicos, circos e aquários, e a empresas que fazem testes em animais) está fazendo um bem pelos animais e para sua própria saúde e vida. E não é difícil nem caro. Quer uma ajuda para começar a parar de comer carne? O primeiro passo é a informação. Aprenda com quem já vive esse estilo de vida: pergunte, pesquise. Use as redes sociais para expandir seu conhecimento sobre vários assuntos, inclusive esse, que é vital para você e um imensurável número de vidas inocentes. Há diversos grupos sobre o tema no Facebook. Listamos abaixo alguns deles:

VegAjuda - Veganismo disponibiliza um tópico fixo com uma lista de produtos (não só para alimentação) livres de crueldade animal e oferece sempre diversas dicas para iniciantes e "veteranos";

Veganismo é um dos maiores grupos sobre o tema no Facebook, com quase 50 mil membros sempre compartilhando experiências e tirando dúvidas;

Veganismo Popular e Veganos Pobres Brasil desmitificam a ideia de que veganismo é caro. É perfeitamente viável seguir uma alimentação diária sem crueldade animal e sem maltratar o bolso;

Musculação Vegana é voltado para os praticantes de atividades físicas. Nele, você pode ver como é preconceituosa e errada a ideia que algumas pessoas tentam propagar, de que vegetarianos estritos são fracos fisicamente (muito pelo contrário, são mais fortes e saudáveis). O grupo oferece diversas dicas de alimentação e suplementação vegana.

Existem diversos sites e blogues com deliciosas receitas veganas (além dos tradicionais livros de receitas), simples e baratas de fazer. Clique aqui para conhecer uma lista deles!

Já a Revista dos Vegetarianos é uma publicação mensal (impressa e on-line) com excelente conteúdo que vai bem além de receitas, focando a saúde como um todo.

Mapa Vegano lista diversos estabelecimentos em todo o Brasil, abrangendo produtos e serviços de alimentos e bebidas, higiene e beleza, roupas e acessórios, ONGs e outros. 

Informe-se sempre! Aqui mesmo em nosso blogue, publicamos diariamente matérias sobre veganismo x indústria da carne (e do leite, ovos etc.). Leia também em outras fontes, converse com outros veganos e vegetarianos (mesmo que você não conheça pessoalmente, como nos grupos indicados acima) e veja de que lado é o certo ficar. Mas já saiba desde o começo que abraçar o veganismo é uma mudança e tanto, que fará um imenso bem para você, para os animais e para o planeta.

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