Henry Spira: “A filosofia dos direitos animais é muito mais ampla do que não prejudicar cães e gatos”


Considerado um dos ativistas mais engajados no movimento pelos direitos animais nos Estados Unidos no século 20, o belga Henry Spira ficou famoso principalmente por suas campanhas bem-sucedidas contra a realização de testes em animais. Mas sua história com a defesa animal começou por acaso, quando ele leu um artigo escrito pelo filósofo australiano Peter Singer, publicado pelo New York Review of Books em 1973.

Spira, que teve uma longa história com o movimento pelos direitos humanos, e durante seis anos editou um pequeno jornal sindical da União Marítima dos Estados Unidos, percebeu que faltava algo em sua luta por justiça. “Eu estava no Mississipi, no extremo sul. Fui ativo na luta antiguerra. Quando li o artigo de Peter Singer, consegui ver o que era, de fato, o holocausto para os animais. Ocorreu-me que isso não estava certo, não era justo e algo precisava ser feito”, relatou na rara entrevista Conversarion with Henry Spira: Draize Test Activist, concedida a Lynne Harriton para o The Humane Society Institute for Science and Policy em 1981.

Em 1973, Spira participou de uma das aulas de Peter Singer e, em 1974, fundou o grupo Animal Rights International, que conquistou repercussão mundial com a realização de uma campanha contra o uso de gatos em pesquisas científicas no American Museum of Natural History. “O livro dele [Peter Singer], Libertação Animal, tirou os direitos dos animais do sentimentalismo – onde as prioridades se baseavam em quão fofo e popular é um animal, e o colocou em uma posição consistente onde o ponto mais importante não era o amor aos animais. O fato é que, como esses animais têm sentimentos, eles devem ter direitos”, declarou.

Para Spira, o movimento pelos direitos animais começou a trilhar um novo caminho quando passou a enxergar a quantidade de animais explorados, assim como a dimensão de seus sofrimentos, independentemente de aparência e popularidade. Na segunda metade da década de 1970, começou a ficar mais evidente a preocupação com a exploração de animais em níveis industriais, para produção de alimentos e produtos, e também de animais em laboratórios. O ativista acreditava que esse deveria ter sido o foco prioritário do movimento muito tempo antes.

Segundo Henry Spira, as pessoas normalmente exploram animais e causam sofrimento a eles não porque sentem prazer nessa atividade, mas porque a sociedade diz que essa prática é aceitável e, claro, tem como reforço a legitimidade legal. “O sofrimento também é invisível para pessoas que comem bifes porque elas não vão até o matadouro escolhê-los. Elas não vão às fazendas industriais onde o animal é impossibilitado de se mover desde que nasce até sua morte. Laboratórios que usam animais não abrem suas portas para visitas diárias. Na verdade, acreditamos que, se as pessoas realmente soubessem o que está acontecendo, as coisas mudariam – haveria uma tremenda fúria e protesto.”

Ele sempre considerou os movimentos pelos direitos humanos e pelos direitos animais bem parecidos em diversos aspectos. “De um lado, você tem pessoas com poder e aparato, e do outro você tem pessoas só com a integridade e suas ideias, e o fato de que estão lutando por justiça – e que têm a possibilidade de atraírem grande simpatia para suas causas”, disse na entrevista a Lynne Harriton.

O ativista belga, que chegou aos Estados Unidos com a família em 1940, via como uma grande contradição o costume de explorarmos outros animais para supostamente garantirmos nossa própria sobrevivência. Um exemplo comum citado por Henry Spira é a realização de testes em animais, que já deveria ter sido banida em todo o mundo. “Acredito que a nossa sobrevivência será garantida quando mostrarmos preocupação com os outros. […] Levando em conta os sentimentos e interesses dos outros, seguindo políticas baseadas no propósito de não prejudicar os outros, estaremos muito melhores do que agora.”

Spira e outros importantes nomes do movimento mundial pelos direitos animais sempre dividiram a mesma opinião em relação à abrangência da defesa animal. “A filosofia por trás do movimento dos direitos animais é muito mais ampla do que não prejudicar cães e gatos. […] Para nós, o consumo de animais não é uma questão de sobrevivência. Podemos ser saudáveis sem comer outros animais. Qual é o objetivo de todos esses séculos de civilização se acharmos que, se uma barata faz algo, por que nós não podemos?”, questionou.

Henry Spira nasceu na Antuérpia, na Bélgica, em 19 de junho de 1927, e faleceu em Nova Iorque em 12 de setembro de 1998. Em 1980, ele promoveu uma grande campanha contra os testes em animais realizados pela Revlon.

Referência: 



Fonte: Vegazeta 

Foto: Reprodução

Um comentário:

  1. Covardia e Especismo são termos indicados para a prática da exploração animal, qualquer que seja, sempre que a espécie humana se julga dona das outras espécies, quando em verdade, é usurpadora.Dessensibilizar calouros que se comovem com o sofrimento das cobaias, é fundamental para Professores e/ou cientistas veteranos que há muito abdicaram das nobres emoções que os nortearam quando crianças. Não se comover diante da dor de um animal acaba sendo um normativo que, consciente ou inconscientemente, se transfere também para a falta de piedade e compaixão por seres humanos, contanto claro, que não sejam seu filho ou seu pai.

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