O impacto das mudanças climáticas sobre animais ameaçados de extinção tem sido dramaticamente subestimado e cientistas têm apelado para que políticos ajam urgentemente para retardar seus efeitos antes que espécies inteiras desapareçam para sempre.
Uma nova análise revelou que quase metade (47%) dos mamíferos e quase um quarto (24,4%) das aves da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) são impactados negativamente pelas mudanças climáticas, totalizando cerca de 700 espécies. Avaliações anteriores disseram que apenas 7% dos mamíferos listados e 4% das aves eram prejudicados.
“Muitos especialistas fazem erroneamente essas avaliações climáticas – em alguns casos, massivamente”, diz o pesquisador James Watson, da Universidade de Queensland e da Wildlife Conservation Society, coautor do documento produzido em conjunto com cientistas do Reino Unido, Itália e EUA.
“A maioria dos pesquisadores tende a avaliar o impacto da mudança climática em uma espécie ou ecossistema e muitas vezes faz previsões para 50 ou 100 anos, ignorando o fato de que o clima já está alterado. Acho que a forma como a comunidade científica tem comunicado a questão é um problema real porque as pessoas estão sempre rotulando-o como uma ameaça futura. Quando você combina as evidências, o impacto sobre as espécies já é realmente dramático”, alerta Watson.
Algumas espécies são mais vulneráveis do que outras. Elefantes e primatas possuem uma capacidade menor de se adaptarem às condições de mudança que são ainda mais reduzidas por suas taxas de reprodução lentas. Os roedores que poderiam escavar para escapar de ambientes extremos seriam os menos impactados.
Os mamíferos com dietas especializadas já foram muito mais afetados do que outros animais, assim como as espécies de aves que vivem em altitudes elevadas. Animais encontrados em florestas tropicais e subtropicais que vivem sob a ameaça de degradação do habitat enfrentam desafios adicionais com as mudanças climáticas.
Segundo Watson, muitas avaliações de espécies listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza supuseram que a caça, o desmatamento e a perda do habitat representavam um risco maior e mais imediato do que as alterações climáticas.
“Muitas avaliações de risco estão simplesmente cegas ao fato de que a mudança climática está acontecendo agora. Se você ler um artigo científico sobre mudanças climáticas e espécies, trata-se sempre de como as coisas irão piorar no futuro, não que isso esteja acontecendo agora”, ressalta.
A extensão do problema provavelmente é muito pior do que o revelado até mesmo pela análise de Watson porque os mamíferos e as aves eram o assunto da maioria dos estudos.
“Essas são as espécies sobre as quais você esperaria que fôssemos mais precisos. Anfíbios, répteis, peixes, plantas – estamos quase certamente distantes por uma enorme ordem de magnitude em nossas avaliações atuais de vulnerabilidade às mudanças climáticas. Temos nos equivocado sobre aves e mamíferos, que são os nossos grupos mais estudados – o que estamos errando em relação às espécies que não sabemos muito a respeito, como corais, morcegos, rãs, fungos?”, questiona Watson.
O pesquisador faz um alerta: “Os governos precisam agir urgentemente para diminuir o impacto das mudanças climáticas, freando seu progresso, reduzindo drasticamente as emissões e fortalecendo a dependência de espécies e ecossistemas. Temos de dar à natureza uma chance de luta – o que significa que temos de garantir que os sistemas sejam saudáveis e funcionais. Não podemos permitir a degradação e fragmentação dos ecossistemas”.
“Os formuladores de políticas não podem simplesmente adiar. Eles têm de perceber que cada decisão que tomam agora impacta as chances das espécies e, por não agirem permitindo que o status quo continue, iremos perder a capacidade da natureza de se adaptar rapidamente no futuro”, adiciona.
Como a Lista Vermelha estabelece um “padrão global’’, Watson e os coautores do estudo esperam que sua análise influencie a política intergovernamental, assim como as próximas revisões do plano estratégico da Organização Mundial da Saúde (OMS) na convenção sobre as alterações climáticas.
“Entretanto apenas obter a lista certa não irá resolver o problema. É preciso ir além da documentação de uma crise – esse estudo mostra que temos de agir em relação a isso”, conclui.
Foto: Jami Tarris / Getty Images
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