O terror dos bebês chimpanzés arrancados de suas famílias e vendidos como brinquedos



O som pode fazer seu coração partir. Um bebê chimpanzé, de talvez um ano e vestido com uma fralda, grita conforme a gangue de traficantes de animais que mataram sua família é presa por policiais.

O pequeno assustado, de olhos arregalados devido ao terror, se afasta do cinegrafista da BBC que está filmando o ataque. Incerto sobre onde buscar proteção, ele corre para o único ser humano que reconhece: o criminoso que o manteve cruelmente acorrentado na escuridão.

Esse é o clímax de The Chimp Smugglers ("Os traficantes de chimpanzés"), uma investigação minuciosa sobre o comércio de animais selvagens que, durante um ano, seguiu uma trilha em seis países que culminou nas ruas da maior cidade da Costa do Marfim, Abidjan.

Em um ataque cuidadosamente planejado, um jornalista disfarçado como um corretor se aproximou da gangue oferecendo grande quantia de dinheiro para comprar um bebê chimpanzé para um cliente rico dos Estados do Golfo.

Porém, conforme o chefe dos traficantes, o empresário corrupto Ibrahima Traore, se prepara para entregar o animal, a polícia entra em cena e Traore é capturado.

À medida que a polícia busca o bebê cativo, eles encontram uma minúscula masmorra com muitos azulejos azuis, um local que apresenta inúmeros vídeos on-line que oferecem chimpanzés para venda. Parece que a investigação descobriu um centro insalubre do comércio de animais “exóticos”.

O pequeno chimpanzé, mais tarde chamado Nemley Junior, nasceu na natureza. Os caçadores que o capturaram não apenas roubaram sua liberdade e o condenaram a uma vida de tortura e miséria, como também exterminaram sua família.

Para cada bebê vendido, estima-se que cerca de 10 adultos são mortos. Esses animais incluem inevitavelmente a mãe do bebê, talvez seu pai e muitas vezes outros jovens e suas mães.

Na natureza, as fêmeas com filhotes pequenos gostam de se reunir, assim como as mães humanas. Seus bebês gostam de brincar e as mães podem ajudar e se apoiar. Essas famílias são especialmente propensas a passar o tempo juntas, formando ligações que duram uma vida.


É preciso muito esforço para uma mãe chimpanzé criar seu bebê. Eles permanecem em contato físico quase constante por dois anos enquanto ela amamenta e carrega o pequeno. Quando os bebês sobem em árvores e balançam fora do chão, as mães os vigiam, muitas vezes esticando-se para oferecer um toque reconfortante.

Os chimpanzés trabalham juntos e em equipe quando são ameaçados por leopardos ou cobras. Mas quando se trata de caçadores com armas automáticas, nenhuma solidariedade pode salvá-los.

Somente os animais menores são levados. Os jovens mais velhos são pouco usados no comércio de animais domésticos, pois os compradores querem bebês bonitos, não adolescentes impertinentes. Mas nenhum do grupo será poupado: seus corpos massacrados são vendidos como “carne de caça”.

Essa foi a primeira experiência de Nemley Junior com seres humanos: ele viu o assassinato de todos que amava, para então ser trancado em uma caixa e mantido em sua própria sujeira.

Os gângsteres se certificaram de que ele tinha comida e água, porque ele era considerado valioso – um chimpanzé bebê pode ser vendido por até US$ 25 mil no Extremo Oriente.


Durante os anos 1990, um trabalho de resgate do Instituto Jane Goodall, em Burundi, na África Central, salvou uma dúzia de chimpanzés órfãos do comércio local de animais domésticos.

Um deles era uma fêmea que tinha cerca de seis anos. Ela era muito grande para ser um animal doméstico e foi trancada em uma caixa de metal, pendurada em uma parede. Não havia uma superfície plana onde pudesse se sentar. As pessoas continuamente a cutucavam pelas grades, a atormentavam e gritavam com ela.

Quando um membro da equipe acendeu um cigarro, ela estendeu a mão para ele. Foi descoberto mais tarde que seus captores costumavam dar a ela cigarros e uísque porque achavam engraçado.

