Animais selvagens usados em selfies morrem em poucos meses, revela estudo


Algumas das criaturas mais vulneráveis da Amazônia estão sob maus-tratos e sendo submetidas a tratamentos inapropriados por causa da moda das selfies com animais selvagens. Entre as consequências apontadas pela pesquisa realizada pela organização World Animal Protection, estão desidratação, ferimentos e até a morte.

O chamado “comércio de selfies” se tornou atração para turistas do mundo todo, ocasionando um crescimento de 249% do número de fotos com animais selvagens que foram compartilhadas no Instagram de 2014 até o momento. Entretanto, por trás dos sorrisos humanos nas imagens, estão escondidas condições cruéis dispensadas aos bichos – inclusive, muitos morrem poucos meses depois de terem sido retirados de seu habitat natural, segundo revela a organização responsável pela pesquisa. 

“Entre as 34 bilhões de imagens postadas por 700 milhões de pessoas no Instagram, nossa investigação encontrou dezenas de milhares de selfies tiradas com animais silvestres. Essas fotos capturam um momento de alegria humana para ser compartilhado com amigos, mas não registram o estresse e o sofrimento dos animais. Além disso, compartilhamentos desse tipo enviam uma mensagem a milhares de pessoas de que é aceitável usar animais como acessórios para fotos”, escreveu a instituição.

De acordo com o jornal inglês The Guardian, mais de 40% das fotos tiradas para as redes sociais com a fauna selvagem são classificadas como “selfies ruins”, ou seja, fotos que apresentam alguma pessoa abraçando, segurando ou interagindo inadequadamente com um bicho.

“O ‘comércio de selfies’ é o responsável pelo sofrimento de animais como jacarés, cobras, botos-cor-de-rosa e, em especial, as preguiças. Tirados de forma cruel da natureza por pessoas que exploram a vida silvestre em nome do lucro, esses animais são submetidos a abusos físicos e aprisionados em locais sujos e apertados. Tudo isso para que as pessoas os usem como acessórios em fotos”, diz o relatório.

A World Animal Protection enviou investigadores para Manaus, no Brasil, e para Porto Alegria, no Peru, para estabelecer a extensão do problema. Assim, foram encontradas evidências de agentes turísticos irresponsáveis ​​e de crueldade sendo infligida aos animais utilizados para fotos de turistas que pagam pela experiência.


Algumas crueldades contra os bichos encontradas na investigação:

> Preguiças capturadas da natureza, amarradas a árvores com corda, não sobrevivendo por mais de seis meses;

> Pássaros, como tucanos, com tumores graves nos pés;

> Anacondas verdes feridas e desidratadas;

> Jacarés reprimidos com tiras de borracha em torno de suas mandíbulas;

> Jaguatiricas mantidas em uma pequena gaiola estéril;

> Peixe-boi trancado em um pequeno tanque no pátio de um hotel;

> Um tamanduá gigante roubado e espancado por seu sequestrador.

“Turismo selvagem”: para quem? 

turismo selvagem” tem destaque na América Latina. A pesquisa da instituição para cuidado aos animais ainda descobriu que mais da metade das 249 atrações encontradas on-line oferecem o contato direto com animais selvagens aos turistas internacionais. Entre as questões mais alarmantes, está o uso de preguiças como "adereços" nas fotos. De acordo com a World Animal Protection, o animal é particularmente vulnerável à interação humana e há boas razões para acreditar que a maioria das preguiças que está sendo usada para as selfies turísticas não sobrevive por mais de seis meses.

“É extremamente angustiante ver essas criaturas sendo roubadas da natureza e utilizadas ​​como ‘adereços fotográficos’ para serem publicados nas mídias sociais”, diz o conselheiro da organização, Neil D'Cruze. “A crescente demanda é prejudicial à vida selvagem, não apenas por ser uma séria preocupação com o bem-estar animal, mas também com a conservação das espécies. Nossas investigações on-line revelaram que, somente na América Latina, a prática de tirar fotos com os bichos envolve 20% de espécies ameaçadas de extinção, e mais de 60% estão protegidas pelo direito internacional.”

Além de apelar aos governos para que façam cumprir as leis existentes e garantir que as empresas de viagens e os agentes turísticos as respeitem, a instituição está lançando um “código da selfie” para ensinar os turistas a tirar fotos sem contribuir com a crueldade*. 

“Estamos vendo um fenômeno mundial alimentado por turistas, e muitos deles desconhecem as condições abomináveis ​​e o tratamento terrível que os animais têm de suportar para fornecer essa foto como lembrança especial”, diz o CEO da World Animal Protection. “Nos bastidores, os animais selvagens estão sendo tirados de suas mães ainda bebês e secretamente sendo mantidos em locais imundos e apertados, além de serem repetidamente provocados, o que lhes causa graves traumas psicológicos”, acrescenta.


Fotos: World Animal Protection / Divulgação


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Não reproduzimos aqui a tabela com o "código da selfie" porque sua mensagem básica pode se resumir em uma única máxima: fotografe animais apenas quando estão livres em seu habitat - ou, fazemos aqui um pequeno adendo, quando estão em santuários, locais onde vivem livres e bem cuidados animais silvestres feridos e resgatados que não têm mais condições de voltar para a natureza ou animais de fazenda resgatados do abate em matadouros.

2. 


Em julho de 2016, uma foto fez grande sucesso na internet, em todo o mundo. O guia de turismo Marcelo Sueth Ribeiro, durante uma de suas trilhas pelo Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio de Janeiro, deparou com um bicho-preguiça em uma árvore, pegou seu pau de selfie e tirou uma engraçada foto com o animal, sem tocá-lo ou causar qualquer interferência em sua vida. 

Entrevistado na época pelo G1, ele disse que nem revelou o local exato do encontro por medo de causar uma peregrinação até ali em busca de mais selfies com preguiças, acarretando degradação do ambiente. "Nem todos pensam em preservação e tem muita gente destruindo o planeta", afirmou. 

A foto que você vê acima é um exemplo de uma correta selfie com animais.

3. Confira essa arte feita também pela World Animal Protection, compartilhe e nunca participe dessas "atrações" (leia mais aqui). Se você dá dinheiro para quem explora animais, está financiando o aprisionamento e maus-tratos a essas criaturas inocentes. 


4. Ao contrário do turismo predatório com "comércio de selfies" e frequência em outras "atrações" que exploram os animais como as citadas na arte e no link acima, o turismo sustentável é uma forma de viajar causando o mínimo impacto possível à natureza. Leia:


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