A desconfusão do veganismo, o pós-verdade e o efeito viralizador do antiveganismo

    Foto: Mic the Vegan / Reprodução YouTube



Por Eduardo Pacheco*

Pós-verdade. A palavra do ano escolhida pelo dicionário Oxford não poderia ser melhor: é a ideia de que evidências ("fatos objetivos") importam menos do que a emoção e as crenças pessoais para convencer o público. Ela cai como uma luva para o momento que estamos vivendo. Se é verdade em geral, é particularmente verdade quando o assunto é veganismo.

Muitas pessoas me pediram para responder um texto antivegano chamado "Os vegetarianos acreditam que não matam animais e isso não é verdade". Trata-se de uma entrevista a Claudio Bertonatti feita por conta de um artigo que viralizou chamado "A confusão do veganismo". Os textos correram o mundo e eu sinceramente esperava que teriam um argumento novo, sólido, que de fato nos fizesse pensar. É fundamental que qualquer ideia ou movimento social apare suas arestas, esteja com a autocrítica ligada e reveja erros. É isso ou a extinção: por essa razão, costumo ver críticas fundamentadas com ótimos olhos.

Mas não é o caso do texto. Quase nada do que foi dito ali se aproveita: tanto o argumento principal é completamente furado quanto o uso que se faz dele. Depois que li, fiquei me perguntando como um cientista falaria tanta bobagem concatenada. Qual é a chance de um ecólogo nunca ter tido qualquer contato com os estudos sobre mortes diretas ou indiretas ou mesmo sobre os impactos das diferentes atividades na morte de animais silvestres e domésticos? Ou o sujeito é mal intencionado ou não sabe do que está falando. Ou, ainda, é movido pelas suas impressões, ignora os dados e usa suas credenciais de cientista para credibilizar aquilo em que acredita. Pós-verdade.

Na era da pós-verdade, isso tem um efeito devastador. As hipóteses que não necessariamente se excluem começam a ficar mais claras quando notamos que o sujeito que se passa por autoridade geral em ecologia é na verdade museólogo. Uma pessoa que estuda museus e participa de conselhos de ecologia. Se isso, por um lado, não o desqualifica por completo, não afasta um argumento embasado em evidências ou um raciocínio lógico (e, portanto, não incorri em argumentum ad hominem - argumento contra a pessoa), por outro, não dá a credencial de cientista na área que ele invoca. O argumento de autoridade é uma falácia por si só, logo, mesmo um ecólogo não fica desobrigado a cumprir os requisitos da racionalidade para ser levado a sério. Só que é especialmente problemático quando se pretende usar essa autoridade já questionável sem ser alguém que de fato se ocupe do estudo dos fenômenos relacionados às ideias que defende. Digo e repito: opinião de cientista não é argumento. E cientista quando se porta como se estivesse em um papo de bar deveria parar de se chamar desse jeito. O primeiro de tudo: aquele é um texto opinativo e não um estudo científico. Isso posto, não há argumentos a serem respondidos porque, no limite, não há argumento algum. São opiniões. O que farei aqui, em respeito aos leitores, é responder às alegações.

Como de costume, vou apresentar os pontos principais e respondê-los um a um com estudos científicos e dados - recomendo que vejam os textos no original (links acima). Se algo não ficar bem respondido, por favor, me digam. E convido o senhor Claudio Bertonatti para um debate público. Se ele me convencer, deixo de ser vegano. Se eu convencê-lo, deve assumir publicamente seus equívocos ou limitar a extensão do que disse.

As alegações

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao autor porque essa resposta se torna uma ótima oportunidade para abordar falácias que passaram a ser criticadas recentemente (mas que sempre existiram), como a falácia do contínuo e o apelo à perfeição. Na verdade, dá para fazer um manual inteiro de falácias só com os equívocos do autor.

Dito isso, o texto do senhor Bertonatti falha em não apresentar dados que comprovem as conclusões que tem explicitamente ou que estimula, além de incorrer em falhas graves de raciocínio. De fato, ele assume que não sabe do que está falando. Trata-se da falácia da evidência anedótica, que é a ideia de que contar uma história substitui um argumento ou dados. Manipulações usam esse recurso com frequência: acontece quando alguém diz "se você reparar que nessa situação tem isso e não isso" sem que estejam claras as relações de causa e consequência, as relações complexas entre os fenômenos ou o contraste entre dados de forma a considerar hipóteses alternativas. É precisamente essa falta de critério e cuidado que fazem com que o texto escorregue em tantas falácias e seja tão acientífico.

