A morte de Sudan, o último rinoceronte-branco-do-norte

Sudan vivia em uma reserva no Quênia (Foto: EPA)


O último rinoceronte-branco-do-norte macho morreu nesta semana, depois de meses sofrendo com problemas de saúde. Sudan tinha 45 anos e vivia na reserva Ol Pejeta, no Quênia. Ele foi sacrificado na segunda-feira (19/3/2018), quando as complicações decorrentes de sua idade avançada pioraram. Com sua morte, restam agora apenas duas fêmeas da subespécie no mundo – a filha e a neta de Sudan.

Sudan vivia em uma reserva no Quênia

A única esperança de preservar a subespécie agora é com o uso de técnicas de fertilização in vitro"Precisamos aproveitar a possibilidade de usar tecnologias para preservar espécies ameaçadas de extinção. Pode parecer inacreditável, mas, graças a novas técnicas, Sudan ainda pode ter uma descendência", diz Jan Stejskal, do zoológico de Dvur Kralove, na República Tcheca, onde Sudan viveu até 2009.

Sudan morreu de quê?

A idade de Sudan era equivalente a 90 anos para um humano. Ele tinha se tornado o último macho de sua subespécie depois que um outro rinoceronte macho morreu em 2014.



O rinoceronte recebia tratamento para doenças degenerativas que atingiam seus músculos e ossos. Ele também tinha muitas feridas na pele.

Em suas últimas 24 horas de vida, ele não estava conseguindo ficar de pé e sofria muito. Assim, veterinários da reserva Ol Pejeta o sacrificaram para livrá-lo do sofrimento.

Por que esse tipo de rinoceronte é tão raro?

O rinoceronte é o segundo maior mamífero do planeta, atrás apenas dos elefantes.


Sudan, último macho de sua espécie, tinha 45 anos (Foto: AFP)


Há cinco espécies do animal. O branco é dividido em duas subespécies: o branco-do-sul e o branco-do-norte – que é muito mais raro que o do sul e está em perigo crítico.

Os rinocerontes-brancos-do-norte viviam em Uganda, na República Centro-Africana, no Sudão e no Chade, e foram dizimados nos anos 1970 e 1980. Na época, a caça ilegal foi estimulada pela demanda por chifres de rinoceronte para uso na medicina tradicional chinesa e produção de artefatos no Iêmen.


As duas últimas fêmeas da espécie, Najin e Fatu, 
vivem 24 horas com segurança armada para evitar sua caça ilegal (Foto: EPA)


A última dúzia de rinocerontes-brancos-do-sul selvagens foi morta na República Democrática do Congo no começo dos anos 2000.

Em 2008, a subespécie foi considerada extinta na natureza pela WWF, entidade de preservação ambiental.

Em 2009, os últimos quatro rinocerontes da subespécie - dois machos e duas fêmeas - foram transferidos do zoológico da República Tcheca para a reserva no Quênia. A esperança era de que o novo ambiente, mais parecido com o habitat natural dos bichos, encorajaria o cruzamento*.


Sudan e suas duas descendentes ganharam estátuas em Nova Iorque (Foto: EPA)


As tentativas, entretanto, não foram bem-sucedidas, e depois de quatro anos Sudan foi aposentado de seu papel de garanhão.

Outra tentativa de preservar alguns dos genes da subespécie cruzando as duas fêmeas, Najin e Fatu, com machos da subespécie do sul também falhou.

Sudan teve uma conta criada no aplicativo de paquera Tinder no ano passado, como parte de uma campanha para arrecadar recursos. A ideia era conseguir dinheiro para um fundo de projetos de fertilização in vitro para tentar preservar os animais.

Cientistas coletaram material genético de Sudan na segunda-feira para futuras pesquisas. Eles também querem usar sêmen de diversos machos e óvulos das fêmeas que ainda existem para implantar embriões em "barrigas de aluguel" de fêmeas de rinocerontes-brancos-do-sul. O uso da técnica para reproduzir esse tipo de animal é algo novo e custa caro.



Fonte: BBC Brasil 


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. "A esperança era de que o novo ambiente, mais parecido com o habitat natural dos bichos, encorajaria o cruzamento." É óbvio que um zoológico nunca será o ambiente certo para qualquer animal. Se a intenção de manter no zoológico for preservação contra caça, a morte do animal, preso e deprimido, é ainda pior, pois ocorre lentamente. Se for testar técnicas de inseminação artificial para reprodução da espécie, isso pode ser feito em outro lugar, como na própria reserva - o bicho não precisa ficar preso em um ambiente artificial exposto à curiosidade dos ignorantes. Manter qualquer animal preso, sem um propósito de cuidar de sua saúde para depois libertá-lo na natureza, em reservas ambientais ou santuários, significa apenas uma coisa: exploração. No caso de Sudan, eles ainda tentaram que o animal se reproduzisse naturalmente na reserva, ou seja, ele estava antes no zoológico apenas preso para humanos lucrarem mesmo - não estavam tentando reproduzi-lo artificialmente (o que, repetimos, poderia ser feito na reserva) nem protegendo-o da caça, pois a reserva já existia, com proteção armada, e ele já poderia ter sido enviado para lá há muito tempo. E outra: como ele foi parar no zoológico, para começo de conversa?

2. Leia também:



Nenhum comentário:

Postar um comentário