Ela foi levada para um santuário, onde sua condição física melhorou lentamente. As cicatrizes mentais, entretanto, nunca sararam. Talvez surpreendentemente, dadas suas experiências, ela nunca foi agressiva, porém, se sentava em posição fetal e balançava-se de um lado para o outro em terrível angústia.

Uma linda chimpanzé chamada Cleo também foi salva. Ela foi morar temporariamente com uma família que já cuidava de um órfão de quatro anos chamado Socrates, que a adorava, mas sua devoção terminou de forma trágica: um dia, enquanto brincavam no jardim, perturbaram uma colmeia de abelhas selvagens. Socrates se lançou em volta de Cleo para protegê-la e foi morto. Cleo sobreviveu, mas, pela segunda vez em sua curta vida, foi traumatizada pela perda de um ente querido.

Os chimpanzés são nossos primos mais próximos e compartilham nossa capacidade emocional de sofrer. Eles também possuem uma longa vida e podem atingir até 50 anos. Ainda assim, alguns são mantidos em gaiolas, sem qualquer espaço para se virar, por décadas.


Mais cruel do que o confinamento é o isolamento social. Os chimpanzés, como nós, são animais sociáveis. Eles precisam de companheirismo. Ficar presos e sós é uma tortura para eles.

Quando o vídeo da BBC mostra o pequeno Nemley chorando desesperadamente pelo toque e conforto, sentindo tanto a falta da mãe, ficamos perturbados.

Os clientes ricos muitas vezes mimam seus novos animais domésticos por um curto tempo. Os bebês serão vestidos com roupas humanas e receberão muita atenção. No entanto, além de isso não ser natural, nunca dura muito tempo. Para controlar seu comportamento ou simplesmente para atormentá-los, os responsáveis usam coleiras de choque elétrico.

Logo eles se cansam e mantêm os animais em gaiolas. Mais horrível ainda, eles podem ter seus polegares amputados para serem impedidos de escalar. Um chimpanzé adulto é quatro ou cinco vezes mais forte do que um homem. Então eles são trancados e ignorados ou simplesmente mortos.

As consequências mais amplas desse narcotráfico são ainda mais alarmantes. Ninguém sabe exatamente quantos chimpanzés sobrevivem na natureza, mas a melhor estimativa aponta para 300 mil. Eles são dizimados pela caça, pela expansão humana, pelo desmatamento e perda de habitat. Em quatro países africanos, os chimpanzés já estão extintos.

Em todos os outros países, eles estão oficialmente ameaçados, mesmo em lugares onde reservas naturais e zonas de conservação foram criadas. Se continuarem a ser mortos nesse ritmo, os chimpanzés selvagens podem ser extintos dentro de 10 anos. Os únicos sobreviventes serão aqueles isolados em zoológicos.


Comerciantes de animais domésticos que exterminam as fêmeas provocam danos incalculáveis. Os chimpanzés se reproduzem muito lentamente: uma fêmea pode ter um bebê a cada cinco ou oito anos. Isso ocorre porque cada bebê precisa de muitos cuidados para sobreviver. Ao contrário dos humanos, elas não podem ter vários filhos de uma só vez – embora às vezes tenham gêmeos, suas chances de sobrevivência são limitadas.

Por isso, para prosperar, a população de chimpanzés precisa de tantas fêmeas. Cada fêmea tem um valor único. No entanto, são precisamente elas que correm maior risco devido aos caçadores.

Essa situação não está perdida – não inteiramente. A investigação da BBC representa um sucesso significativo, embora seja alarmante ver quão despreocupado o principal traficante de animais, Traore, estava quando foi preso. Em cidades pobres, a corrupção é abundante e existe o receio de que os caçadores usem o suborno para escapar da cadeia, segundo o jornal Daily Mail.

Enquanto existirem chimpanzés selvagens e habitats florestais para eles, ainda há esperança. Devemos trabalhar para criar programas de conservação eficazes. Isso significa ensinar as comunidades locais a ver como as vidas dos chimpanzés são valiosas.

Devemos fazer tudo o que pudermos – não apenas para salvar alguns chimpanzés como Nemley Junior, mas para que dentro de 10 anos não tenhamos de enfrentar as próximas gerações e admitir: “Permitimos a extinção dos chimpanzés”.


Fotos: BBC


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