Porquinho-da-índia foi colocado por cinco segundos em um forno de micro-ondas ligado
(Fotos: Reprodução)
(Fotos: Reprodução)
Por Paulo Furstenau*
“Ela sempre gostou de animais”, disse o pai da adolescente Vitória Müller, de 16 anos, de Estância Velha (RS), que colocou um porquinho-da-índia vivo dentro de um micro-ondas ligado por cinco segundos, gravou e postou em seu Twitter na madrugada da última quinta-feira (27/4/2017).
Em primeiro lugar, quem REALMENTE gosta de animais não os coloca nem mortos e já devida e convenientemente sem rostos dentro de micro-ondas, fornos, panelas etc. para depois mandá-los para dentro de seus estômagos. Muitas dessas pessoas afirmam – e realmente acreditam nisso – que gostam de animais, quando, na verdade, gostam apenas de cachorros, gatos e outros animais domésticos. Mas esse nem é o caso dessa pessoa, que colocou seu animal de estimação, vivo, dentro de um micro-ondas ligado.
Entre seus seguidores no Twitter, houve quem, assim como ela, achasse graça na tortura do animal. Porém a infeliz postagem não tardou a ser compartilhada ali e também em outras redes sociais, junto com a hashtag #PuniçãoParaVitória.
“O que eu fiz não foi intencional”, afirmou ela após a repercussão, em seu Facebook, quando escreveu contando que suas contas no Twitter e Instagram haviam sido removidas, e fez um apelo para aqueles que baixaram o vídeo antes de ser excluído e o compartilhavam pedindo justiça: “Parem!”. Ela ainda chegou a alegar que a crueldade fora feita a mando de um amigo, que também a teria incitado a colocar o animal no freezer. Não demorou muito e seu perfil no Facebook também foi desativado, aparentemente por ela mesma.
Seu pai usou o Facebook para agradecer às pessoas por ter sido avisado da “atitude impensada” da filha e declarou que, como responsável, já havia tomado as devidas providências e pediu desculpas pelo ocorrido. Na manhã da quinta-feira, foi com Vitória à delegacia. Ela deve ser indiciada por maus-tratos como menor infratora e o caso será decidido pela Justiça, que também determinará com quem ficará o animal. O porquinho aparentemente está bem, mas não há como saber se a radiação a que foi exposto dentro do micro-ondas poderá lhe causar danos futuros.
“Ela está chorando muito e sem dormir”, declarou depois o pai, afirmando que a filha está arrependida. Segundo ele e a mãe de Vitória, ela foi deixada de castigo e ficou sem celular como punição. Não sabemos se o pai a levou à delegacia para fazer o que era certo ou se foi por medo das ameaças que ela e a família sofreram nas redes sociais. Mas o que dizer da “punição” familiar? Embora maus-tratos contra os animais seja crime no Brasil, a pena é vergonhosa: na teoria, é detenção de três meses a um ano, com aumento de um sexto a um terço se houver morte do animal, mais pagamento de multa, mas o que ocorre na prática é pagamento de multa, suspensão (o que significa ir ao Fórum a cada um ou dois meses para assinar o termo de suspensão) e prestação de serviço à comunidade. No caso atual, como a criminosa é menor de idade, responderá pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e provavelmente receberá apenas uma advertência. E, quando completar 18 anos, terá sua ficha zerada, nem mesmo antecedentes criminais ela terá. Ou seja, não acontecerá nada a ela, e uma lição adequada poderia vir de sua família, mas esta optou por lhe tirar o celular.
Direitos dos Animais e Teoria do Link
A Declaração dos Direitos dos Animais, feita em 1978 pela Unesco, já dizia que “a educação deve ensinar desde a infância a observar, compreender, respeitar e amar os animais” e que “o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante”. E a Teoria do Link foi elaborada a partir de estudos em psicologia, sociologia e criminologia que, nas últimas décadas, demonstraram que criminosos frequentemente têm históricos de maus-tratos aos animais durante a infância e adolescência. Desde a década de 1970, o FBI (Departamento Federal de Investigação norte-americano) tem reconhecido essa conexão, ao verificar que a maioria dos assassinos seriais havia torturado ou matado animais quando crianças. No Brasil, o capitão Marcelo Robis Francisco Nassaro, da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, escreveu o livro Maus-Tratos aos Animais e Violência contra as Pessoas, baseado na Teoria do Link. “Nassaro estudou registros criminais de pessoas autuadas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo por maus-tratos aos animais e observou que uma porcentagem significativa delas também apresentou outros registros por crimes violentos contra pessoas, indicando uma conexão entre esses delitos”, diz a sinopse do livro.
