Rúcula, chicória, alface, almeirão e catalônia, entre outras verduras,
são plantadas na horta comunitária há 29 anos (Foto: Emídio Marques)
A paisagem da avenida Santa Cruz, na zona oeste de Sorocaba (SP), é diferente de qualquer outra via da cidade. Em vez de concreto e palmeiras decorativas, o canteiro é tomado por pés de rúcula, chicória, alface, almeirão e catalônia. A horta comunitária da via resiste há quase três décadas embaixo da linha de transmissão da concessionária de energia elétrica. Iniciativas como essa são cada vez mais reconhecidas por pesquisadores devido às contribuições ambientais e socioeconômicas, mas ainda há fatores que desafiam os pequenos agricultores urbanos.
Carência de incentivo público, falta de conhecimento técnico e até a especulação imobiliária são alguns dos pontos desestimuladores, explica a doutoranda em planejamento e uso de recursos renováveis pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Sorocaba, Carina Pensa. A especialista desenvolve, por meio do grupo de pesquisa Hidrolef, um projeto que analisa a contribuição das hortas urbanas dos pontos de vista ambiental e social.
Atualmente, Carina estuda duas iniciativas em Sorocaba: na avenida Santa Cruz e no Jardim Itanguá, espaços que, ela destaca, contribuem para a drenagem urbana. "Dentro das cidades, a maior parte das áreas é impermeável, com asfalto e calçadas, então a água não consegue infiltrar no solo. Qualquer área que permita esse tipo de infiltração precisa ser incentivada para reduzir as enchentes e melhorar a qualidade da água no lençol freático", explica. Além disso, há biodiversidade, melhora na qualidade do solo e até no microclima local.
Do ponto de vista social, ocorre melhora da qualidade da alimentação da população, geração de renda para as famílias e integração da comunidade. Dividida em lotes, a horta da avenida Santa Cruz é fonte de renda e segurança alimentar para dezenas de pessoas que plantam no local. Creuza Ilda dos Santos, 62 anos, conta que o espaço fará 29 anos como horta em agosto, e que ela foi uma das primeiras a plantar no local.
No início, ela trabalhava também como empregada doméstica, mas as dores no ombro fez com que se dedicasse apenas ao espaço. Com o marido aposentado por invalidez, Creuza vê na horta uma das únicas oportunidades de renda e complemento de alimentação. "Não tenho leitura para trabalhar fora", lamenta. Ultimamente, até as vendas das verduras - que são orgânicas - têm sido difíceis e há dias em que ninguém passa no local para comprar algo.
Além das vendas em baixa, outra preocupação passou a rondar a horta: a conta de água. O consumo do espaço girava em torno de R$ 100, mas passou para mais de R$ 800 na última cobrança. As produtoras garantem que não desperdiçam água. "Como a gente vai pagar essa montoeira de água?", reclama Nair Francisca da Rocha, 80 anos, que, mesmo com catarata, ainda planta verduras no local. O medo de ter a água cortada é constante e as produtoras admitem que há contas antigas em atraso, mas não sabem precisar os valores.
De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba, a autarquia está solicitando um parecer da agência reguladora da ARES PCJ sobre a situação da horta. A autarquia também informa que fará nova vistoria no local. Eles afirmaram ainda que "neste momento, não há o risco de a água ser cortada".
Plantar é terapia
"Isso aqui para mim é uma terapia", afirma o pedreiro Geraldo Ferreira dos Santos, 53 anos. Há quase um ano, ele viu em um espaço sem utilização no Jardim Itanguá a oportunidade de fazer uma horta comunitária. O local é do Espaço Cirineu, instituição sem fins lucrativos que oferece atividades para a comunidade, e hoje está sob os cuidados atentos do pedreiro, que cultiva a horta após o trabalho.
Santos não vende as verduras que planta no local e adquire adubos e mudas com recursos próprios. A produção, que ele afirma com orgulho ser completamente orgânica, é doada para entidades beneficentes e outros que passam pelo local.
Questionada sobre as iniciativas voltadas às hortas comunitárias, se há levantamento sobre a quantidade desses espaços e as regras que eles devem seguir, a Prefeitura de Sorocaba afirmou apenas que "a Secretaria de Abastecimento e Nutrição informa que, em conjunto com a Secretaria de Meio Ambiente, Parques e Jardins, desenvolve um projeto de estímulo às hortas comunitárias".
Foi pelas mãos do artista e produtor cultural Davi Sousa Batista que um terreno abandonado e repleto de entulho virou um jardim cheio de vida. A transformação do terreno no Jardim Bonsucesso, na zona norte de Sorocaba, começou em 2016, quando ele se mudou de casa e no novo endereço não tinha espaço para os 100 vasos de planta que cultivava em sua laje.
Em vez de jogar no lixo ou tentar vender as plantas, Batista decidiu utilizá-las para revitalizar a área verde abandonada. Assim surgiu o Jardim Dandara dos Palmares - personagem histórica que lutou pela libertação dos negros no Brasil. Por conta própria, ele retirou o lixo e carpiu o espaço de aproximadamente 800 metros No lugar, ficaram suas plantas, espécies frutíferas, chás e flores. Apesar de contar com alguns apoiadores rotativos, Batista ainda é o principal cuidador do espaço.
Para dar continuidade e expandir o trabalho - com mais equipamentos e atendimento à comunidade -, o produtor busca auxílio de interessados na causa. "É só entrar em contato comigo pelo WhatsApp ou Facebook", conta. A página da iniciativa na rede social pode ser acessada aqui, e o contato de Davi Batista é (15) 997 124 596.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
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