Clara Feldman escreveu o livro com as netas Isabella e Ana Clara.
Acompanhadas do irmão de Isabella, Leonardo, elas foram à casa de dona Cleuza
conhecer mais histórias de Xerife e Olívia Palito
Acompanhadas do irmão de Isabella, Leonardo, elas foram à casa de dona Cleuza
conhecer mais histórias de Xerife e Olívia Palito
Uma linda história de amor – com direito a longo tempo de paquera, ao primeiro beijo no portão, a um rival apaixonado e a muitos filhotes – vai para as páginas de um livro dirigido especialmente às crianças e com emoção suficiente para conquistar leitores de todas as idades. Trata-se do romance e das aventuras de Xerife, o vira-lata que, há exatos dois anos, latia de paixão por Olívia Palito, pertencente a uma família do bairro Prado, na região oeste de Belo Horizonte (MG), e rosnava feio para Kurt Cobain, animal de estimação da casa e também enamorado da cadelinha. Xerife morreu no ano passado, deixou saudade e sua trajetória encantou a psicóloga, psicoterapeuta e escritora Clara Feldman, empenhada, entre 29 de maio de 2015 e 7 de maio de 2016, a recortar todas as matérias publicadas sobre o assunto no jornal Estado de Minas.
“Li a primeira reportagem e achei que a história não poderia se perder. Então guardei o jornal, embora sem saber exatamente o que fazer”, conta Clara, agora na fase final do livro Xerife e Olívia – Uma História de Amor (título provisório), escrito em parceria com as netas Isabella Feldman, de nove anos, e Ana Clara Feldman, de sete, e lançamento, ainda sem data, pela Editora Miguilim. Na manhã de 27 de maio de 2017, as três e o irmão de Isabella, Leonardo, de 14, estiveram na casa da dentista Cleuza Azeredo Coutinho Ferreira e da filha, Tatiana, administradora, a fim de colher mais informações e conhecer Olívia, os filhotes de dois anos Batman, Charlotte e Clarice, de uma ninhada de 11 (um morreu no mesmo dia), e Kurt Kobain, meio alheio ao grupo. “Ele sofre do coração”, explicou dona Cleuza, esclarecendo que o mal é físico e não uma paixonite aguda por Olívia.
Dona Cleuza preparou um lanche gostoso para receber as visitas. Com uma pasta contendo os recortes do jornal, Clara adiantou que a edição terá ilustrações a cargo da editora e fotos do Estado de Minas, que registrou os momentos emocionantes da história. “Essa reportagem mexeu com a cidade, tornou-se uma paixão coletiva, e acho que o livro baseado em algo verídico vai interessar todo mundo, dos oito aos 80, ou melhor, aos 100 anos”, observou Clara, com bom humor. As netas levaram algumas perguntas escritas e entrevistaram Tatiana. Queriam saber mais detalhes sobre a relação amorosa entre Xerife e Olívia, como foi a doação dos outros filhotes, se houve problemas com a vizinhança e pormenores, que foram respondidos com toda atenção por Tatiana.
Eternizada
“O livro é interativo. Em cada um dos 14 capítulos, estamos sempre fazendo uma pergunta ao leitor. Como não poderia faltar a uma história, mencionamos também um personagem misterioso, o ‘vizinho malvado’, que chamou a carrocinha da prefeitura para levar Xerife”, conta a autora, mãe de dois psicólogos e de uma veterinária, “que vive dizendo que temos muito a aprender com os animais”.
Ao ver as netas fazendo as perguntas, Clara tem a deixa para contar como nasceu o livro: “As meninas estão passando o fim de semana em minha casa, desde sexta-feira à noite. Então, sentadas no chão, começamos a contar a história e discutir alguns pontos. Se surgia uma palavra nova no texto, que as duas não conheciam, a exemplo de castração, pesquisávamos juntas o significado. E, dessas conversas, nasceu a obra totalmente fundamentada e inspirada nas matérias”.
“Fico feliz em ver a história contada num livro. Será eternizada, ficará para sempre”, acredita Tatiana, lembrando que Kurt Cobain, xodó da casa e com o nome em homenagem ao músico norte-americano (1967-1994) da banda Nirvana, era da irmã e acabou ficando mais agarrado a ela. “Mas quando a Tatiana viaja, ele não sai de perto de mim”, avisa dona Cleuza, recordando que Olívia sempre gostou muito de missa e foi na porta da igreja do bairro Calafate, onde a família ia rezar, que a cadelinha foi encontrada. “Ela nos seguia. Até que um dia veio conosco para casa”, revela.
