Como o barulho causado por humanos ameaça animais e plantas

Amplitude de barulho em 63% de áreas protegidas analisadas era o dobro do normal
(Foto: Bernard Spragg)


Uma pesquisa feita por uma universidade norte-americana apontou que a maioria das áreas verdes protegidas nos Estados Unidos está sob efeito do dobro de barulho que deveria. A amostra evidencia que o excesso de ruído causado pelo homem – por meio de aviões e carros, por exemplo – não tem nada de inofensivo. O transtorno, diz o estudo, ameaça a vida de animais e plantas nessas regiões. 

O trabalho – publicado na quinta-feira (4/5/2017) na revista especializada Nature – é encabeçado pela ecologista acústica Rachel Buxton, da Universidade do Estado do Colorado. Ela e sua equipe partiram de dados coletados por um órgão público sobre o nível do ruído em 492 áreas protegidas no país, como parques. 

Rachel e seu grupo descobriram que o barulho em 63% dessas áreas era duas vezes maior que o tolerável. O nível utilizado como referência para a medição é o som ambiente excluído barulhos provocados por ação humana. Segundo a pesquisa, em 21% dos locais analisados, o ruído captado foi até 10 vezes maior que o normal. 

A cacofonia desgovernada afeta diretamente a vida animal e, por consequência, também a de plantas. Como exemplo, a pesquisadora cita o efeito na comunicação entre pássaros. 

“Se você está acostumado a ouvir o canto de um pássaro a uma distância de 30 metros, agora você só consegue ouvir a 15 metros”, diz, referindo-se a locais com o dobro do barulho normal. No caso das áreas 10 vezes mais ruidosas, o ouvinte teria de estar a menos de três metros. 

Barulhos como os gerados por carros e aviões ainda afetam o comportamento animal, aumentando o estresse e alterando atitudes durante a busca por alimento. Já no caso das plantas, elas acabam afetadas porque o barulho pode fazer com que animais polinizadores – como abelhas, borboletas e aves – ou aqueles que se alimentam de vegetais (e acabam espalhando suas sementes) mudem suas rotas. 

O estudo, segundo outro acadêmico consultado pela revista, é importante e inédito por ser mais amplo do que os que analisavam o efeito do ruído sobre a vida animal. “Ele colocou o barulho no mapa”, diz o ecologista Clinton Francis, da Universidade Politécnica da Califórnia, ressaltando o fato de que a pesquisa de Rachel Buxton mede a amplitude sonora a que estão expostas essas áreas. 

Ruído humano contra humanos 

O excesso de barulho faz com que o ser humano nem se lembre de como soa a natureza e acelera o desaparecimento de áreas silenciosas no mundo. 

Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou um “manual” a respeito de ruído ambiental. Entre aquilo que chama de “efeitos adversos” nos humanos, estão deficiência auditiva, distúrbios de sono, problemas cardiovasculares e psicológicos. 

Alguns países adotaram legislações específicas contra o problema que, além de afetar a paz em parques e áreas remotas, causa especial dano nas áreas urbanas, onde o barulho causado pelo homem atinge seu maior desempenho. 

No Brasil, não existe legislação federal específica, apenas um entendimento de que pode ser punido quem “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana”. 

Há, no entanto, limites da amplitude de ruído determinados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ela estabelece, por exemplo, que em área residencial com hospitais e escolas, os limites são 45 dB (decibéis) à noite e 50 dB de dia, e em uma totalmente industrial aceita-se até 70 dB (dia). 

O limite do ruído

 
“O ruído é o componente ambiental que mais facilmente nos dá a percepção da qualidade ambiental e, como tal, de qualidade de vida. É preciso ter em mente que ele resulta de fontes sonoras, mas também de organização do território”, afirma o engenheiro Bento Coelho, professor na Universidade de Lisboa. 

“O planejamento é fundamental. E o Brasil está se atrasando em relação a muitos outros países que já incluem o ruído como parte importante do planejamento urbano”, acrescenta o engenheiro.

Mapas sonoros 

Uma medida adotada em países como Portugal e Chile é de incentivar seus municípios a elaborarem “mapas de ruído” ou “cartas acústicas” que meçam o nível de ruído distribuído em uma cidade. O resultado são levantamentos que ajudam o governo local a direcionar o crescimento urbano, a fim de reduzir os danos da poluição sonora. 

Em São Paulo, uma organização fez uma ação recente, colocando protetores de ouvido nos personagens da obra Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret.

      Foto: ProAcústica


“Ao longo dos anos, o ruído pode provocar derrame, infarto e até matar. O problema é a dose”, diz o coordenador da ONG ProAcústica, Marcos Holtz. “Na OMS, tem muitos estudos sobre isso. Não é à toa que a poluição sonora passou a poluição da água e já é o segundo pior tipo de poluição ambiental, perdendo só para a poluição do ar.” 

Na capital paulista, existe um mapa de ruído em elaboração. Iniciado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, o trabalho deve, no entanto, ser concluído apenas daqui a sete anos.

Fonte: Nexo Jornal


NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Cabe lembrar os danos causados por fogos de artifício e rojões, usados por seres humanos para supostamente comemorar datas festivas ou vitórias no futebol, por exemplo, mas que são desastrosos para o meio ambiente, animais e os próprios humanos. Leia também:


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