Em primeiro lugar, quem REALMENTE gosta de animais não os coloca nem mortos e já devida e convenientemente sem rostos dentro de micro-ondas, fornos, panelas etc. para depois mandá-los para dentro de seus estômagos. Muitas dessas pessoas afirmam – e realmente acreditam nisso – que gostam de animais, quando, na verdade, gostam apenas de cachorros, gatos e outros animais domésticos. Mas esse nem é o caso dessa pessoa, que colocou seu animal de estimação, vivo, dentro de um micro-ondas ligado.
Entre seus seguidores no Twitter, houve quem, assim como ela, achasse graça na tortura do animal. Porém a infeliz postagem não tardou a ser compartilhada ali e também em outras redes sociais, junto com a hashtag #PuniçãoParaVitória.
“O que eu fiz não foi intencional”, afirmou ela após a repercussão, em seu Facebook, quando escreveu contando que suas contas no Twitter e Instagram haviam sido removidas, e fez um apelo para aqueles que baixaram o vídeo antes de ser excluído e o compartilhavam pedindo justiça: “Parem!”. Ela ainda chegou a alegar que a crueldade fora feita a mando de um amigo, que também a teria incitado a colocar o animal no freezer. Não demorou muito e seu perfil no Facebook também foi desativado, aparentemente por ela mesma.
Seu pai usou o Facebook para agradecer às pessoas por ter sido avisado da “atitude impensada” da filha e declarou que, como responsável, já havia tomado as devidas providências e pediu desculpas pelo ocorrido. Na manhã da quinta-feira, foi com Vitória à delegacia. Ela deve ser indiciada por maus-tratos como menor infratora e o caso será decidido pela Justiça, que também determinará com quem ficará o animal. O porquinho aparentemente está bem, mas não há como saber se a radiação a que foi exposto dentro do micro-ondas poderá lhe causar danos futuros.
“Ela está chorando muito e sem dormir”, declarou depois o pai, afirmando que a filha está arrependida. Segundo ele e a mãe de Vitória, ela foi deixada de castigo e ficou sem celular como punição. Não sabemos se o pai a levou à delegacia para fazer o que era certo ou se foi por medo das ameaças que ela e a família sofreram nas redes sociais. Mas o que dizer da “punição” familiar? Embora maus-tratos contra os animais seja crime no Brasil, a pena é vergonhosa: na teoria, é detenção de três meses a um ano, com aumento de um sexto a um terço se houver morte do animal, mais pagamento de multa, mas o que ocorre na prática é pagamento de multa, suspensão (o que significa ir ao Fórum a cada um ou dois meses para assinar o termo de suspensão) e prestação de serviço à comunidade. No caso atual, como a criminosa é menor de idade, responderá pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e provavelmente receberá apenas uma advertência. E, quando completar 18 anos, terá sua ficha zerada, nem mesmo antecedentes criminais ela terá. Ou seja, não acontecerá nada a ela, e uma lição adequada poderia vir de sua família, mas esta optou por lhe tirar o celular.
Direitos dos Animais e Teoria do Link
A Declaração dos Direitos dos Animais, feita em 1978 pela Unesco, já dizia que “a educação deve ensinar desde a infância a observar, compreender, respeitar e amar os animais” e que “o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante”. E a Teoria do Link foi elaborada a partir de estudos em psicologia, sociologia e criminologia que, nas últimas décadas, demonstraram que criminosos frequentemente têm históricos de maus-tratos aos animais durante a infância e adolescência. Desde a década de 1970, o FBI (Departamento Federal de Investigação norte-americano) tem reconhecido essa conexão, ao verificar que a maioria dos assassinos seriais havia torturado ou matado animais quando crianças. No Brasil, o capitão Marcelo Robis Francisco Nassaro, da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, escreveu o livro Maus-Tratos aos Animais e Violência contra as Pessoas, baseado na Teoria do Link. “Nassaro estudou registros criminais de pessoas autuadas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo por maus-tratos aos animais e observou que uma porcentagem significativa delas também apresentou outros registros por crimes violentos contra pessoas, indicando uma conexão entre esses delitos”, diz a sinopse do livro.
Assim sendo, os pais de Vitória Müller, em vez de confiscarem seu celular, deveriam colocá-la imediatamente sob cuidados psiquiátricos para conter seus impulsos homicidas. Ela já demonstrou falta de empatia e respeito pela vida, além de um narcisismo doentio em divulgar isso para o mundo.
Outros casos
Dias atrás (19/4/2017), o estudante de odontologia Hemerson Fernandes Pedroso, de Cuiabá (MT), também publicou um vídeo de maus-tratos no Facebook. Nele, estuprava uma cachorra, chegando a dizer que gostava dela porque "ela aguenta tudo". Com a repercussão, ele apagou o vídeo e fugiu após sua prisão preventiva ter sido decretada.
