Foto: Carolina Holland / G1
Depois de mais de 40 anos vivendo em cativeiro e passando por maus-tratos, as elefantes Guida e Maia foram finalmente libertadas. As duas são as primeiras habitantes do primeiro santuário de elefantes da América Latina. Os animais chegaram à área, localizada na Chapada dos Guimarães, a 65 de km de Cuiabá (MT), na terça-feira passada (11/10/2016), tendo sido soltas no dia seguinte.
Depois de mais de 40 anos vivendo em cativeiro e passando por maus-tratos, as elefantes Guida e Maia foram finalmente libertadas. As duas são as primeiras habitantes do primeiro santuário de elefantes da América Latina. Os animais chegaram à área, localizada na Chapada dos Guimarães, a 65 de km de Cuiabá (MT), na terça-feira passada (11/10/2016), tendo sido soltas no dia seguinte.
"Os humanos têm tirado os elefantes da natureza para oferecer como entretenimento. A gente precisa dar a dignidade e o respeito que eles merecem", diz o presidente da ONG internacional Global Sanctuary for Elephants (Santuário Global para Elefantes), responsável pelo santuário no Brasil, Scott Blais.
Não se sabe ao certo a idade das duas, já que foram sequestradas ainda filhotes na Tailândia e trazidas do país asiático para o Brasil para trabalharem em circos. Mas estima-se que Maia tenha 44 anos e Guida, 42. Normalmente, na natureza, um elefante vive em média 70 anos e, em cativeiro, 35 anos.
A área para onde elas foram levadas foi comprada pela Global Sanctuary for Elephants em maio de 2015, depois de quase dois anos de procura.
Guida e Maia chegaram a Mato Grosso na terça-feira passada, depois de dois dias de viagem para percorrer 1,6 mil km entre Paraguaçu (MG), onde viviam em um sítio, e a Chapada dos Guimarães. Parte dos custos do transporte, estimado pela ONG em US$ 45 mil, foi bancada por doações, feitas por meio de crowdfunding. O santuário também deve ser mantido com doações.
Ao chegarem ao santuário, as duas ficaram separadas em uma espécie de jaula construída no galpão. Ainda assim se aproximaram uma da outra, mesmo por entre as grades. “Elas estavam muito sensíveis e dóceis entre si. Estavam se tocando e fazendo barulho. Foi emocionante”, conta Blais.
No dia seguinte, a grade foi suspensa e, depois de muitos anos, as duas fizeram o primeiro contato entre si sem que estivessem acorrentadas ou amarradas. Havia uma expectativa em relação a isso por parte dos membros da ONG porque não se sabia qual seria a reação de ambas - havia o receio de que pudessem ser agressivas uma com a outra, o que não aconteceu. Maia e Guida foram dóceis e receptivas.
Pouco tempo depois desse contato, elas puderam, finalmente, ser soltas na natureza. "Antes de isso ser feito, era preciso que deixássemos as duas interagirem um pouco primeiro. Tudo é feito em etapas", explica a presidente do Santuário Brasil de Elefantes, Júnia Machado. As grades foram abertas e as elefantes puderam conhecer de perto o novo lar. A adaptação foi instantânea: elas começaram imediatamente a explorar a vegetação local.
Apesar de o Santuário ter 1,1 mil hectare, por enquanto, em função de limitações financeiras, as elefantes terão acesso a uma área de meio hectare, cercada por tubos de aço de petróleo enterrados a dois metros de profundidade e, depois, concretados. “Em poucas semanas, já vamos ver uma área maior. Até o final do ano, vão ser dois currais de 10 hectares, que é a fase um”, disse Júnia.
A fazenda em si consegue prover toda a alimentação de Maia e Guida, baseada em gramíneas de todos os tipos, frutas e trepadeiras. Mas a ONG vai ter de providenciar suplementos para ambas, em especial Guida, visivelmente abaixo do peso. Elas ainda vão passar por exames médicos para verificar seu estado de saúde.
Quatro pessoas deverão ficar diretamente responsáveis pelos animais no Santuário, sendo que duas delas - Scott Blais e sua esposa - já moram na fazenda. A estimativa é que cada elefante tenha custo mensal de US$ 3 mil a US$ 5 mil, de acordo com o presidente do Global Sanctuary for Elephants.
"Nosso objetivo é ajudar projetos como esse, ajudá-los a se estabelecerem. É realmente muito difícil, requer muito trabalho, habilidades, conhecimento e perseverança. Mas sabemos que conseguimos ajudar dessa forma, que podemos ajudar a construir uma equipe assim, que é essencial", afirma Blais.
O Santuário tem capacidade para abrigar 50 elefantes. O próximo animal a ser levado para o local deve ser Ramba, resgatada de um circo no Chile. A previsão é que ela chegue no início do ano que vem.
Resgate
A história das duas elefantes começou a mudar em 2010, depois de uma fiscalização do Ibama. Elas foram confiscadas de um circo na Bahia e levadas provisoriamente para um zoológico baiano. Após acordo com os órgãos de fiscalização responsáveis, foram encaminhadas para um sítio do advogado desse circo, localizado em Paraguaçu (MG).
No sítio, entretanto, foram constatadas irregularidades. As duas ficavam acorrentadas, sem contato uma com a outra, e não tinham um lugar com sombra para ficar. Foi nessa época que o Ministério Público entrou em contato com a Global Sanctuary for Elephants para que pudesse acolher Guida e Maia.
1. Assine aqui a petição da campanha Santuário de Baleias do Atlântico Sul: #santuarioeuapoio, lançada pelo Ministério do Meio Ambiente.
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