Febre amarela: a culpa não é do macaco



“Os macacos servem como anjos da guarda, como sentinelas da ocorrência da febre amarela”, explica o gerente de Vigilância das Doenças de Transmissão Vetorial, do Ministério da Saúde, Renato Alves. Esse é um alerta para que a população não mate os macacos, principalmente em regiões onde há incidência da febre amarela em humanos. Os macacos não são responsáveis pela transmissão, muito pelo contrário: esses animais servem como guias para a elaboração de ações de prevenção. A doença é transmitida por mosquito. 

“É importante que a gente mantenha esses animais sadios e dentro de seu ambiente natural, porque a detecção da morte de um macaco, que potencialmente está doente de febre amarela, pode nos dar tempo para adotar medidas de controle para evitar a doença em seres humanos”, defende o gerente de Vigilância das Doenças de Transmissão Vetorial.

A febre amarela é uma doença que se mantém no ambiente, em um ciclo silvestre, e é transmitida por mosquitos. O macaco é importante, pois serve como indicador da presença do vírus em determinada região. É o que também defende o pesquisador e presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia (SBP), Danilo Simonini Teixeira: “Esses animais estão sendo mortos por conta de medo da população humana em relação à transmissão do vírus, e isso não ocorre. Se você mata os animais, vai haver um prejuízo, pois a vigilância não vai ser feita por conta do óbito daquele animal por uma pessoa”.

Além disso, matar animais é considerado crime ambiental pelo Art. 29 da Lei n° 9.605/98. “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, pode gerar pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa. No bioma da mata atlântica, onde incide a doença, encontram-se primatas ameaçados de extinção, entre eles, o bugio e o macaco-prego-de-crista, além do muriqui do sul e do norte.

“É importante que a população tenha plena consciência de que os macacos não são responsáveis pela existência do vírus nem por sua transmissão a humanos. Eles precisam ser protegidos. A morte desses animais traz enorme desequilíbrio ambiental, que não pode ser agravado pela ação do homem”, ressalta o diretor de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio Ambiente, Ugo Vercillo. O vírus da febre amarela silvestre é transmitido por mosquitos (gêneros Haemagogus e Sabethes).

Caso a população encontre macacos mortos ou doentes, deve informar o mais rapidamente o serviço de saúde do município ou do estado onde vive ou pelo número de telefone 136. Uma vez identificados os eventos, o serviço de saúde avalia se ainda há a possibilidade de coleta de amostra para laboratório, se além desse animal que foi encontrado existem outros, se as populações de primatas da região ainda são visíveis e estão integradas, se foi uma morte isolada ou se de fato é uma ocorrência que atingiu maior número de primatas. Assim, o cidadão que estiver, por exemplo, em uma atividade de lazer ou trabalho na mata, e encontre o indício ou um macaco morto, deve avisar o mais rápido possível o serviço de saúde, que vai tomar as medidas necessárias de vigilância de controle.

Além disso, é possível denunciar a matança ou maus-tratos de macacos pela Linha Verde do Ibama (0800 61 8080). Na denúncia, podem ser encaminhadas fotos e vídeos que auxiliem na identificação do crime e de quem o cometeu, através do e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br.

Ouça aqui a reportagem da Rádio Web Saúde.




NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:


2. "Os primatas são termômetros da febre amarela, pois essa é uma doença silvestre que fica na mata. Quando os primatas que estão próximos de áreas urbanas morrem, indicam que a doença está perto dos humanos. Esse surto de febre amarela está acontecendo por conta do desastre de Mariana (MG), pois foram mortos todos os predadores naturais do mosquito, como peixes, anfíbios (rãs e sapos), répteis (lagartos e lagartixas), insetos predadores e aves. Portanto todo um ecossistema foi destruído e o mosquito é oportunista e está fazendo a festa, assim como a empresa responsável pelo desastre, que continua trabalhando como se nada tivesse acontecido. Esses prejuízos ambientais e de saúde pública são irreversíveis, e há outros depósitos como de Mariana para estourar. Vamos fazer uma campanha pedindo punições mais rígidas para essa empresa exploratória, a Vale do Rio Doce, que só retira nossas riquezas naturais e vende para o mundo, deixando para trás um rio amargo de morte, destruição e doenças", declara o presidente da Associação Natureza em Forma,  Lito Fernandez.

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