Dana Ellyn: "Quanto mais pesquisarem de onde vem sua comida, mais se inclinarão a se tornarem veganas”


Muitas pessoas que gostam de animais normalmente ficam aborrecidas ou furiosas quando veem um animal doméstico sofrendo ou passando por algum tipo de privação. Por outro lado, não partilham do mesmo sentimento quando se trata de animais enviados aos matadouros. Foi justamente pensando nisso que um dia a artista vegana norte-americana Dana Ellyn decidiu pautar seu trabalho em uma questão retórica: “Por que amamos alguns animais e comemos outros?”.


Sim, não é difícil entender que se trata de um fator cultural, contudo, não deixa de ser uma forma de hipocrisia de nossa parte, principalmente se afirmamos que amamos animais, e ainda assim os comemos. “Os animais têm aparecido na minha arte há anos, mas foi só em 2013 que fiz deles meu tema de trabalho. Colocar um adorável leitão ao lado de um pedaço de bacon [como ela fez na série Olhe em meus Olhos e Diga-me que Sou Delicioso] pode causar desconforto em quem come carne, porque faz com que pensem sobre a origem da comida”, disse Dana em entrevista à Compassion Over Killing (COK), uma entidade filantrópica de Washington, D.C., que atua em defesa dos direitos animais, em 2014.



A artista reconhece que suas obras podem despertar os mais diferentes sentimentos, desde compaixão ao escárnio, até porque, além do veganismo, ela aborda religião, política, divórcio e a opção em não ter filhos. “Quando comecei a me concentrar na criação de quadros com temática veg, pensei que estava me aventurando em um território menos controverso. Eu estava definitivamente errada”, admite.



Ela achava que algumas de suas pinturas, como Baby Back Ribs e Independence (from Meat) Day transmitiam mensagens óbvias, resultados do reconhecimento de como a carne chega aos nossos pratos. “Acontece que a maioria das pessoas não gosta de pensar sobre isso. Mesmo criando muitas pinturas com temáticas veganas, eu as equilibro com uma coleção de obras gentis, que apresentam doces animais que olham para o espectador com olhos inocentes e enviam mensagens como: ‘Tenho sentimentos, por favor, não me coma’”, declarou a pintora à COK.



A habilidade pictórica, a evidência das contradições e o humor peculiar de Dana Ellyn estão em suas obras de cores vívidas e intensas que apresentam um forte e desafiador conteúdo crítico das mais diferentes questões sociais. Portanto pode-se definir o trabalho de Dana como uma combinação do expressionismo com o realismo social, principalmente se levarmos em conta que ela tem como grandes inspirações a expressividade emocional e a perspectiva sombria dos expressionistas alemães, além da crueza e da confrontação da realidade influenciada por artistas mais contemporâneos e outsiders.



Muitos trabalhos de Dana com temáticas veganas são reconstruções de flashes artísticos de sua infância, um olhar adulto e vegano sobre o condicionamento em consumir carne e outros alimentos de origem animal. “Olhando para trás, percebo que sou vegetariana em meu coração desde a infância. Carne sempre me incomodou. Qualquer sinal de líquido vermelho era um tormento. E frango no osso era um grande problema, porque ainda parecia um animal. E nem falo sobre tendões em uma asa de frango ou roer a carne de uma sobressalente costela em um restaurante chinês”, relatou em entrevista a Jodi Truglio, da revista Global Looking Glass, em 2013.



Dana Ellyn, que se tornou vegetariana em 2001 e vegana em 2013, cresceu em uma pequena cidade costeira em Connecticut nos anos 1980. A cultura predominante de consumo de alimentos naquela época era do tipo “coma o que vier em seu prato e não faça perguntas”. “Minha família via o consumo de carne como um estilo de vida, uma maneira de pertencimento. Em minha infância, eu me sentia desconfortável quando me serviam pratos com cadáveres”, contou em entrevista à blogueira Zahava Katz-Perlish, do I’m an Animal Too, em 2016.



Ainda criança, já preferia comer grãos e vegetais. Segundo ela, seu despertar se deu ao perceber que a carne que era encorajada a comer para “viver” nada mais era do que uma escolha, já que é possível viver muito bem sem consumir partes de animais. “Sempre fui sensível sobre o sofrimento dos animais reduzidos à comida ou usados com outros propósitos destrutivos. Ao me tornar vegana, abriu-se um novo mundo de experiências culinárias que eu e meu marido [que também é vegano] exclamamos com um pouco de frustração: 'Por que alguém precisa comer carne?'”



