O emocionante primeiro voo de Lara, a arara que teve de aprender a viver em liberdade


Em novembro de 2016, a arara-canindé Lara foi resgatada, ainda bebê, pela polícia de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, quando era vendida por traficantes de animais.

Foram necessários oito meses para que Lara fosse libertada. Nesse período, ela precisou "aprender a ser arara".

"É um processo quase traumático, voltar à liberdade. É como uma pessoa que está presa há muito tempo e precisa descobrir o que fazer sozinha", diz o diretor da ONG Instituto Vida Livre, Roched Seba.

Lara faz parte de um grupo de 14 araras-canindés e seis tucanos que foram reabilitados pelo Ibama e pelo Instituto Vida Livre, e libertadas próximo a Aragoiânia, Goiás, no último fim de semana.

“As araras-canindés são um problema muito grande no Brasil inteiro, porque, como são muito numerosas e comuns de serem vendidas como animais de estimação, acabam em feiras, nas casas das pessoas ou abandonadas", alerta Seba.

Escola de pássaros

Após o resgate, Lara e outros pássaros foram examinados e tratados na unidade de triagem do Ibama em Seropédica, no Rio de Janeiro.

"Ela chegou bem magrinha e desidratada, mas, como era filhote, a reabilitação foi até mais fácil", conta a veterinária Taciana Sherlock, do Ibama, que coordena o projeto.

"O processo pode durar mais de seis meses, a depender do tempo que o animal ficou em cativeiro. Alguns não conseguem mais se reconhecer como araras, de tão domesticados que são. Precisamos isolá-los do contato com humanos", relata Taciana. 

No centro, os pássaros são submetidos a exames de sangue, coleta de parasitas e avaliações da estrutura muscular, integridade das penas e capacidade de voo.

Em um viveiro, eles são estimulados a voar de um lado a outro, para fortalecerem as asas e reaprenderem a se movimentar fora das gaiolas.

“Algumas nunca terão condições de voltar para a natureza porque são muito idosas, muito mansas ou têm mutilações nas asas", diz Seba.

Antes mesmo de receberem o treinamento, os pássaros resgatados já tiveram a sorte de sobreviver.

Cerca de 40 milhões de animais são vítimas do tráfico de fauna todos os anos no Brasil, segundo Taciana. A maioria deles são aves.

Dados recolhidos pelo Ibama mostram que para cada animal vendido, nove morrem nos processos de captura, transporte e venda*.

Voo

Na semana passada, Lara e suas companheiras enfrentaram uma jornada de 15 horas, que incluía seu primeiro voo de avião, para chegar a uma fazenda em Goiás, onde seriam soltas.

Lá, elas permaneceram por cinco dias em outro viveiro, enquanto se adaptavam ao novo ambiente. Mas a viagem não necessariamente significou uma volta ao lar.

“Um problema muito grave que temos com araras e tucanos é que eles são deslocados de suas áreas de ocorrência natural. Não dá para saber exatamente de onde saiu cada um”, explica Seba.

Para facilitar, os pássaros são soltos em Goiás, uma das áreas onde estão biologicamente bem adaptados a viver.

As araras-canindés ocorrem no centro-oeste brasileiro, no cerrado, no Pantanal e em algumas áreas da Amazônia. Mas já foram registradas da Bolívia até o sul do México.

Quando a porta do viveiro foi aberta, Lara foi uma das primeiras a dar uma volta.

O cativeiro ainda ficará disponível para que algumas das araras e tucanos voltem para dormir, enquanto se acostumam com a liberdade.

Veja o vídeo do primeiro voo de Lara.



Fonte: BBC Brasil (imagens do vídeo: Instituto Vida Livre)


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Quem compra animais silvestres é responsável por essas mortes tanto quanto os captores e traficantes. Se você já comprou arara, papagaio, tucano, tartaruga, jabuti, cobra, lagarto, maritaca, macaco, coruja, canário-da terra etc., você financiou a morte de muitos outros animais. Leia: Animal silvestre não é pet!

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