A falta de gravetos e folhas fez um passarinho demonstrar seu instinto de sobrevivência e utilizar materiais inusitados para construir seu ninho na cidade de Atibaia, a 59 quilômetros de São Paulo. Um pombo da espécie asa-branca usou arames utilizados na amarração de ferragens de construção, fios elétricos, clipes e outros materiais industrializados para construir seu “lar”. O material era sobra de obras de casas construídas na região. É a primeira vez que os cientistas acham um ninho desse tipo no país.
A descoberta foi feita depois das últimas chuvas na cidade, que fizeram muitas árvores balançarem e provocaram a queda do ninho de um pinheiro. Para o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, que foi ao local, a estratégia de sobrevivência do pássaro está relacionada ao fato de na região não haver árvores de onde costumam cair folhas.
“Os paisagistas hoje em dia não querem folha caindo na grama, só escolhem plantas que não dão trabalho, mas que não atraem pássaros”, disse Frisch.
Este é o primeiro ninho do gênero encontrado pelo especialista no Brasil. A edição de outubro deste ano do jornal americano Nature Society News mostrou um ninho feito com pregos, fios elétricos, parafusos, lápis e presilha de cabelo por um casal de andorinhas-azuis na cidade de Meraux, em Louisiana, graças ao estado castigado da região em 2005 pelo furacão Katrina.
Frisch teme por essa tendência do paisagismo atual, e diz que resorts do Nordeste, por exemplo, também têm preferido plantar árvores que não soltam muitas folhas, sem se preocupar com os pássaros. Para o especialista, o ninho “fora do padrão” encontrado em São Paulo mostra o acerto da teoria do cientista Charles Darwin.
“Tanto o casal de andorinhas-azuis, nos Estados Unidos, quanto o de asas-brancas, aqui no Brasil, construíram ninhos sem precedentes. Além de demonstrar uma inteligência e instinto de sobrevivência fora de série, as aves também deram testemunho do acerto da teoria de Darwin, que afirma que na natureza não são as espécies mais fortes ou mais belas que sobreviviam, mas sim as que sabem se adaptar ao ambiente”, disse Frisch.
“Tanto o casal de andorinhas-azuis, nos Estados Unidos, quanto o de asas-brancas, aqui no Brasil, construíram ninhos sem precedentes. Além de demonstrar uma inteligência e instinto de sobrevivência fora de série, as aves também deram testemunho do acerto da teoria de Darwin, que afirma que na natureza não são as espécies mais fortes ou mais belas que sobreviviam, mas sim as que sabem se adaptar ao ambiente”, disse Frisch.
Segundo ele, apesar de voarem para locais distantes para buscar alimentos para os filhotes, os pombos da espécie asa-branca, não vão longe para procurar material para construir seus ninhos. E como são muito territorialistas, preferem ficar na mesma região que conhecem, mesmo com a falta de gravetos, a se mudarem para outro local.
Na opinião de Frisch, apesar de muitos terem a preocupação de plantar árvores, não se pensa nos pássaros quando elas são plantadas.
“O erro hoje é essa mania de plantar árvores. Dizem ‘plantei 10 mil árvores’. Mas quantas delas servem para os pássaros fazerem ninhos?”, questiona.
Segundo Frisch, a capital paulista ainda tem muitos pássaros, mas eles são atraídos por árvores plantadas por moradores em residências e não nas ruas, pela prefeitura. Na opinião dele, a prefeitura tem preferido construir fontes com luzes a plantar árvores. Além disso, os pássaros têm sido cada vez menos frequentes em cidades do interior.
“As áreas verdes nas cidades hoje em dia estão ‘enxugando’ por causa dos impostos. Ninguém se dá ao luxo de ter um jardim enorme. E quando as pessoas têm jardins, ninguém se preocupa com os passarinhos”, disse.
Fonte: O Globo
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