Roubo de animais aumenta. Você sabe de quem é a culpa?

    Foto: Can Mustafa Ozdemir / Creative Commons



Quem tem um peludinho em casa cuida, leva ao veterinário, dá banho, alimenta e dá carinho. Essa é a base da posse responsável. Até o dia que você descuida por segundos e seu cão é levado da sua casa, carro ou mesmo do seu colo. Essa é uma realidade que vem crescendo não só em São Paulo, como em diversas cidades brasileiras. O que podemos fazer para mudar essa realidade?

O último caso de roubo ganhou as redes sociais. Galego, um cão da raça golden retriever, de pouco mais de um ano, foi levado da garagem de sua casa, por um rapaz. Sua tutora, em desespero, passou noites colando cartazes à procura do cão. O mais interessante da história é que Galego não era o único cachorro da casa. Junto com ele vivia um fox paulistinha, que não foi levado. Talvez, para o ladrão, essa raça não tenha tanta valia.

      Foto: University of Liverpool / Creative Commons


Por que os cães são roubados?

A resposta é muito simples e está na ponta da língua da presidente da AMPARA Animal, Juliana Camargo: “O destino dos cães roubados é venda ou mesmo utilização como matrizes, para reprodução”.

Juliana conta que, em uma das comunidades assistidas pela ONG, houve o caso de um rapaz que apareceu com um cão da raça lulu-da-pomerânia. Os vizinhos estranharam como um cão tão valioso poderia estar em uma comunidade humilde. Questionado, o rapaz explicou que tinha comprado o animal para reprodução.

Pode parecer forte, mas realmente nós abrimos uma demanda muito grande, que favorece esse tipo de mercado de roubo.

Se a intenção do larápio é pegar o cão para reprodução, ele procurará animais não castrados (inteiros). Assim, quando você mantém seu animal sem estar castrado, ele pode não apenas ser roubado, mas também utilizado como matriz reprodutiva.

Mas vamos falar sobre a supervalorização das raças.

A adoção é uma realidade. Inúmeros animais que estavam na rua, hoje estão à espera de um lar, nas ONGs. Mas, infelizmente, ainda há um grande preconceito com animais sem raça definida (SRD). “Ainda há um estigma do valor do animal estar em sua raça, sua origem. Mas para que querem um animal de raça, se a população brasileira é vira-lata?”, questiona Juliana.

Os mitos da adoção ainda imperam no subconsciente humano: “mas de que tamanho vai ficar?”, “eu moro em apartamento, não posso ter cão de grande porte”, “mas um adulto não vai se adaptar tão bem quanto um filhote” etc. “Por que o pedigree ou uma raça seria imprescindível? É um mero detalhe perto do que importa: o amor incondicional”, pondera Juliana.

O amor não se compra. E o Facebook já entendeu essa máxima. Por isso mesmo, proibiu o comércio de animais em sua plataforma. Assim, caso você veja algum anúncio de venda de cães, gatos ou qualquer outro animal, você pode denunciar.

Mas nem todos pensam assim. A OLX, por exemplo, ainda está na mentalidade do século passado e aceita comércio de vidas. Impõe diversas regras, que devem ser aceitas pelo vendedor, mas ainda assim vende.

Segundo Juliana, plataformas como essa facilitam a comercialização dos animais advindos do furto. A plataforma não tem controle de quantos animais são vendidos, imagine se conseguem controlar qual a origem de cada venda.

Em nota, eles afirmam que os anúncios são passivos de denúncia. Mas como saber se um animal é origem de furto, maus-tratos ou qualquer outra situação semelhante?

Veja o posicionamento enviado por escrito:

“Em resposta à solicitação da coluna Comportamento Animal, a OLX esclarece que a publicação de anúncios de animais deve estar de acordo com os termos e condições de uso do site. Ao ler e concordar com esses termos, o usuário declara que todos os anúncios, mensagens e comentários publicados são de sua total responsabilidade e ele deve, portanto, responder criminalmente e civilmente por seus atos.

Infelizmente, mesmo com termos e regras claras, ferramentas que são criadas para trazer felicidade e bem-estar para as pessoas, eventualmente estão sujeitas ao uso por terceiros de má índole. A empresa reforça que a venda de itens ou animais roubados vai contra todos os valores que a OLX acredita e defende e também viola as normas do site. Nesse sentido, o usuário deve postar apenas conteúdo lícito, ou seja, que atenda às exigências legais para ser postado e que respeite, portanto, toda e qualquer legislação específica sobre o conteúdo da postagem.

Vale lembrar que a empresa disponibiliza um botão de denúncia em todos os seus anúncios, possibilitando que qualquer pessoa denuncie eventuais práticas irregulares ou conteúdos indevidos. Nesses casos, a empresa consegue deletar o anúncio e banir o usuário da plataforma.

