Amor e liberdade para os animais



Por Gaby Soncini*

"Os animais do mundo existem para seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos nem as mulheres para os homens” - Alice Walker, escritora e ativista pelos direitos civis norte-americana

Desde que chegamos a este mundo e começamos a dar nossos primeiros passos, somos deparados com um mundo humano, já feito, moldado, erguido por razões e vontades humanas. Dotado de linguagem e inteligência, o homem se destacou entre as demais espécies, mas será mesmo que só o ser humano detém linguagem, inteligência ou mesmo sentimento?

Os animais são seres sencientes, e como diz a frase de Alice Walker que inicia este texto, eles existem para seus próprios propósitos, têm suas próprias vidas e seu modo de se comunicar com os demais. Não é somente o ser humano que detém essa capacidade, os animais são seres que merecem respeito, dignidade e direitos.

Os animais têm sido usados pelos humanos para alimentação, pesquisas científicas, entretenimento, vestimenta - atividades existentes até hoje sob um manto de tradição que não é nada mais que uma traição e, infelizmente, isso ainda é visto por muitas pessoas com normalidade. Mas não, não é normal. Não é normal colocar uma espécie com sua própria vida para servir outras vidas, quando já existem diversas outras formas para se viver.

Passeios em zoológicos, aquários e diversos outros espaços de cárcere animal ainda são vistos como algo bom, muitas escolas ainda adotam passeios em zoológicos, muitas famílias ainda levam seus filhos a visitarem animais engaiolados. Diferentes de santuários, zoológicos não levam em consideração a liberdade, o espaço e o habitat natural de um animal.

Tocar na causa animal hoje é visto como uma posição extremista - sim, pois estamos tão acostumados a nos sobrepor a qualquer tipo de espécie, que nem por um momento é considerada extremista a forma que os animais de abate são tratados.

A questão da apologia à raça dos cachorros quando se quer ter um animal com tantos sofrendo nas ruas e esperando uma adoção; a questão da prisão animal para divertimento e passeios humanos. Quem tem uma sensibilidade pela causa muitas vezes é visto como extremo por simplesmente dizer verdades para as quais muitos olhos ainda estão fechados.

Ainda em passos lentos, a questão é mais levantada, questionada, mas ainda é pouco. O mercado de produtos sem crueldade animal começa a aparecer, mas ainda muito longe da realidade de muitas pessoas. É necessário que se faça mais, que se mostre mais, que se convide outras pessoas através da compaixão e de bons exemplos a verem o assunto com mais carinho e importância.

Não é uma atividade educativa levar seus filhos para gritar para outros animais engaiolados e achar incrível ver um leão que nem pertence à fauna brasileira engaiolado; não é uma atividade educativa levar seus filhos para aquários, achando que aquilo é melhor que o mar ou um rio.

É necessário ver que a alimentação é importante, mas que as proteínas não provêm só da carne, enfim, é necessário ver que toda vida merece liberdade, que nenhuma vida vive sem liberdade, mas nós, humanos, somos tão acostumados a grades e prisões que estendemos isso a outras espécies. Quer maior absurdo do que engaiolar seres com asas?

Li esses dias que o que está mais errado neste mundo é algumas vidas valerem mais que outras, tanto entre nós mesmos, humanos que nos separamos, como por acharmos que valemos mais do que qualquer outra espécie neste mundo.


*Gaby Soncini é formada em pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia, escreve e ilustra o blogue Uma Doce Melodia e participa do Núcleo de Contadores de Histórias da Biblioteca Pública de Uberlândia (MG)


Desenho: Gaby Soncini

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