Ativista da causa animal vira notícia por ser bonito, mas ele é muito mais que isso



Por Paulo Furstenau*



O ativista norte-americano Dexter Thomas, 34 anos, foi destaque do noticiário internacional na semana passada, ao ser eleito o "vegano mais sexy do ano" pela ONG PETA. 

Além de ser um ativista da causa animal, ele luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT). E é, ele próprio, um transexual. Sim, ele nasceu mulher, e tem uma bela história de vida.

Dexter Thomas cresceu em uma fazenda de gado e tornou-se vegano aos 17 anos, começando a militar paralelamente pelos direitos dos animais e de jovens sem-teto da comunidade LGBT. Ele começou uma bem-sucedida campanha para que a lanchonete de sua escola oferecesse opções veganas, mas teve que abandonar os estudos por causa da perseguição que sofria dos outros alunos, por ser diferente. No entanto, anos depois, ele se formou com a maior das honras (summa cum laude) na faculdade e hoje faz doutorado em psicologia social.

Entre suas ações para ajudar animais e humanos, Thomas combateu rodeios, mostrando à Associação de Rodeio Gay de Utah a conexão entre a opressão a todas as formas de vida senciente, e foi voluntário no Centro de Orgulho Gay de Utah, atuando como mentor de jovens. 

Antes de começar o doutorado, ele passou quase dois anos em institutos nacionais de saúde, pesquisando maneiras de promover a saúde e o bem-estar, incluindo estudos sobre o bullying cibernético contra jovens pertencentes a minorias sexuais, combate ao apelo comercial das comidas não saudáveis e promoção de refeições saudáveis e vegetarianas. 

Culto à beleza e antiespecismo não combinam

Fica claro que os méritos do rapaz independem de ele ser bonito por fora ou não. Quanto ao concurso, ressaltamos que nós, da Associação Natureza em Forma, embora respeitemos a PETA e seu trabalho pela causa animal em todo o mundo, não achamos nada pertinente a promoção de um concurso de beleza entre ativistas.  

O ativismo animal prega, entre outras coisas, a igualdade entre todos os seres. O que dizer sobre premiar pessoas que supostamente são mais bonitas que as outras (entre os critérios para escolha do vencedor enunciados em seu site, a PETA coloca "entusiasmo do candidato pela vida vegana" e "nossa avaliação sobre como sua imagem é agradável esteticamente")?

A PETA pode encarar isso como uma brincadeira inocente e não colocar maldade, mas nós achamos um desserviço ao antiespecismo, pelo qual a própria organização e todas as demais realmente sérias da causa animal lutam (leia mais sobre o especismo aqui). Quem vence são os bonitos, pois são melhores que outros menos bonitos ou feios? Em nosso caso, que atuamos com adoção responsável de animais, vemos ainda como aqueles menos "agradáveis esteticamente" levam mais tempo para encontrar um lar.

No caso dessa eleição, é certo que foi o fato de um transexual vencer na categoria masculina que fez a mídia noticiar um assunto como a eleição do "vegano mais sexy do ano". Não vamos questionar se o rapaz se candidatou por vaidade, pelo prêmio (uma viagem ao Havaí) ou para dar maior visibilidade às causas animal e LGBT - e muito menos discutir se ele levou o título porque realmente era o mais bonito. Nada disso importa. 

O que realmente importa aqui foi que algo positivo acabou saindo desse concurso questionável: a divulgação em diversos países da história de um transexual que lutou contra as próprias adversidades e tornou-se um vencedor na vida, muito mais importante que qualquer concurso. E que, no caminho, defendeu e defende as minorias sexuais e animais. Dexter Thomas ganhou o título de "vegano mais sexy do ano", mas ele é bem mais que um rostinho bonito e isso sim é notícia. 

"Aprendi em primeira mão como as pessoas são capazes de imensas crueldades contra aqueles que consideram inferiores. Percebi que a atitude que leva à transfobia, homofobia, sexismo etc. é a mesma que leva à forma como tratamos os animais. Isso foi um dos motivos de eu ter me tornado vegano", disse Dexter Thomas. E é uma mensagem como essa que precisa alcançar o mundo. 



Fotos: Arquivo pessoal


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

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