A polícia apreendeu um casal de cachorros que estava em sua casa, mas a cadela que aparece no vídeo não foi encontrada. O criminoso se apresentou às autoridades na última segunda-feira (24/4/2017), e afirmou que vinha sofrendo ataques desde que o vídeo começou a ser compartilhado nas redes sociais - sua casa foi invadida e ele chegou na delegacia em um carro com duas marcas de bala. Sobre a cachorra desaparecida, ele disse que não era dele, que ela vive na rua, e indicou o local onde ela estaria. Branquinha, como é chamada, foi encontrada no mesmo dia e entregue para uma entidade de proteção animal.
Hemerson Fernandes Pedroso foi indiciado por maus-tratos de animais e associação criminosa - ele faz parte de um grupo de zoófilos, pessoas que fazem sexo com animais. Ficou preso até sexta-feira (28/4/2017), quando a juíza Flávia Catarina Oliveira de Amorim, da Vara do Meio Ambiente, liberou o criminoso. Segundo o delegado Gianmarco Paccola Capoani, titular da Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema), que na véspera havia pedido a prorrogação da prisão preventiva, a soltura pode comprometer o andamento do caso.
Vale lembrar ainda o caso das russas Alina Orlova, 17 anos, e Alena Savchenko / Kristina Hemp, 19, que postaram em suas redes sociais fotos e vídeos em que torturavam animais até a morte. Inclusive, Alina chegou a escrever que cogitava matar a própria mãe e perguntava quanto tempo ficaria presa se fosse descoberta. Alina e Alena foram presas em novembro de 2016.
“Tem um porco no meu [sic] microondas”, foi a legenda do vídeo que Vitória Müller postou. Se ela permanecer sem tratamento psiquiátrico, provavelmente o porquinho-da-índia será apenas sua primeira vítima animal – e depois, poderão vir as humanas. É assim que começa.
“Tem um porco no meu [sic] microondas”, foi a legenda do vídeo que Vitória Müller postou. Se ela permanecer sem tratamento psiquiátrico, provavelmente o porquinho-da-índia será apenas sua primeira vítima animal – e depois, poderão vir as humanas. É assim que começa.
Uma das postagens das adolescentes russas (Fotos: Reprodução)
Postagem da adolescente brasileira (Foto: Reprodução)
Denúncia de maus-tratos
Maus-tratos é crime e deve ser denunciado. Mesmo que o criminoso maior de idade pague apenas multa e preste serviço à comunidade, ele ficará com antecedentes criminais, o que lhe complicará em um futuro crime.
Em nosso site, mostramos um passo a passo de como denunciar maus-tratos. Clique aqui e veja como fazer. No texto, falamos também sobre crimes que vemos diariamente nas redes sociais, e como as pessoas devem verificar a veracidade e atualidade das postagens compartilhadas. E lembramos que não adianta de nada apenas curtir ou colocar carinhas de raiva ou de choro, compartilhar e xingar nos comentários. O que deve ser feito é ir à delegacia com informações concretas, preferencialmente com foto e/ou vídeo, e fazer o boletim de ocorrência / termo circunstanciado.
No caso Vitória Müller, algumas pessoas divulgaram o print e o vídeo da postagem feita por ela, com link para a postagem original em sua página (que até então não havia sido apagada), comprovando a veracidade e atualidade do crime, dados como nome completo e endereço da agressora e link para a delegacia on-line do Rio Grande do Sul, onde é possível fazer o registro de ocorrência.
Em nosso site, mostramos um passo a passo de como denunciar maus-tratos. Clique aqui e veja como fazer. No texto, falamos também sobre crimes que vemos diariamente nas redes sociais, e como as pessoas devem verificar a veracidade e atualidade das postagens compartilhadas. E lembramos que não adianta de nada apenas curtir ou colocar carinhas de raiva ou de choro, compartilhar e xingar nos comentários. O que deve ser feito é ir à delegacia com informações concretas, preferencialmente com foto e/ou vídeo, e fazer o boletim de ocorrência / termo circunstanciado.
No caso Vitória Müller, algumas pessoas divulgaram o print e o vídeo da postagem feita por ela, com link para a postagem original em sua página (que até então não havia sido apagada), comprovando a veracidade e atualidade do crime, dados como nome completo e endereço da agressora e link para a delegacia on-line do Rio Grande do Sul, onde é possível fazer o registro de ocorrência.
Os animais são seres inocentes, sencientes e não têm voz para se defender. Enquanto houver pessoas que os coloquem vivos dentro de fornos, estuprem, torturem, matem, mantenham acorrentados, explorem para trabalho, utilizem em shows e outras "atrações" como rinhas, farra do boi, rodeio, vaquejada, entre tantas outras formas de crueldade, é preciso que haja pessoas que falem por eles e defendam seus direitos. Denuncie maus-tratos!
As pessoas que curtiram essa postagem
são igualmente doentes (Foto: Reprodução)
*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma
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