Pawel Kuczynski, um cartunista que desperta reflexões sobre a exploração animal

                    Foto: Reprodução


O artista gráfico e cartunista Pawel Kuczynski vive em Police, uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, situada na região da Pomerânia Ocidental, no noroeste da Polônia. Lá, ele produz desenhos que despertam a atenção para temas como exploração animal, ecologia, política, pobreza, fome, ganância, novas tecnologias e vício em internet. Kuczynski une metáforas visuais, a estética do surrealismo, a sátira e o humor mórbido para levar o espectador a refletir sobre questões bem atuais.

Muito popular em mídias sociais como Reddit, Pinterest, Instagram e Facebook, neste último ele tem mais de 500 mil seguidores. O artista polonês já produziu inúmeros desenhos em que propõe discussões sobre a forma como nos relacionamos com os animais. São trabalhos que permitem inúmeras releituras e colocam em evidência a hipocrisia humana em relação ao fato de considerar alguns animais como companheiros e outros simplesmente como comida. Exemplo disso é Dinner, uma de suas obras mais populares, em que um açougueiro acaricia a cabeça de um gato enquanto é assistido por animais não domésticos na entrada de um estábulo.


Alguns cartuns de Kuczynski, que trabalha com técnicas de lápis aquarelável, mostram como as pessoas fingem não ver que estão consumindo um ser que um dia teve vida, e talvez por tal motivo em alguns de seus trabalhos os animais estão vivos. Um exemplo é Pig, em que um porco aparece sorrindo inocentemente com uma toalha sobre o dorso, sem reconhecer que ele é a mesa e o prato principal de um banquete. Em Coffin, ele apresenta o funeral de um porquinho que tem como caixão um lanche, uma referência às tiras de bacon.


Em Eggs, há uma máquina que esmaga galinhas para a produção de ovos. Provavelmente, a intenção de Kuczynski é mostrar que ovos não são apenas ovos: eles custam a vida das galinhas que são descartadas quando produzem pouco ou representam despesas. Outra de suas obras destaca um homem com aspecto morbígero, uma boca enorme e dentes pontiagudos, prestes a engolir a cabeça de um suíno, numa analogia à glutonaria humana.

Pawel Kuczynski também critica quem cria peixes em casa. Além desses animais viverem até sua morte em pequenos espaços para o deleite humano, as pessoas normalmente ignoram o quão paradoxal é criar um peixe ao mesmo tempo em que se come outro. Tal contradição é evocada no cartum em que aparece um peixe enlatado dentro de um pequeno aquário.


Em outro desenho, um boi tem um grande pasto como guardanapo amarrado ao pescoço, referência ao desmatamento e à superprodução de grãos para alimentar esses animais, o que vai muito além do que é investido na produção alimentícia voltada aos seres humanos.


Por esses e outros trabalhos, o polonês graduado na Academia de Belas Artes de Poznań, e com especialização em artes gráficas, já foi premiado nos Estados Unidos, Brasil, Bélgica, Itália, Espanha, Portugal, Rússia, Japão, China, Coreia do Sul, Colômbia, República Tcheca, Irã, Itália, Eslováquia, Turquia, Síria e Taiwan. Em 2005, ele recebeu o Eryk, prêmio da Associação Polonesa de Artistas, por ter conquistado um número recorde de premiações em competições internacionais. Só em 2010, Kuczynski ganhou 19 prêmios e distinções.

“Não sou o tipo de cartunista que trabalha com humor. Não é o tipo de sátira que as pessoas podem associar com piadas. São assuntos muito sérios. A realidade é tão louca e absurda que é difícil competir com isso. A realidade me inspira. Apenas tento ser honesto sobre as minhas observações em meus desenhos. Coloco uma informação em minha cabeça e espero pelos resultados. Se eu já tiver algo em minha mente, e for uma boa ideia, preciso de dois dias para fazer o desenho”, disse em entrevista à Fluster Magazine, da Itália, publicada em março de 2012.

Um observador do comportamento humano, Pawel Kuczynski considera surpreendente o fato de que vivemos há tanto tempo neste mundo e ainda assim seguimos cometendo os mesmos erros. Ele cita como algumas das maiores incoerências humanas as guerras, a pobreza, a fome, a exploração animal e a destruição do meio ambiente. “Nossa realidade é triste e, como consequência, meu senso de humor é mórbido. Acho que talvez eu seja muito lírico e sentimental.”

O artista polonês sempre gostou de arte barroca, das obras de Caravaggio (Michelangelo Merisi). Sua admiração o motivou desde cedo a usar a luz teatral como uma grande aliada, ou seja, aprendeu a manipular sabiamente o contraste entre o claro e o escuro. “É muito útil para organizar a composição narrativa em minhas obras”, justifica.

Membro da Associação Polonesa de Artistas, ele prefere não enaltecer sua própria história. Quando questionado sobre o motivo de divulgar sempre uma curta biografia, Kuczynski costuma responder que o mais importante não é ele, mas sim seu trabalho. Sobre sua rotina, ele começa o dia praticando atividades físicas. “É a melhor forma de refrescar meus pensamentos. Ou a melhor forma de não pensar em desenhos”, enfatizou em entrevista veiculada no portal iraniano Tabriz Cartoons, em 11 de setembro de 2016.

O cartunista normalmente prepara o projeto um dia antes de executá-lo, e seu período de maior produção costuma ser à tarde. “Trabalho como freelancer. É o que mais me convém, mas posso trabalhar em qualquer lugar onde eu tenha um canto para desenhar e acesso à internet. Tudo que tenho em Police [sua cidade natal] é um ambiente tranquilo, amigos e família. Não preciso de nada mais além disso”, contou ao Tabriz Cartoons.

Pawel Kuczynski começou a trabalhar com desenhos satíricos em 2004. Ele transparece não ter grandes ambições e ressalta que o mais importante é ter ideias e força para trabalhar. Se suas obras seguirem conquistando as pessoas e permitirem que ele continue vivendo de seu trabalho, isso o deixará satisfeito. “É o suficiente para mim. Como qualquer jovem estudante, eu fazia retratos em festas, imagens para decorar interior de apartamentos. Sou duro comigo e prefiro não admirar meu trabalho. Sempre acho que o próximo será melhor e me forço a ir além. Claro, como qualquer autor, fico feliz quando meu trabalho é notado e recompensado em competições.”

Há pessoas que criticam alguns trabalhos de Kuczynski por interpretá-los como críticas intransigentes ao uso de tecnologias. Porém, embora não use smartphones, ele deixa claro que sua intenção nunca foi essa: “Não sou um inimigo das inovações técnicas. Estou ativamente usando e usufruindo delas. Mas, por outro lado, é por isso que tenho o direito de alertar sobre as armadilhas que estão sempre à nossa espreita”. Para o polonês, a melhor forma de manter a qualidade de seu trabalho é jamais negligenciar o próprio cérebro, que, por ser um músculo, precisa sempre de bons estímulos.

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Referências 




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