Por Lucas Alvarenga*
Muitos pensam que o veganismo é apenas uma dieta, quando, na verdade, a dieta é apenas uma consequência do veganismo. O veganismo trata da maior revolução moral da humanidade.
Pensar que uma religião é melhor do que outra, que um governo é melhor do que outro, que uma crença tem mais validade do que outras ideologias, ou até mesmo que uma espécie é superior a outras são apenas convenções pessoais ou coletivas baseadas em pensamentos dualistas. A forma de pensar de cada um será sempre diferente, já que cada indivíduo parte de sua própria perspectiva e é carregado de interferências internas e externas. Entretanto, enquanto enxergarmos as diferenças como opostos, continuaremos cultivando a intolerância e, consequentemente, a discórdia e a guerra. O veganismo trata da desconstrução desse conceito de opostos, do desejo de bem-estar comum e da compreensão do respeito e da interconectividade de tudo e de todos os fenômenos.
O veganismo é a maior revolução moral da humanidade, a primeira na qual os indivíduos lutam pelo direito dos outros e não pelos próprios direitos. Essa revolução propõe à sociedade uma mudança de perspectiva, que exacerba o coletivo, valoriza o bem-estar dos outros como vital e ignora convenções baseadas em fatores frágeis, perecíveis e unicamente pessoais. Isso significa uma mudança de valores que transmigra do nível antropocêntrico para o altruísta, atingindo a raiz dos principais problemas do homem, todos originados pelo sentimento de ganância e egoísmo. Quando os sentimentos do indivíduo têm como foco o bem-estar dos outros, toda a perspectiva de valores morais muda, a consciência se expande e a responsabilidade coletiva se desenvolve.
A proposta íntegra do veganismo é um mundo sem guerra, sem racismo, sexismo e especismo. É a total desconstrução do conceito de opostos. É a própria noção da interconectividade e da interdependência de tudo e de todos.
Infelizmente, existe muita confusão, estimulada principalmente pelas grandes mídias, a respeito da nossa hipocrisia moderna de consumo. Estamos vivendo numa sociedade que nos faz acreditar ser normal amar e cuidar de determinados animais, enquanto tratamos outros com covardia, violência e brutalidade. Estamos utilizando e explorando animais para que sirvam de alimento, vestuário e cosméticos, com a única finalidade de atender às nossas vaidades. O fardo de todo vegano é presenciar carne sendo servida numa mesa de jantar e ter a plena consciência de que aquilo é exatamente como carne de cachorro ou gato. Os bois, vacas e porcos sofrem tanto quanto cães e gatos.
É absolutamente necessário refletirmos sem nos apegar às nossas culturas de valores e consumo ultrapassadas, para que tenhamos uma visão mais clara do que estamos fazendo e de como isso afeta a forma como tratamos uns aos outros.
Numa perspectiva de análise mais ampla, vemos que o veganismo engloba uma série de mudanças morais na sociedade, mas, fundamentalmente, se baseia em uma questão de direitos. Em 2012, foi assinada a Declaração da Cambridge, um importante documento que, pela primeira vez, trazia evidências científicas de que os animais são dotados de consciência. Essa constatação nos obriga a enxergar que os animais também possuem valores morais e que, portanto, é necessário que tenham seus direitos assegurados. Animais não podem ser considerados objetos.
A revolta da população com a morte do leão Cecil, a enorme indignação com o Festival de Yulin e a forma como essas mesmas pessoas, que se indignam com esses eventos, consomem carne expõem, de forma clara e gritante, o enorme conflito de valores entre nossos instintos morais e nossos hábitos de consumo. Isso tudo precisa ser repensado.
Muitos também defendem que a dieta de cada um é uma questão de escolha pessoal, mas nada que promova a violência ou a submissão deve ser aceito como tal. Por isso, não é normal tratarmos o consumo de carne como uma escolha pessoal, da mesma forma como nunca deveríamos ter considerado a posse de um escravo como escolha pessoal. Insisto, nada que promova a violência deve ser considerado uma escolha pessoal.
Todos querem genuinamente mudar o mundo, mas isso só é efetivamente possível quando as pessoas se tornam dispostas a mudar a si mesmas.
Ainda que, com tudo o que vemos no mundo, nos sintamos impotentes diante de tanta dor, virar a cabeça para o lado e agir com indiferença é covardia. Temos de nos preocupar e fazer tudo o que pudermos para aliviar esse sofrimento.
Não podemos mais ser coniventes com a violência. Ter compaixão significa conseguir sentir a dor de todos os seres com o nosso próprio coração. Ser vegano requer que sejamos o exemplo vivo dos valores que queremos ver no mundo. E, por sua vez, um mundo sem essa percepção do conceito de opostos, sem intolerância e sem violência não é possível sem o veganismo.
Não podemos mais ser coniventes com a violência. Ter compaixão significa conseguir sentir a dor de todos os seres com o nosso próprio coração. Ser vegano requer que sejamos o exemplo vivo dos valores que queremos ver no mundo. E, por sua vez, um mundo sem essa percepção do conceito de opostos, sem intolerância e sem violência não é possível sem o veganismo.
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