Animais com necessidades especiais enfrentam dificuldades para achar um lar


A sala de estar da farmacêutica Andreia Zorzi, 38 anos, recebe os visitantes com um cachorro de cerâmica que segura uma placa de bem-vindos, mostrando o amor que ela tem pelos bichos. Andreia e o marido criavam Tobias há seis anos, mas resolveram que era a hora de aumentar a família. “Uma amiga publicou nas redes sociais o anúncio de adoção de um filhote que só tinha três pernas. Na hora que o vi, sabia que poderia dar o carinho e o amor que ele precisava”, lembra. Mas, infelizmente, a atitude de Andreia ainda não é comum, e em abrigos, como o Flora e Fauna, fundado por Orcileni Arruda, animais com necessidades especiais enfrentam dificuldades para encontrar um lar.

“Muita gente chega às feiras com exigências, especificando como deve ser o bicho que vão levar para casa; pensando primeiro nas necessidades próprias, e não nas dos animais”, lamenta Orcileni. A decisão de adotar Willy, um cachorro sem raça definida (SRD) e com a perna traseira direita amputada é, para Andreia, uma das melhores que tomou. “Quando o busquei na feira de adoção, ele pulou no meu colo e eu sabia que era para a gente se encontrar. Ele é muito carinhoso comigo e sinto como se conversássemos”, conta Andreia. Por ser brincalhão e bagunceiro, o cachorro recebeu o apelido de saci-pererê.

Quem vê Willy correndo pela casa com uma bolinha na boca não imagina a luta que o cachorro enfrentou para sobreviver. Ele foi encontrado no Pedregal, na região do Entorno (DF), com cerca de 40 dias de vida. Apresentava uma fratura na perna traseira direita, que estava necrosada. “Tiveram de fazer várias cirurgias e amputar todo o membro. No abrigo, ele era chamado de ‘meio quilo’, porque era muito magro e pequeno. Ninguém acreditava que ele conseguiria sobreviver”, conta.

Hoje, o animal está saudável e feliz. Há cinco anos com a família Zorzi, nunca teve uma doença grave e se tornou a rocha de Andreia quando ela perdeu o primeiro filho. “Estava grávida e, após três meses de gestação, perdi o bebê. O Willy cuidou de mim. Sempre que me via deitada ou pelos cantos, me trazia um brinquedo para me divertir, fazia de tudo para não me ver triste”, aponta. Para a farmacêutica, é como se o cachorro quisesse demonstrar gratidão pela oportunidade que ganhou ao ser adotado. “Ele é especial para mim. Todos os dias ao lado do Willy são especiais”, garante.

Esperando um lar

Sete cachorros com algum tipo de deficiência esperam adoção no Flora e Fauna. Por trás de cada limitação, há uma história, que ainda aguarda um final feliz. “Muitos ficam aqui para sempre. São acolhidos e vivem toda a vida no abrigo, sem nunca ter a chance de um lar”, explica Orcileni. Aurora, uma cadela SRD, perdeu a perna esquerda após ser atropelada propositalmente. Hoje, curada, anda com três patas junto aos outros animais do abrigo, incluindo Mocinha, uma cadela independente que perdeu a perna dianteira direita e também aguarda uma família.


Foto: Marcelo Ferreira / CB / D.A Press

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