Em 1973, no auge da carreira, a famosa atriz francesa Brigitte Bardot, que estrelou 47 filmes, anunciou sua aposentadoria do cinema. E foi assim, aos 39 anos, que ela iniciou uma nova vida como ativista dos direitos animais.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em 10 de julho de 2015, ela contou que quando descobriu a verdade sobre a realidade da exploração animal, tornou-se óbvio para ela, e até mesmo indispensável, colocar um fim em sua carreira, “que era somente brilho e vaidade, para que eu pudesse me dedicar a essa causa urgente”.
Em entrevista publicada pelo tabloide Daily Mail em 2 de novembro de 2014, Brigitte relatou que a fama não a satisfazia mais, e que seu amor pelos animais deveria ser expressado oficialmente. “Jamais olhei para trás. Nasci com o amor pelos animais. Não tive nenhum perto de mim na minha infância porque estávamos em guerra, e a vida em Paris era muito difícil”, declarou. A experiência a marcou tanto que ela jamais suportou o som de fogos de artifícios ou trovões, porque remetem às lembranças dos bombardeios.
O que Brigitte Bardot nunca deixou de destacar como realmente positivo em relação à sua fama é o fato de ter condições de conseguir ajuda de pessoas do mundo todo. Em 1986, ela leiloou seus bens para criar a Fondation Brigitte Bardot, para o bem-estar e proteção dos animais. “Resgatei cães e gatos de rua durante toda a minha vida, mas quando comecei a fundação, minha intenção já era fazer muito mais do que isso. Meu objetivo é proteger todos os animais selvagens ou de estimação da França e do exterior. Comecei pequena. Tive de aprender tudo sobre proteção dos animais – as leis, a organização de instituições de caridade, a gestão e as obrigações de saúde e segurança”, enfatizou ao Daily Mail.
Ao longo da trajetória como defensora dos animais, ela encontrou muitos obstáculos, principalmente porque, segundo ela, há um grande número de pessoas insensíveis ao sofrimento dos animais, pelos quais elas têm profundo desprezo. “Elas os consideram objetos de lucro ou carne sobre pernas”, queixou-se à jornalista Liz Jones, do Daily Mail.
Brigitte é vegana, assim como seu marido, Bernard d’Ormale, e seus amigos mais próximos. Para a ativista, comer a carne dos animais é semelhante ao canibalismo. “Passamos a proteger uma espécie somente quando ela está quase extinta - o elefante africano e o rinoceronte, por exemplo. Há uma necessidade urgente de protegê-los porque os rebanhos estão sendo massacrados. Mas [como sempre] soamos o alarme apenas quando é muito tarde”, lamentou.
Muitas vezes acusada de incitar ódio racial por causa de seus comentários sobre abate ritual de animais, ela nunca se arrependeu de nada que tenha dito ou escrito sobre o assunto. “Já fui ameaçada muitas vezes por caçadores, açougueiros que vendem carne de cavalo e assassinos de focas. Mas ainda estou viva!”, revelou a Liz Jones.
Entre as mais importantes bandeiras de Brigitte Bardot, está a luta pelo fim do abate halal (islâmico) e kosher (judaico) de bovinos, além do banimento do consumo de carne de cavalo. “Depois de 30 anos, minha fundação ganhou muitas batalhas pequenas, mas ainda estamos esperando pelas grandes vitórias que dependem do governo, e ele não nos concederá, infelizmente”, lamentou em entrevista à ativista Lauren Kearney, do site Respect and Connect, publicada no Huffington Post em 26 de abril de 2016.
Para alcançar seus objetivos, Brigitte passa o dia escrevendo cartas para ministros de governo, chefes de estado estrangeiros, prefeitos e altos funcionários públicos. “Também cuido dos meus animais – tenho quase 50 cavalos, burros, pôneis, cabras, ovelhas e porcos –, todos salvos de abatedouros”, confidenciou. Ela também é responsável por gatos, galinhas, gansos, patos e cães resgatados.