O que levou a artista a ter fortes sentimentos sobre os direitos animais e o veganismo foi o reconhecimento de que estava sendo conivente com o sofrimento de outros seres vivos. “Assistir vídeos no YouTube, de galinhas sendo pisoteadas, é um bom começo para qualquer um. Quanto mais as pessoas pesquisarem de onde vem sua comida, e se conscientizarem da violência nas indústrias de carnes e laticínios, mais elas se inclinarão a se tornarem veganas. Gosto de me considerar uma consumidora informada, e um consumidor especialmente informado pesquisa sobre o que coloca em sua boca. Ser vegano faz todo o sentido”, ponderou.



Dana Ellyn gosta de atrair a atenção de consumidores de carne com suas pinturas que questionam a conduta especista humana. “Quem come frango, carne bovina ou de porco fica todo sentimental quando vê os coelhos e gatinhos sendo vendidos como comida em minhas pinturas. Em um nível intelectual, eles entendem que minha referência é sobre diferenças culturais, mas não são capazes de direcionar o espelho para si mesmos e admitir plenamente que o que eles comem não é diferente”, explicou ao portal Viva La Vegan!, em 2013.



A artista, que vive em Washington, D.C., se graduou em história da arte e belas artes em 1992 pela George Washington University. Desde 2002, ela se dedica à pintura em tempo integral. Além de participar de muitas exposições nos Estados Unidos, seu trabalho também já foi prestigiado na Europa e no Marrocos.

“Foi essa mudança do vegetarianismo para o veganismo que me influenciou a começar a me concentrar principalmente nas questões dos direitos animais. Descobri que muitas pessoas que comem carne preferem negar as vantagens do veganismo. Elas gostam de zombar ou fazer piadas sobre a ideia de ser vegano. Agem como se eu fosse uma extremista por fazer uma escolha em ser vegana, como se eu fosse a estranha ou a errada [sendo que eles que financiam a morte dos animais ao consumirem carne]”, reclamou ao I’m an Animal Too.



Segundo Dana, é fácil para as pessoas negarem a realidade quando elas se mantêm alheias à origem da comida. “Elas compram a carne que é embalada em um invólucro plástico, e isso pouco se assemelha ao animal de onde veio. Tenho tido muitas conversas ao longo do ano sobre ser vegetariana. Quando falo sobre as horríveis condições dos animais na agroindústria, as pessoas balançam suas cabeças e sempre afirmam que sabem, mas não querem saber; basicamente reconhecem que se admitirem a si mesmas como isso é horrível, teriam que parar de comer carne. Não entendo isso. Então por que não simplesmente parar de comer carne em vez de enfiar a cabeça na areia e fingir que não vê qual é o problema?”, lamentou ao Viva La Vegan!.



Em Meet your Meats (“Conheça suas Carnes”), inspirada na negação da realidade, Dana Ellyn criou um cenário em que uma pessoa abre o refrigerador para retirar comida e, de repente, se vê obrigada a lidar, face a face, com os animais que está pensando em jantar. “Em várias ocasiões, colaborei com a Compassion Over Killing, disponibilizando minha arte para venda em seus eventos de arrecadação de fundos. A COK também usou minha arte como capa de seu cartão de férias. Recentemente, colaborei com a britânica Lucy Tammam, premiada designer de moda de alta costura de Londres, que tem sido uma inovadora em termos éticos e sustentáveis”, revelou a Zahava Katz-Perlish.



Ao Viva La Vegan!, Dana se queixou que muitas pessoas jamais dedicam qualquer tempo para sair e conhecer um porco como animal de estimação. Ela defende que essa experiência poderia fazer alguma diferença. “Elas seriam capazes de comer carne de porco novamente? Suponho que algumas sim, e outras não”, concluiu. Tal reflexão a motivou a criar uma obra em que o cão Fido aparece vestido de porco para ser servido durante o jantar, enquanto o suíno ocupa maliciosamente o lugar do cachorro. “A menina parece saber o que aconteceu porque está olhando em direção ao porco, suprimindo um sorriso. Mas a mãe, representada de propósito como uma dona de casa dos anos 1950, está obedientemente servindo o jantar. Tradicional e antiquada, ela não questiona nada – está apenas fazendo o que se espera dela”, assinalou.



Em outra pintura de Dana Ellyn, que evoca uma inversão de papéis, um leitão assado aparece com uma maçã na boca, enquanto um cão feliz tem uma bola de tênis entre os dentes. “Meu principal objetivo como artista é fazer as pessoas felizes. Orgulho-me em fazer minhas obras de arte acessíveis. Quero que todos que desejem possuir um dos meus quadros tenham condições de adquiri-los. Como uma artista vegana, espero que os veganos compreendam e apreciem minha arte. Se os não veganos veem minhas pinturas e se sentem confusos e desafiados, ou mudados por minhas pinturas, então me sinto feliz”, garantiu ao blogue I’m an Animal Too.




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