Críticas gerais ao texto não ajudam muito, então passarei a desmembrá-lo pedaço por pedaço. As alegações implícitas e explícitas podem ser resumidas nas seguintes:

1. Veganos pensam que não matam animais

2. Veganos matam mais animais que não veganos

3. Veganos só se importam com animais domésticos

4. Veganos são fundamentalistas irracionais e opor-se a eles é ser científico

5. Ser contra zoológicos é ser fundamentalista e irracional

6. Sou contra a crueldade da indústria, mas não sejamos radicais em cortar carne

7. Se todos se tornassem veganos, seria uma tragédia porque nós não estaríamos a entender verdadeiramente os problemas ambientais do mundo

8. Veganismo implica redução da biodiversidade

9. Veganos são violentos e devem ser gentis porque pregam a paz

Eis as respostas:

1. Veganos pensam que não matam animais

O título do texto já começa com a falácia do espantalho, que é quando se ignora a posição do adversário em um debate e apresenta-se uma versão distorcida que passa a refutá-la. É como se um boxeador odiasse seu rival e, em vez de derrotá-lo, fizesse um espantalho parecido com ele, destroçasse o espantalho na porrada e saísse orgulhoso cantando vitória.

De fato, veganos não pensam que não causam impacto em vidas animais. Isso é simplesmente impossível (a não ser que você flutue, se comunique por telecinese e viva de luz). Veganos defendem que devemos fazer o melhor possível para evitar a morte de seres sencientes. Isso é bastante diferente de supor que nada cause impacto. Se, por um lado, é verdadeiro dizer que toda atividade causa impacto, por outro, é falso reduzi-las todas e tratá-las como se os impactos se equivalessem entre si.

O autor iguala diferentes graus de impacto tanto do ponto de vista do efeito (o impacto em si) quanto do ponto de vista moral (quando analisamos as motivações). Incorre, portanto, na falácia do contínuo. Ao reduzir ambas as posições (de ser vegano e não ser) a "causam impacto", o autor ignora quanto cada posição causa de impacto, sugere e efetivamente diz que veganos causam mais impacto.

Há ainda outro problema. Exigir que os veganos não causem qualquer impacto para que o veganismo seja válido como ferramenta para reduzir o sofrimento e o impacto nos ambientes naturais é incorrer em outra falácia, a exigência da perfeição. O vegano Leandro Hundertmarck deu um exemplo bastante didático no erro desse raciocínio: "Imagine 20 pessoas se afogando em alto mar e um bote salva-vidas com capacidade para apenas 12. Segundo a falácia, você não poderia salvar as 12 porque não tem como salvar as 20. Seriam 20 mortos. Segundo o veganismo, posicionamento ético em que se faz o máximo possível e praticável, você deveria tentar salvar o máximo possível de pessoas, podendo reduzir o número de mortos para oito". Mas, segundo o senhor Bertonatti, é a mesma coisa deixar que os 20 morram ou tentar salvar o máximo possível e poupar 12 vidas.

2. Veganos matam mais animais que não veganos

O autor sugere isso quando diz genericamente que os veganos causam mais impacto, combinando com o título do texto. Isso é escancaradamente falso.

Apresento aqui alguns critérios, fontes e dados que desmentem o senhor Bertonatti: as mortes diretas e indiretas de animais, a pegada de carbono, a água virtual e a parcela da agricultura destinada à pecuária.

a) Mortes diretas e indiretas

Em um artigo de 2003 no Journal of Agricultural and Environmental Ethics, Steven Davis argumentou que consumir herbívoros alimentados em pasto (gado) é melhor do que se consumíssemos vegetais. O autor do texto usa esse conceito, talvez sem saber, não apresentando a fonte e apresento aqui aos leitores no original (ver aqui). Gaverick Matheny identificou um erro crucial no cálculo de Davis: ele assume que a igual quantidade de terra produzirá igual quantidade de comida no pasto e na agricultura e apresentou uma resposta no Journal of Social Philosophy (ver aqui). Na verdade, a mesma quantidade de terra produzirá muito mais comida pela agricultura do que se fosse pasto para alimentar rebanho e, se corrigirmos o erro de Davis no cálculo, o resultado advoga para a tese oposta: o veganismo reduz muito o número de animais mortos tanto diretamente quanto indiretamente.

Andy Lamey apresenta outras falhas no argumento de Davis (ver aqui) e toda a discussão pode ser acompanhada nesse artigo do Animal Visuals, que tem um ótimo gráfico interativo (ver aqui). Colocando na ponta do lápis o argumento de que o não veganismo seria menos danoso aos animais e ao ambiente vira piada.

