Barulho de fábricas deixa pássaros com sintomas de transtorno do estresse, diz estudo

A sialia mexicana (azulejo de garganta azul) foi um dos pássaros analisados no estudo 
(Foto: Dave Keeling)


O ruído de fábricas de petróleo e gás dificulta a reprodução de pássaros, que também passam a apresentar sintomas semelhantes a seres humanos que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, mostra pesquisa publicada no PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) na última segunda-feira (8/1/2018).

Cientistas observaram que pássaros expostos ao barulho possuíam alterações nos níveis de cortisol (hormônio relacionado ao estresse). Essas alterações, sugerem os pesquisadores, provavelmente estão relacionadas ao aumento da ansiedade e da vigilância provocada pelo ruído.

Além disso, havia mais dificuldade de reprodução e, em alguns casos, a ninhada nascia atrofiada. Os pesquisadores também identificaram que alguns pássaros possuíam corpo menor e menos penas em relação à média de animais que não vivem em regiões próximas a excesso de ruído.

"Eles não conseguem obter informações do ambiente, e, por isso, estão sempre estressados ​​porque não conseguem descobrir o que está acontecendo", diz um dos autores do estudo e pesquisador do Museu de História Natural da Flórida, Rob Guralnick, em nota.

"Assim como o estresse constante tende a degradar muitos aspectos da saúde de uma pessoa, ele tem um efeito cascata completo na saúde fisiológica dos pássaros", completa.

Como foi o estudo

Para medir o efeito do barulho, pesquisadores acompanharam três espécies de aves que se reproduzem perto de operações de petróleo e gás no Departamento de Gestão de Terras no Novo México, nos Estados Unidos.

Os cientistas observaram 240 ninhos em 12 regiões diferentes, além de colher amostras de sangue dos pássaros em três momentos diferentes. Curiosamente, as aves apresentavam níveis menores de cortisol, o hormônio do estresse, indica o estudo.

Segundo os pesquisadores, embora isso leve a acreditar que os animais estariam menos estressados, o resultado indica justamente o oposto - que os animais estão tão estressados que passaram a diminuir a produção do hormônio como um mecanismo de defesa.

Ainda segundo o estudo, esse resultado crônico de níveis baixos de hormônio do estresse também foi observado nas ninhadas dos pássaros que viviam na região.

Adaptação ao estresse constante

Fisiologista do estresse e coautor do estudo, Christopher Lowry explica, em nota, que o resultado da pesquisa é consistente com outras pesquisas em humanos.

A ciência vem descobrindo que, naqueles seres com estresse crônico, o hormônio do estresse (cortisol) acaba ficando extremamente baixo.

Segundo o pesquisador, quando há uma demanda constante por fuga ou luta, o corpo às vezes se adapta para economizar energia, economizando também o hormônio. Esse "hipocortismo" tem sido relacionado a inflamação, que, por sua vez, está associada a uma série de doenças e disfunções.

O estudo, sugerem os pesquisadores, pode ser extrapolado para outras regiões com ruído - e isso tem implicações importantes para a preservação do meio ambiente e da saúde humana.

Fonte: G1  

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