Como viajar com seu animal de estimação

o primeiro dia das nossas vidas juntas


A primeira coisa que notei na Filó, minha gata de estimação que adora azeitona, mamão, grão-de-bico, aspargos e abóbora, é que ela é meio estrábica. Foi justamente esse seu “defeito de fabricação”, e o fato de ela ter literalmente se aconchegado nos meus braços assim que a peguei no colo, que me fez tirá-la da rua. Era 22 de fevereiro de 2010, no Rio de Janeiro, e ela devia ter uns quatro meses. Eu, 30 anos.

Naquele dia, eu e meu então namorado tínhamos feito uma compra grandinha num supermercado no bairro da Glória, mas, mesmo assim, decidimos subir a pé para Santa Teresa, onde ele morava. Normalmente a gente pegava um táxi pra isso, mas como os destinos estavam mesmo cruzados, nós não só resolvemos subir a pé uma ladeira enorme embaixo de um sol forte, como decidimos entrar em uma rua que nunca pegávamos pra ir pra casa. E lá estava a Filó, em cima de uma mureta, olhando o movimento.


A verdade é que além de apreciar mais vegetais do que carnes, a Filó é viajada. Do Rio a levei para São Paulo, em abril de 2010. De São Paulo, para Milão, em maio de 2012. E fomos para a França de carro, em agosto do ano passado. Em todas as viagens ela estava junto comigo, dentro de uma caixa para pets, e em nenhuma delas reclamou ou deu escândalos. Não tão legal assim foi a burocracia para viajar com ela de avião.


A temida papelada

Do Rio de Janeiro para São Paulo, só precisei da sua carteira de vacinação certificando que a vacina antirrábica tinha sido dada há pelo menos um mês, de um atestado de bom estado de saúde feito por um veterinário (em torno de R$ 70) e de R$ 100 para a taxa de embarque. A caixinha com a Filó dentro não poderia passar de 5 kg – segundo as normas da Azul Linhas Aéreas. A história ficou burocrática mesmo de São Paulo para Milão, mas essa viagem tinha que ser feita porque uma coisa que muita gente ainda não entendeu é que os animais não são objetos que você compra, dá, joga fora ou vende.

Papos animalistas à parte, recomendo muita atenção se você tiver que viajar com seu bichinho para a União Europeia, pois são exigidos muitos documentos e cada um deles tem validades bem diferentes um do outro. O importante é saber que os preparativos devem começar exatamente três meses antes da viagem, pois você precisa providenciar o tal do laudo da sorologia antirrábica. Isso, porém, não é bem alertado pelo pessoal da Vigiagro – o departamento do Ministério da Agricultura que emite o CZI (certificado zoosanitário internacional, necessário para qualquer viagem para o exterior).

O laudo da sorologia é feito assim: 90 dias antes da viagem, leve o bicho ao veterinário para colher sangue, que deverá ser armazenado num isopor lacrado e cheio daquele gelo seco. Só algumas clínicas fazem esse tipo de coleta, então procure uma que faça isso e também a microchipagem, pois também é necessário para a viagem. Se você mora em São Paulo, no mesmo dia da coleta, leve esse sangue para o laboratório do Centro de Controle de Zoonoses (Rua Santa Eulália, 86) e torça para que o resultado desse exame seja acima de 0,5 UI/ml. Outra informação importante que ninguém fala pra você é que para fazer a coleta do sangue, a vacina antirrábica deve ter sido dada pelo menos 30 dias antes.

Feito isso, quando faltarem dois dias para a viagem, começará outra novela. Você precisa agendar um horário na Vigiagro, que fica no Aeroporto Internacional de Guarulhos, e levar (ou mandar por um motoboy) toda a documentação para a emissão do CZI, que fica pronto na hora e tem validade de 5 a 10 dias, conforme o país de destino. Clique aqui para ver a lista completa dos documentos exigidos pela União Europeia. Se a viagem for para outro lugar clique aqui, pois a documentação exigida será diferente, mas sempre será obrigatório emitir o CZI.

É importante fazer tudo isso bem perto da data da viagem porque o atestado de boa saúde, que também será necessário para a emissão do CZI, tem validade de três dias. E o veterinário deverá escrever o atestado exatamente como manda o Ministério da Agricultura (veja o modelo no item 3 desse documento aqui). Fique atento!

No meio dessa confusão toda, não se esqueça de avisar a companhia aérea de que você vai embarcar com um animal e de fazer o seu check-in e o dele 24 horas antes da viagem. Eu, a Filó e minha mãe viemos com a Air France, que permite que o animal vá na cabine de passageiros quando a caixinha com ele dentro não passa de 6 kg. Nesses casos, a taxa de embarque é de uns 200 Dólares, mas tanto o peso da caixinha como a taxa vão depender das normas de cada companhia aérea.

No fim de tanta chatice, me conforta lembrar que, apesar de cansativa, a viagem foi perfeita. Mesmo sem sedativos, minha lady felina estrábica veio tranquila e não fez xixi nem cocô durante toda a viagem, que ainda teve escala em Paris e durou no total umas 15 horas. Agora ela está aqui ao lado do computador, porque é quentinho, depois de ter se esbaldado com aspargos frescos que cozinhei para o jantar de hoje.

minha amiga em Milão

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