Os órfãos esquecidos


A maioria das pessoas pensa que as vacas dão leite constantemente - e que isso não lhes afeta a qualidade de vida nem lhes tira a dignidade. A maioria pensa que o leite que compra embalado no supermercado provém de animais criados ao ar livre e imensamente felizes, que morrem no conforto, em avançada idade.

Essa ilusão perpetua a exploração, a mutilação, o estupro e a morte de milhões de vidas anualmente. A realidade está inundada nas trevas e esconde feridas hediondas, gritos desesperados e uma rotina tortuosa - tudo isso para o humano continuar a ser o único animal a consumir leite de outra espécie.

A inseminação

Conforme dito acima, tornou-se comum deduzir que as vacas produzam sempre leite. Todavia, assim como qualquer mamífero, as vacas só produzem leite para alimentar seus rebentos, então os produtores têm de se assegurar de que elas fiquem prenhas para mantê-las nesse círculo vicioso. Para que esse círculo não seja interrompido, os animais são inseminados artificialmente.

Mastites 

Devido à ordenha constante pelas máquinas e por consumirem rações modificadas precisamente para que produzam mais leite do que o normal, as vacas sofrem bastante com doenças que envolvem inflamações e inchaços dolorosos.


O nascimento e a separação

Quando dão à luz, as vacas têm suas crias retiradas imediatamente para que estas não bebam o precioso leite. A mãe, geralmente, revela claramente sua angústia, chamando e mugindo durante dias a fio, após ter-lhe sido retirada a cria: essa experiência é tão dolorosa para a mãe quanto para o filho. As lágrimas da mãe são acompanhadas, a distância, pelo bezerro, que pode atingir o choro durante 20 dias.

Uma vida curta - uma longa tortura

Algumas fêmeas são criadas com substitutos de leite, tornando-se também elas vacas leiteiras quando atingem a maturidade, o que ocorre aos dois anos de idade.

Ainda bebês, têm seus chifres brutalmente impedidos de crescer: os produtores passam uma espécie de pasta cáustica que resulta num sofrimento atroz para os animais, já que os chifres têm milhares de terminações nervosas; no final, um ferro quente na área massacrada. Outras crias são vendidas, com uma a duas semanas, para serem criadas com o objetivo de produzir carne nas unidades de engorda e em cercados. Outras são igualmente vendidas para serem submetidas à dieta de leite que lhes é fornecida para que fiquem anêmicas.

Os órfãos de leite

Os dois objetivos da produção de vitela de leite são:

1. Produzir um animal com o maior peso no menor espaço de tempo possível;

2. Manter a carne tão clara quanto concebível para a exigência do consumidor ser satisfeita.

Os bezerros são deixados em compartimentos bastante estreitos com pavimentos laminados, o que lhes causa um desconforto inimaginável. Quanto maiores ficam, mais dificilmente se movem e conseguem somente se levantar e deitar com incalculável esforço. 

Como os vitelos crescem muito depressa e produzem bastante calor, a pelagem tende a cair às 10 semanas de idade: nessa altura, eles têm imensa necessidade de se lamberem. Como isso lhes é negado, eles acabam expostos a infestações parasitárias externas, facilitadas pelo ambiente úmido e tépido.

Um pavimento laminado sem qualquer cama é duro e desconfortável, maltratando os joelhos dos animais quando estes se levantam e deitam. Além disso, os animais com cascos não ficam seguros num pavimento desse tipo - algo similar a uma grade para gado, que o os animais evitam sempre que podem. A diferença aqui é o fato de as lâminas estarem mais próximas umas das outras.

Esses vitelos sentem imensa falta das mães, o que conduz à falta de algo para sugar. Como a alimentação através de tetas artificiais não justifica o trabalho que o produtor tem em limpá-las e esterilizá-las, logo no primeiro dia de reclusão os animais bebem de um balde de plástico. Tentativas de sugar qualquer parte do compartimento são, assim, bastante comuns.

Assim como o bezerro desenvolve a vontade de sugar, mais tarde desenvolve a necessidade de ruminar, ou seja, ingerir forragem e mastigar o bolo alimentar vindo do rúmen. Todavia a forragem é estritamente proibida em sua alimentação por conter ferro e escurecer a carne: o vitelo, desse modo, experimenta viciosamente mastigar as paredes do compartimento, daí as perturbações digestivas tão habituais neles.

A não ingestão de forragem torna os vitelos anêmicos. O tom rosa pálido da carne é, na verdade, sinônimo de carne anêmica. A anemia é controlada, já que sem nenhum ferro os animais simplesmente morreriam. Com uma alimentação normal em termos de quantidade de ferro, a carne não seria tão cara: assim, procura-se um equilíbrio que mantenha a carne clara e os animais vivos durante o tempo necessário para que atinjam o peso do mercado.

Mantidos forçadamente nessa condição hostil que lhes torna carentes de ferro, os vitelos desenvolvem um desejo enorme por esse elemento e lambem qualquer acessório em ferro que exista nos compartimentos (o que explica o porquê de os compartimentos serem feitos de madeira).

O desejo insaciável por ferro é a razão primordial que leva o produtor a impedir, a todo custo, que o animal se mova livremente. Embora os vitelos procurem evitar se aproximar de sua própria urina e excrementos, a urina contém algum ferro: o desejo de ferro é suficientemente forte para se sobrepor à repulsa natural, o que levaria os animais a lamberem as tábuas saturadas de urina. Tal visão não agrada ao produtor, uma vez que, assim, os animais teriam acesso a uma pequena fonte do ferro proibido.

O fim da linha

Em várias fazendas investigadas, as vacas leiteiras vivem até os cinco anos de idade. Cinco anos de dor, exploração e agonia para os estigmas que receberam serem compensados com o abate e venda de sua carne (a expectativa de vida normal de uma vaca é de 30 anos).

Será esse preço o verdadeiro valor de uma vida?

Não financie esse sofrimento atroz. Substitua o leite de vaca pelo leite de soja, arroz, amêndoa, coco, entre outras opções vegetais: além de ser uma alternativa mais saudável, estão livres de tamanha crueldade*.




Fotos: EligeVeganismo


*NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Saiba aqui como fazer esses leites vegetais em casa. São baratos e fáceis de fazer, e seus resíduos (o que resta após coar) podem ser aproveitados para deliciosas opções salgadas (inclusive queijos vegetais) ou doces. E confira aqui diversas receitas de queijos sem crueldade. 

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