A OLX reitera que, sempre que solicitada, fica à inteira disposição das autoridades para colaborar em investigações”.

E não pense que esse é o único meio de venda on-line. Há diversas outras plataformas onde ainda prolifera a venda de animais sem qualquer critério de origem. Quando você compra um animal on-line, pode estar incentivando a prática criminosa, mesmo sem saber.

      Foto: Danielle Mesquita


Animais de raça para adoção

A blogueira pet Camila Coscia publicou em seu blogue Tips da Penny: “O roubo de animais está cada vez mais frequente. Talvez isso se deva ao fato de as pessoas tratarem animais como objetos, como bens de consumo”. Camila costuma divulgar em seu blogue animais para adoção. Ela conta que quando são lhasas, shih tzus ou mesmo rottweilers, as adoções ocorrem em tempo recorde. Porém, quando são animais sem raça definida, ficam muitas vezes em ONGs, sem uma casa.

Essa mesma experiência foi compartilhada pela protetora Danielle Mesquita, que resgata somente buldogues. “É uma raça cara, que está na moda, mas que apresenta diversos problemas de saúde. Qualquer ida ao veterinário não sai por menos de R$ 500,00. Muitos não conseguem arcar e acabam abandonando. Tudo isso por só buscarem a fofura da raça, sem pesquisar as peculiaridades.” Só em 2017, foram nove animais.

Hoje, Danielle está com três buldogues franceses para adoção, cada um com uma história triste de abandono. Uma delas é do Sabão. Dado como presente de um homem para sua esposa, foi rejeitado, pois ela queria um lulu-da-pomerânia e não um buldogue francês. Assim, o cão passava seus dias acorrentado no quintal. Resgatado, agora aguarda uma pessoa amorosa que consiga amá-lo por quem ele é, independentemente da raça.

Apesar de ser tutora da Fiona, uma buldogue francesa, Danielle tem outros cães, entre eles, uma vira-lata. “O amor que ela me dá nenhum cão de raça dará. Aqui em casa, não há preconceito”, finaliza.

                                     Foto: Danielle Mesquita


O que podemos fazer?

Há muito o que se fazer.

O primeiro ponto, e mais importante de todos, é a conscientização. Quanto mais pessoas você puder falar sobre os benefícios da adoção, melhor.

Castre o animal*. Além de evitar doenças, minimiza as chances de ele ser utilizado para matriz reprodutiva.

Coloque microchip no animal. Nesse chip, estarão contidas todas as informações do peludo, como origem, tutores, contatos etc**.

Não aja por impulso. Verifique se esse é o momento ideal para ter um animal de estimação. Ele irá dar trabalho e exigir muito de você, seja ele vira-lata, seja de raça.

Galego, o golden do começo da matéria, foi resgatado. Quem o roubou da casa se arrependeu e soltou o cão. Mas essa é apenas uma das diversas histórias de roubo na cidade de São Paulo. Essa teve um final feliz, mas não é o que ocorre com a maioria. Todo cuidado é pouco.

Então ajude a conscientizar as pessoas. Fale com seus amigos, parentes, vizinhos. Castrar e identificar seu animal já é uma grande ajuda para tentarmos minimizar o problema.

                      Foto: Gabriela Galego


Fonte: Estadão

NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Clique aqui e saiba mais sobre a castração, inclusive sobre onde fazer. Em nosso Centro Cirúrgico, realizamos esse procedimento e preço solidário.

**2. Microchip não é a única forma de identificação animal. Saiba mais aqui (e nós também fazemos identificação).

3. O roubo é uma possibilidade, mas uma coisa certa sobre o comércio de animais de raça são os maus-tratos envolvidos. Quem compra um animal está financiando enormes sofrimentos a mães e filhotes. Em nosso marcador 'comércio de animais', você pode ler diversas matérias a respeito. Clique aqui e informe-se.

4. Além de não financiar maus-tratos e se arriscar a ter seu amigo roubado, outra razão simples para não comprar animais é: amor e amizade não se compra. Adote! Com tantos animais nas ruas, sofrendo com fome, sede, violência, acidentes, frio, calor e demais intempéries, além daqueles que são recolhidos e sacrificados pelos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) nos estados brasileiros onde ainda ocorre essa prática, qual o sentido de comprar um animal? Você acha que ter um cão ou gato de raça, com pedigree, te dará importância e status? Quer ter alguma raça que está na "moda", porque todo mundo está comprando e você também tem que comprar, como se fosse uma bolsa ou o último modelo do iPhone? Se você acha isso, não deveria ter animal algum. Em vez de gastar seu dinheiro comprando uma vida, que tal investi-lo em umas sessões de psicoterapia?

5. A resposta da OLX apresentada na matéria acima convence alguém? 

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