21 de setembro, Dia da Árvore – e o resto do ano?

Jerivá, palmeira típica do Brasil e que pode ser encontrada nos centros urbanos do País 



Por Paulo Furstenau e Lito Fernandez*


Hoje é Dia da Árvore, esse ser vivo que fornece oxigênio para o planeta, diminui a poluição, ameniza o calor, abriga vários animais, nos oferece sombra e alimento, entre muitas outras contribuições ao meio ambiente. Mas o que o ser humano faz em retribuição? Além do desmatamento criminoso que ocorre na Amazônia e diversas partes do Brasil e do mundo, os maus-tratos impingidos contra as árvores acontecem bem perto de nós, e diariamente somos testemunhas desses crimes, sem nem ao menos nos darmos conta.

Veja a foto abaixo. Cimentar árvores é uma prática bastante comum nos grandes centros urbanos. O cimento estrangula a árvore, pois impede a penetração da água e a obtenção de nutrientes da terra, deixando-a doente e vulnerável a pragas, o que a levará inevitavelmente à morte. E isso significa não apenas uma perda lastimável para a natureza, como um risco para a vida dos seres humanos e outros animais que possam estar próximos quando ocorrer a queda da árvore. 



    Foto: Revista Época


As pragas que podem atingir as árvores, decorrentes de sua saúde fragilizada, são cupins e erva-de-passarinho. Sobre esta última, por ser uma planta e dar frutos (de coloração amarela), algumas pessoas podem achar que seja parte da árvore, que ganhou um novo e bonito visual. Mas a realidade é que essa erva-de-passarinho é um parasita que suga sua seiva e irá cobrir sua copa, impedindo-a de produzir a fotossíntese, abafando-a e levando-a, aos poucos, à morte. Veja na foto abaixo como a praga toma conta da árvore e se torna ainda maior que ela. 

Uma medida tomada pelo poder público para promover a manutenção de árvores, impedindo que suas copas alcancem a fiação elétrica e causem acidentes, é a poda. No entanto, muitas vezes o procedimento é feito de maneira errada, cortando-as de qualquer jeito, mutilando-as e dando abertura para entrada de doenças, acarretando, por fim, também sua morte. 



      Foto: Roberto Almeida


Além da cimentação, uma prática bastante comum é a construção de muretas em torno da árvore, que até fica com um pouco de espaço de terra ao seu redor, mas apenas terá seu fim inevitável adiado. Quem faz muretas acredita que esteja dando um acabamento paisagístico que irá realçar a presença da árvore. Grande equívoco. Veja as fotos abaixo. Na primeira, a árvore vai crescendo e seu tronco é cortado pela mureta, cortando a passagem de seiva. E chega a hora de ela começar a ser estrangulada e não conseguir se nutrir, assim como suas desafortunadas irmãs cimentadas. Já na segunda, houve espaço suficiente para o crescimento do tronco, mas ainda assim a mureta contém a chegada da água que corre pela calçada. O normal é que árvore e terra estejam no mesmo nível da calçada e sem contenções.


    Fotos: Árvores de São Paulo (esquerda) e Mínimo É o Máximo (direita)



As calçadas ecológicas como da foto abaixo oferecem espaço adequado para as árvores crescerem e obterem nutrientes do solo. Algumas cidades no País, inclusive, já estabeleceram leis que obrigam novos empreendimentos residenciais, comerciais, industriais e de serviços a incluírem calçadas ecológicas em seus projetos paisagísticos.

É importante lembrar que espaços de terra como esses, além de garantirem a vida das árvores e tornar o espaço urbano mais bonito, ainda absorvem a água das chuvas, prevenindo inundações.




Como consequência do crescimento natural e saudável, as árvores não mais adoecerão, não cairão, não colocarão outras vidas em risco. E continuarão oferecendo sombra, temperaturas mais amenas, ar mais limpo, oxigênio, diminuição da poluição sonora e um ambiente propício à vida animal. E a parceria entre árvores e aves é garantia de beleza para os olhos e ouvidos – e, além do canto, os pássaros ainda se alimentam de mosquitos, incluindo o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.

Não parece uma boa ideia viver em um ambiente harmônico como esse?


O que você pode fazer

Sempre existe algo que podemos fazer pelo bem da vida que nos rodeia – de pessoas, animais, vegetais. Se você ainda não havia se dado conta do sofrimento que passam as árvores cimentadas, muretadas e mutiladas por podas mal feitas, e se sensibilizou com isso, entre em contato com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente da sua cidade. Cobre soluções do poder público para que seja dado a elas o espaço que precisam para se alimentar e viver e que sua manutenção seja feita da maneira correta.

Em nosso Centro de Adoção, uma alternativa para fazer o bem pelos animais é o apadrinhamento: algumas pessoas não têm condições de adotar, devido a seu ritmo de vida ou falta de espaço adequado, mas podem contribuir com alimentação, medicações, brinquedos etc. para aqueles que estão na ONG esperando uma família.

E por que não estender o apadrinhamento de animais para outros seres vivos? Apadrinhe as árvores da sua vizinhança. Lute por espaço para as que estão estranguladas e, quanto àquelas que já têm seu quinhão de terra, como calçadas ecológicas ou praças, leve um pouco de material orgânico, cuide para que não haja lixo ao seu redor – retire se houver; se for muita quantidade, recorrente, acione a prefeitura, pois é obrigação deles manter a cidade limpa (há inclusive muitas calçadas ecológicas criadas pelas prefeituras, mas que estão abandonadas, entulhadas de lixo).

E você também pode adotar uma árvore! E plantá-la em seu jardim, na frente da sua casa/prédio ou outro terreno. Órgãos governamentais e não governamentais de diversas cidades doam mudas de espécie nativa. Em São Paulo, você pode adotar em um dos seguintes locais: Viveiro Manequinho Lopes, no Parque Ibirapuera; Viveiro Arthur Etzel, no Parque do Carmo; Viveiro Harry Blossfeld, no Parque Cemucam (o site Ciclo Vivo lista onde conseguir mudas nativas gratuitas em outros estados brasileiros - veja aqui).

E não apenas árvores podem ser adotadas. Supermercados costumam jogar fora plantas e flores que não foram vendidas, e você pode solicitar aquelas que estão destinadas ao descarte. Além disso, assim como existem pessoas insensíveis que abandonam animais, também há aquelas que abandonam plantas e flores. Sim, é muito comum ver vasos contendo vidas jogados em lixeiras, caçambas ou largados no meio-fio. Fique atento e você acabará encontrando um. Uma opção é recolher e replantar em algum terreno como uma calçada ecológica ou outro espaço com terra (nós já fizemos isso com uma moreia encontrada em uma caçamba de lixo. Veja aqui). Ou melhor ainda: leve para casa, cuide, regue, ofereça luz solar, material orgânico.

Faça sua parte. Cuide da vida!


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário e Lito Fernandez é biólogo e presidente da Associação Natureza em Forma

Nenhum comentário:

Postar um comentário