Número de animais mortos por milhão de calorias em oito categorias de comida separados em
mortes diretas (abate) e indiretas (agricultura)


O gráfico apresenta oito categorias de comida (frango, ovos, carne de boi, porco, leite, vegetais, frutas e grãos) e correspondente quantidade de animais mortos para produzir um milhão de calorias desses alimentos. Ele divide as mortes em dois grupos: as diretas, que acontecem quando o próprio animal morre para produzir o produto (o abate), e as indiretas, que é quando a produção do alimento depende de circunstâncias que causam a morte de animais. O gráfico pode ser detalhado para apresentar apenas as mortes indiretas e fica assim:



Gráfico detalhado para mostrar apenas mortes indiretas



Enquanto a produção de grãos mata em média 1,65 animal indiretamente por milhão de caloria, a produção de carne de boi mata em média 27,4 animais, e a de leite, 4,74 animais indiretos. Cabe ainda ressaltar que a dieta dos vegetarianos se baseia em grãos, não em vegetais, já que os vegetais oferecem poucas calorias relativas (e é por isso que são mais pesados em relação às mortes indiretas), enquanto os grãos oferecem muitas e são a fonte de proteína adequada para comparar com a carne e derivados animais.

b) Pegada de carbono


Mostrar uma evidência para uma hipótese pode não ser suficiente para convencer as pessoas mais céticas e por isso é de bom tom mostrar que muitos critérios confluem para o mesmo resultado. A pegada de carbono é um bom critério para medir o impacto por duas razões: a primeira é porque o gás carbônico em si causa morte indireta dos animais, já que produz acidificação dos oceanos, chuva ácida, derretimento de calotas polares e desequilíbrio climático; a segunda é porque quando temos uma economia baseada em petróleo e combustíveis fósseis que necessariamente liberam gás carbônico, o CO2 acaba sendo um sinal da intensificação das atividades humanas que necessariamente geram impacto. Quando um trator destrói uma floresta, ele libera gás carbônico ao oxidar o combustível e por destruir sequestradores de gás na atmosfera, as plantas, o que também acaba matando animais. Quando um boi respira, ele libera gás carbônico e por aí vai.


O projeto Carbon Footprint calculou a pegada de carbono de várias atividades, e estudos como o Climate Change and Food Systems corroboram o resultado. Já o projeto Shrink that Footprint reuniu vários dados de diferentes fontes como o ERS/RSDA (Economic Research Service / United States Department of Agriculture) e dados usando EIO/LCA. O resultado é um gráfico comparativo da pegada de carbono entre diferentes hábitos alimentares.


O gráfico teve a honestidade de considerar a distribuição dos grupos alimentares em cada categoria


O estudo comparou veganos, ovolactovegetarianos, abstêmios da carne, consumidores médios de carne e amantes de carne. O resultado é que a pegada de carbono de alguém que ama carne é mais que o dobro que a de um vegano. Uma explicação mais completa do estudo pode ser vista na página do Shrink that Footprint.

c) Pegada hídrica

A produção de pesticidas consome água, pecuária consome água, agricultura consome água: qualquer atividade humana consome água. A água é essencial para a vida geral na Terra e seu consumo implica, indiretamente, morte de animais. Seja pelo impacto direto causado pela destruição dos ecossistemas, seja como indicativo geral da atividade humana que, novamente, mata animais.

O projeto Water Footprint calculou a pegada hídrica de vários alimentos e os resultados corroboram os anteriores: alimentos vegetais impactam menos que os de origem animal.

Alimentos integrais consomem menos recursos que industrializados;
alimentos vegetais consomem menos que de origem animal



d) Parcela da agricultura destinada à pecuária

Já demonstrei ser falso que a criação de animais em pasto impacte menos do que pela agricultura (já que a produtividade na agricultura é maior do que no pasto). Além disso, até 50% das terras do planeta são usadas ou foram degradadas pelo uso da criação de animais. Ao menos 30% da superfície terrestre do planeta é ocupada pela pecuária e até 70% da superfície agrícola pertence à criação de animais. O magnífico relatório da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) Livestock’s Long Shadow detalha a "herança" que a pecuária deixou no mundo. O site ONCA, ainda, reuniu uma série de fontes do gênero e recomendo aos leitores (ver aqui).


Os dados do impacto da pecuária (seja extensiva, seja intensiva) decorrem de um princípio simples da biologia: a pirâmide energética ou de biomassa. É a ideia de que é simplesmente mais caro consumir consumidores primários que produtores.



