Direito de resposta

A matéria Gatos e o mistério da ração na beirada do prato (que tal mudar o prato?), publicada por nós recentemente, foi questionada pela Plastivida e Instituto Brasileiro do PVC a respeito da parte em que faz um alerta sobre pratos de plástico. Eles solicitaram direito de resposta, que publicamos abaixo, em itálico.

Na sequência, publicamos nosso parecer final, elaborado por nossa voluntária Izabel Moraes, formada em biologia e trabalhando atualmente na Universidade Humboldt (Berlim, Alemanha), onde desenvolve pesquisa com foco em bioquímica e epigenética, e achamos importante que você também o leia, para que conheça os diferentes lados da questão e tire suas próprias conclusões.


"Ao Natureza em Forma

Ref.: Notícia “Gatos e o mistério da ração na beirada do prato (que tal mudar o prato?)”

Prezado jornalista,

Foi com extrema preocupação que a Plastivida e o Instituto Brasileiro do PVC tomaram conhecimento da matéria “Gatos e o mistério da ração na beirada do prato (que tal mudar o prato?)”, publicada em neste portal. O texto contém incorreções sobre os plásticos, trazendo informações infundadas e alarmistas. Sendo assim, solicitamos espaço neste portal para a publicação da informação correta, em benefício do leitor.

A Plastivida e o Instituto Brasileiro do PVC esclarecem que os plásticos são atóxicos, inertes e seguros. As informações apresentadas no texto de que alguns oferecem risco à saúde humana são absurdas e totalmente incorretas. Nos Estados Unidos, as embalagens de plásticos que entram em contato com alimentos são rigidamente regulamentadas pela Food and Drug Administration (FDA). No Brasil, a mesma preocupação de se garantir produtos seguros aos consumidores se dá por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que através da Resolução RDC 105, de maio de 1999, diz: “Regulamenta as embalagens e equipamentos, inclusive revestimentos e acessórios, destinados a entrar em contato com alimentos, matérias-primas para alimentos, águas minerais e de mesa, assim como as embalagens e equipamentos de uso doméstico, elaborados ou revestidos com material plástico”.

Mais um exemplo vem da União Européia. Em janeiro de 2015, a European Safety Authority (EFSA) emitiu relatório afirmando que o BPA não apresenta risco a saúde. Além do FDA e EFSA, outros órgãos regulamentadores tem chegado à conclusões científicas similares, tais como Health Canada – Canadá, Food Standards Autralia New Zeland – Austrália e The Janpanese National Institute of Advanced Industrial Science and Technology – Japão.

Sobre os Ftalatos, são substâncias usadas há mais de 50 anos sem um único caso relatado de problemas de saúde. Trata-se de alguns dos produtos químicos mais estudados no mundo. São estudos de avaliação de riscos rigorosos realizados não só pela União Europeia, como também por outros órgãos científicos internacionalmente respeitados.

Os resultados têm demonstrado a segurança dessas substâncias nos vários segmentos onde são utilizados. Efeitos adversos para a saúde são observados apenas em estudos com ratos. Mesmo assim, tais efeitos são notados em testes com exposição, destes roedores, em níveis elevadíssimos de Ftalatos, aos quais a população não é submetida. Portanto, a extrapolação desses estudos não pode ser aplicada a seres humanos. Além disso, praticamente 100% das bolsas de sangue no mundo são fabricadas com PVC contendo DEHP, um tipo de ftalato, o que por si só atesta sua segurança. Para se ter uma ideia, o DEHP, um dos ftalatos mais utilizados no mundo, é o único aplicado em utensílios médicos. Inclusive o PVC é o plástico mais utilizado na área médica, com aprovação de entidades reguladoras do setor de saúde, como a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde, FDA – Administração Federal de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos, Farmacopéia Européia, Ministério da Saúde do Japão, dentre tantos outros órgãos competentes. Certamente estas entidades não permitiriam o uso de tal substância na composição de embalagens para o setor médico, tão pouco para embalar medicamentos, caso houvesse algum risco para a saúde da população ou para o meio ambiente.

Em resumo, embalagens e produtos que entrem em contato com alimentos, independentemente da sua matéria prima, são avaliados e regulamentados pelos órgãos responsáveis, que atestam sua segurança à saúde humana. Os plásticos não fogem à regra e são largamente utilizados, pois trazem benefícios às pessoas – economia, proteção ao alimento, à água, oferecem segurança, higiene, bem estar e qualidade de vida.

A Plastivida e o Instituto Brasileiro do PVC atuam para promover as características e benefícios dos plásticos. São produtos versáteis, inertes, atóxicos, de excelente custo-benefício, o que os fazem presentes em diversos segmentos do dia a dia das pessoas. Além disso, as entidades representam uma cadeia de fabricantes que atua sob a luz da ética, sustentabilidade e respeito às legislações vigentes no Brasil.

Assim sendo, reiteramos a solicitação de espaço no veículo para que os leitores tenham acesso a informação correta sobre os plásticos.

No aguardo de um posicionamento, agradecemos a atenção.

Miguel Bahiense
Presidente
Plastivida e Instituto Brasileiro do PVC"


PARECER DA NATUREZA EM FORMA:

1. "Efeitos adversos para a saúde são observados apenas em estudos com ratos." Isso porque, desde o fim do nazismo, a bioética não permitiria que os pesquisadores aplicassem doses altas do componente para verificar o efeito. No entanto, uma reflexão: se eu fosse uma executiva de uma empresa química, fizesse um ensaio grande e confiável, e garantisse a vocês que estricnina em baixas doses não afeta ratos, vocês tomariam?

2. De fato, a penúltima conclusão da EFSA (European Food Safety Authority) foi de que o uso de BPA na dose que se usa atualmente é segura, mas depois disso veio outro estudo a respeito dos efeitos do BPA no sistema imunológico. Vejam em Milestones: http://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/bisphenol.

3. Vocês citam a FDA, Anvisa, EFSA e ignoraram completamente o fato de a maioria do plástico atualmente ser importada da China, cuja fiscalização é incomparavelmente menos rígida do que os órgãos dos países anteriormente citados. Os preços de produtos chineses são imbatíveis não somente por causa do uso de trabalho (semi)escravo, mas também por conta do uso de produtos baratos e de baixa qualidade. Não existe qualquer garantia de segurança desses materiais.

4. Ainda sobre esses órgãos, lamento desapontá-los, mas como cientista e como consumidora eu tenho sérias dúvidas em relação às substâncias que a FDA aprova, visto que muitas delas não são permitidas na Europa. Quanto à Anvisa, o escândalo da carne diz muito sobre o quanto o Brasil precisa melhorar em relação ao quanto grandes empresas se importam com o bem-estar de seus consumidores... ou não?

5. "Além disso, as entidades representam uma cadeia de fabricantes que atua sob a luz da ética, sustentabilidade e respeito às legislações vigentes no Brasil." Estou curiosa para entender o link entre sustentabilidade, plástico e essas indústrias.

6. Entendo a posição crítica de vocês e o quanto esses artigos os chateiam, já que promovem o uso desses produtos. No entanto, vocês devem entender que eu jamais optaria por depositar minha confiança em uma indústria em vez da pesquisa científica, já que os cientistas, não precisando patrocinar o uso de um produto ou outro, acabam divulgando informações sem o viés do interesse econômico. Está em anexo uma revisão bastante interessante a respeito do BPA. Sugiram que leiam, e que acompanhem as novas conclusões da EFSA sobre efeitos no sistema imunológico [link aqui].

Nenhum comentário:

Postar um comentário