É interessante ver que, dois anos depois de a história ganhar as páginas do jornal, Olívia, Kurt e seus filhos ainda despertam a atenção. Motoristas que passam na esquina da rua Turquesa com a avenida Francisco Sá espicham o pescoço para ver os cães. “Até hoje, recebo telefonemas por causa dessa história. Amigos de longa data voltaram a me procurar. Fico muito feliz, pois o assunto esteve nas escolas”, afirma dona Cleuza.
Ao lado, Clara confessa que sempre teve pânico de cachorro, pois foi mordida por um aos cinco anos de idade. Mas quando a filha Tatiana, hoje veterinária ultrassonografista, completou 15 anos, a cadelinha Pipoca foi morar com a família. “Troquei o pânico pela paixão”, resume a psicóloga sobre a repentina afeição ao bicho de estimação. Na varanda, bem pertinho dos filhotes, Ana Clara e Isabella descobriram, de cara, que Clarice é “a mais boazinha” dos irmãos. “Charlotte gosta de ficar lambendo a gente”, comentou Ana Clara, no momento em que os filhos de Xerife já estavam fazendo arte no portão. “Olívia é bravíssima”, apontou Tatiana.
Lição
Lembrando-se de Xerife, que morreu de câncer em 1º de maio de 2016, Tatiana ouve, das meninas, a pergunta final: qual a maior lição dessa história? Sem titubear, ela conta que existe preconceito até na hora da adoção de animais. “É triste, mas as pessoas não querem cachorros pretos. Basta verificar isso nos locais de adoção. É racismo.” Silêncio na sala, seguido de indignação.
Clara Felman fica impressionada com o relato e ressalta que, com tantos elementos, a história de Xerife e Olívia dá de 10 no filme de animação A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp), lançado pelos estúdios Disney em 1955. “Nós, brasileiros, somos muito mais interessantes do que os estrangeiros em vários aspectos.” Ao escutar esse comentário e também que o “amor canino” do Prado poderá ganhar um dia, quem sabe, as telas do cinema, dona Cleuza sorri e balbucia: “Quem sabe!”.
Olívia Palito e Xerife: um caso de amor contado em reportagens do jornal Estado de Minas
e que agora é tema de livro
e que agora é tema de livro
“Naquela casa, moravam Olívia e Kurt.
Kurt era apaixonado por Olívia.
Olívia não era apaixonada por Kurt (muita gente sabe o que é amor não correspondido... muito triste!).
Um dia, quando Olívia estava no portão, apareceu um belo cão preto.
Ele morava na rua e deram a ele o nome de Xerife.
Olívia ficou apaixonada por Xerife.
Xerife ficou apaixonado por Olívia.
Kurt latia e rosnava para o rival.
Xerife passava o dia inteiro deitado no passeio esperando Olívia aparecer.
Depois de uns dias de namoro, aconteceu o primeiro beijo – através da grade do portão...”
Trecho do livro Xerife e Olívia – Uma História de Amor (título provisório), de Clara Feldman, Isabella Feldman e Ana Clara Feldman
Memória
A história de Xerife, de pelo preto, e Olívia, branquinha, começou pouco antes do carnaval de 2015, quando a administradora Tatiana de Azeredo Coutinho Ferreira acolheu a vira-lata Olívia Palito em casa. “Ela era muito magrinha, daí o nome em homenagem à namorada de Popeye”, contou Tatiana ao Estado de Minas em 27 de maio. De imediato, a cadelinha recebeu olhares de cobiça de Kurt Cobain, então com 11 anos, morador antigo e apelidado em homenagem ao guitarrista da extinta banda Nirvana. Um belo dia, quando estava no cio, Olívia Palito fugiu. Não tardou muito para Xerife aparecer na grade da casa da rua Turquesa e lançar olhares românticos para a cadelinha. Se na rua era Xerife, na casa virou Lord Voldemort, o vilão da série Harry Potter. Logo depois, veio a ninhada de 11 filhotes (um morreu no mesmo dia) e o começo de uma curiosa história de amor.
Fonte: Estado de Minas
Fotos: Edésio Ferreira / Estado de Minas / D.A Press
Nenhum comentário:
Postar um comentário