Os níveis disponíveis de energia diminuem com o aumento do nível trófico



3. Veganos só se importam com animais domésticos

Falso. Como demonstrado, como o impacto do não veganismo é maior que o do veganismo, simplesmente causamos menos mortes de animais selvagens por reduzir a pressão por destruição dos ecossistemas. Além disso, eu mesmo já participei de operações de apreensão de tráfico de animais silvestres (ver aqui), produzi artigos científicos envolvendo a questão dos animais selvagens (aqui e aqui) e temos trabalhos de veganos brilhantes que se ocupam dessa questão, como Luciano CunhaLara André. Recomendo ainda os sites Perspectiva AnimalÉtica Animal, que tratam muito bem do tema. A descrição do Ética Animal, aliás, já começa com o alerta da importância dos animais na natureza:

"A Ética Animal tem o prazer de anunciar uma nova seção de seu site, dedicada à situação dos animais na natureza. Esse é um tema muito importante que afeta um número enorme de animais, mas tem sido pouco abordado e recebido pouca atenção em pesquisas até recentemente. Felizmente, contudo, isso está mudando, conforme mais pessoas estão percebendo que os animais na natureza precisam de nossa ajuda da mesma forma que aqueles que são explorados por humanos".

A crítica externa seria muito bem-vinda caso o senhor Bertonatti trouxesse algo que fosse verdadeiro e novo. Não é o caso, porém: tanto a prática vegana por si só reduz o sofrimento de animais selvagens no geral quanto a crítica interna já foi feita de forma a aumentar a eficiência da proteção aos animais.

4. Veganos são fundamentalistas irracionais e opor-se a eles é ser científico

O autor opõe a imagem do cientista à do fundamentalista. Contrasta ambos os arquétipos e propõe que a posição alinhada com o veganismo corresponde à irracionalidade enquanto a postura não vegana corresponde ao racional. O senhor Bertonatti poderia ter apresentado dados e não o fez, poderia ter apresentado argumentos que não incorressem em falácias e não o fez, poderia ter considerado hipóteses alternativas e não o fez. Eu, por outro lado, destrinchei falácia por falácia, apresentei dados, estudos, fontes verificáveis. Quem é o cientista aqui?

A postura lamentável do museólogo mistura um argumento contra a pessoa, que tenta invalidar um argumento por características de quem o emite, com o falso dilema, como se ser "cientista E antivegano" e "vegano E fundamentalista" fossem as únicas opções possíveis e minimamente representativas.

É de bom-tom que discutamos argumentos, então, por favor, senhor Bertonatti, apresente-os. As caricaturas a meu respeito e ao seu são irrelevantes para a validade das nossas teses: cientistas de verdade discutem evidências, hipóteses e lógica. Deixemos o name-calling para as crianças.

5. Ser contra zoológicos é fundamentalista e irracional

Ainda na estratégia de atacar a imagem de veganos, o autor do texto associa a postura antizoológicos com irracionalidade. Escrevi um artigo que trata especificamente dos zoológicos e por que eles não devem existir. O estudo sobre fisiopatologia do estresse em animais selvagens em cativeiro e suas implicações no comportamento e bem-estar animal é suficiente para derrubar essa ideia absurda de que se possa conservar espécies minando a vida, o comportamento, a saúde e a sanidade dos indivíduos animais. Quem quiser mais argumentos, porém, pode recorrer ao artigo que escrevi.

6. Sou contra a crueldade da indústria, mas não sejamos radicais ao cortar carne

Se por um lado é desejável que as práticas mais cruéis da indústria cessem imediatamente, por outro, é impossível não ter crueldade alguma quando estamos falando de escravização de animais e em matar quem não quer morrer. A crueldade é, portanto, intrínseca à criação animal. Além disso, uma investigação conduzida pela Mercy for Animals revela a crueldade na indústria praticada por um produtor que propaga seguir as regras de "abate humanitário" (ver aqui). O reforço da evidência me faz ter segurança em dizer categoricamente que não há tal coisa como "abate humanitário".

A ideia de que é "ser radical cortar a carne" parte de outra falácia: o argumento da moderação ou o apelo ao meio-termo. A falácia segue a seguinte estrutura: roubar sempre é errado, mas não roubar nunca é radical demais, logo, roubar um pouco é a melhor saída. É a (falsa) ideia de que algo é errado por ser "extremo" e para que seja extremo basta colocar um oposto e um intermediário. Com esse jogo de palavras, quase qualquer coisa pode parecer extrema.

Devemos, portanto, discutir os efeitos do veganismo nos animais e no ambiente e decidir o que queremos para nós enquanto sociedade e não afastar uma boa ideia simplesmente porque alguém a chamou de extremista.