Questionada por Liz Jones, do Daily Mail, se é mais difícil envelhecer quando se foi um grande exemplo de beleza na juventude, ela explicou que não tem tempo nem desejo de olhar para o próprio umbigo. Maior reflexo disso é que Brigitte Bardot não tem hora para almoçar. “Apenas como um pedaço de chocolate ou alguma fruta. O almoço me faz perder tempo”, argumenta.
Embora dedique muito tempo à Fundação, ela não vê com bons olhos a questão dos direitos animais. “O que mais me frustra é que não há direitos animais. Os animais não têm direitos”, desabafou a Lauren Kearney, do Respect and Connect. Apesar de tudo, Brigitte segue tentando pressionar governos do mundo todo a criarem leis mais compassivas em defesa dos animais.
Durante a entrevista, Lauren pediu que Brigitte enviasse uma mensagem ao mundo. Em uma frase curta, que lembra muito o que foi dito pelo escritor irlandês e vegetariano George Bernard Shaw, ela disse: “Os animais são nossos amigos, e nós não comemos nossos amigos”.
Uma de suas lutas mais antigas é contra a indústria de peles, considerada por ela como uma indústria da morte e do sofrimento. “Diante dessa normalização da crueldade, devemos reagir. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, publicada em 10 de julho de 2015, perguntaram o que ela diria ao conceituado designer de moda alemão Karl Lagerfeld, radicado em Paris e conhecido por defender o uso de animais na indústria da moda, alegando que eles também são explorados para consumo.
“Duvido muito que Karl Lagerfeld coma muitos visons, raposas ou chinchilas. É importante não misturar as coisas. Cada batalha deve ser travada em seu próprio direito. A criação de animais para a extração de sua pele é absolutamente terrível”, ponderou. Acusada de já ter usado as roupas de Lagerfeld, Brigitte Bardot rebateu que leva a vida de uma pessoa do campo, então não vê como seria possível que ela usasse algo da grife do alemão enquanto alimenta suas cabras.
“Tenho respeito por Lagerfeld enquanto homem, mas teria muito mais se ele, por sua vez, respeitasse os animais. Não vivemos no mesmo mundo. Ele se inclina para seu gato, mas não se importa com todos os animais que são sacrificados para suas coleções, pela mais fútil e vulgar das modas. Pele não é luxo. É uma indústria de morte e sofrimento. Devemos boicotar casacos de pele, assim como todos os acessórios [feitos com material de origem animal]. É inacreditável que tenhamos de lutar por algo que deveria ser óbvio para todos”, protestou ao The Guardian.
Sua batalha para proteger as focas abatidas pela indústria da pele é considerada uma das mais simbólicas da luta pelos direitos animais na Europa. “Igualmente, conseguimos obter sucesso na proibição da venda de pele de gato e de cachorro na Europa. No entanto, essa proibição deve ser estendida a todas as espécies. Pele é somente para o uso do animal que a possui. Orgulho, estupidez ou simplesmente ignorância permitiram que essa tendência sobre a exploração de peles de animais florescesse mais uma vez”, criticou ao jornal The Guardian.
Indagada pela jornalista Liz Jones, do Daily Mail, sobre o motivo do ser humano ter tão pouca compaixão pelos animais, ela respondeu: “O ser humano não evoluiu. Ele permanece fundamentalmente cruel e bárbaro, mesmo quando pensa que mudou”.
Brigitte Bardot nasceu em Paris, em 28 de setembro de 1934, e começou a conquistar fama internacional em 1956, com o filme E Deus Criou a Mulher, do cineasta francês Roger Vadim. Esse e Amar é a Minha Profissão (1958), A Verdade (1960), O Desprezo (1963) e Viva Maria! (1965) são considerados os cinco filmes mais importantes de sua carreira artística.
Referências
Fotos: Reprodução
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