7. Se todos virassem veganos, seria uma tragédia porque não estaríamos a entender os problemas ambientais do mundo

Essa afirmação extremamente vaga incorre nas falácias non sequitur, já que ser vegano não implica não estar apto a entender os problemas ambientais do mundo ao mesmo tempo que não ser vegano não implica entender os problemas ambientais; em causa complexa, já que supervaloriza a questão do veganismo como impeditivo da compreensão dos fenômenos ambientais (e muito embora o veganismo em verdade ajude o ambiente, também precisamos considerar outros fatores como população humana, avanço da indústria, consumismo, educação ambiental e outros).

8. Veganismo implica redução da biodiversidade

O autor incorre na inversão do ônus da prova ao alegar sem provar que a agricultura para humanos impacta mais do que a pecuária. Já foi tão demonstrado que a pecuária extensiva é menos produtiva do que a agricultura e que a maior parte da pressão ambiental sobre os ecossistemas se dá para abastecer a criação de animais. Há, ainda, estudos específicos sobre a redução da biodiversidade na pecuária e sobre o impacto geral comparando produção animal e vegetal. Resumindo: não procede.

9. Veganos são violentos e devem ser gentis porque pregam a paz

Eu sempre fui uma pessoa mais enérgica. Tenho baixa tolerância a estupidez, a desrespeito, e me ofendo quando tentam me fazer de idiota ou quando usam o cinismo para negar algo que está provado. Quem ler o Não Fala Merda verá, já pelo título, que eu tinha uma abordagem ácida. Estou tentando ser mais "diplomático" e focar o que é positivo. Tive alguma evolução nesse sentido (tanto que parei de publicar aqui) e o fiz porque acredito que é mais eficaz. Simplesmente porque abordagens ácidas tendem a alimentar opositores e afastar o diálogo.

Isso posto, tenho consciência de que é benéfico favorecer o diálogo. Rejeito, porém, que o autor do texto que respondo tenha feito isso, já que recorreu a uma série de reduções, distorções e ataques tão genéricos quanto falsos aos veganos. Se é verdade que é bom prezar pelo bom diálogo, também é que isso deve partir de ambos os lados. O fato é que a mensagem do veganismo em si incomoda porque diz que algo que as pessoas fazem todos os dias é extremamente cruel, evitável, e por isso errado. Com muita frequência, então, recorrem ao ataque contra os veganos para justificar negar a posição que eles defendem: se veganos são incômodos, logo vou continuar causando sofrimento aos animais.

Além disso, não se segue que veganos devam ser pacifistas estereotipados porque pregam a redução da violência geral: uma coisa é um debate acalorado e o uso de imagens impactantes, outra é cortar gargantas, matar por sufocamento e causar escravidão. Igualar ambas as situações diz mais sobre quem iguala do que os veganos de fato.

Apesar disso, mantenho minha postura de (tentar) ser mais amigável simplesmente porque acredito que isso será o melhor para os animais. Toda e qualquer pessoa é bem-vinda para civilizadamente conversar a respeito. Posso não usar imagens impactantes (como não usei neste texto e em nenhum outro), posso não apontar o dedo para a pessoa, mas não posso aceitar falácias como justificativas.

Os artigos a que respondo reúnem os elementos da surpresa, já que sabemos que o veganismo é bom para o ambiente, raiva, já que opõe pessoas que são julgadas (os não veganos) com os julgadores, que estariam, ora, errados, medo, já que essa coisa chamada veganismo pode ser ruim para o ambiente e, alegria, já que podemos comer nossos hambúrgueres com a consciência tranquila (ver aqui e aqui). É por isso que se tornaram virais.

Outro conteúdo que se tornou viral é o de uma suposta ex-vegetariana que se derrete de alegria ao comer carne. O vídeo reúne os mesmos elementos e tem o mesmo efeito. O Mic the Vegan fez um ótimo vídeo sobre esse "movimento de reação" ao veganismo. Basicamente, qualquer coisa contra o veganismo tem grandes chances de viralizar simplesmente porque o veganismo se tornou uma pauta importante demais para ser ignorada. 

Fica o meu convite ao autor do texto para o debate ou diálogo, se estendendo a qualquer um que queira. O dia em que alguém me demonstrar que o veganismo é pior para os animais, para as pessoas e para o planeta, eu deixo de ser vegano. Até lá, falaremos por eles: até que todos estejam livres.


* Eduardo Pacheco é cientista de dados, estudante de direito e ativista pelos direitos humanos e animais

Fonte: Medium 

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