Manual do animal idoso

Cães e gatos mais maduros e experientes precisam de cuidados redobrados com a saúde e alimentação


Assim como os humanos, os animais de estimação estão vivendo cada vez mais e melhor. Há até animais como o cachorro Pusuke, que busca reconhecimento como o cão mais velho do mundo no Livro dos Recordes. Mas a exemplo das pessoas idosas, os bichos que estão nessa fase da vida também precisam de cuidados especiais.

Felizmente, com os avanços da medicina veterinária e a proliferação de especializações como oncologia, endocrinologia e oftalmologia, entre outras, ficou mais fácil dar qualidade de vida aos animais. Mas afinal, quando eles começam a ficar idosos?

Segundo a médica veterinária Estela Pazos, especialista em felinos, um gato é considerado “maduro” aos oito anos, e idoso a partir dos 10. Ela explica que, nessa idade, o comportamento dos bichanos se altera, tornando-se comum miados mais frequentes e até o animal começar a urinar fora da caixa sanitária. “Eles passam a dormir o dia todo em locais mais escondidos, convivem menos com as pessoas da casa e até deixam de ir até a porta para receber o tutor na entrada.”

Além de ser especialista em felinos, a veterinária conhece de perto o cotidiano dos gatos idosos, porque tem a companhia de Catatau, um SRD (sem raça definida) de 14 anos. Ele mora com Estela há 11 anos, quando ela o resgatou em uma clínica, onde o bichano foi abandonado após ser atropelado. Ela conta que o gatinho, apesar da idade, é bem ativo e adora brincar com ratinhos de brinquedo. “Ele gosta de tomar sol pela manhã, na companhia dos meus outros dois gatos, e lá faz seu ‘banho de gato’ lambendo o corpo todo.”

Segundo a veterinária, quando os gatos envelhecem, perdem massa muscular, a digestão dos alimentos e absorção dos nutrientes diminuem, assim como a função renal. Eles também bebem menos água e tendem a desidratar, por isso é essencial que o tutor esteja atento às mudanças de comportamento. “O mais importante é perceber que os hábitos do animal mudaram e procurar o mais rápido possível por ajuda especializada”, sugere.

Vale lembrar que os cães também sentem o peso da idade. A chegada dos animais à velhice é determinada pelo seu porte, segundo o veterinário Marcelo Quinzani. “Os cães de raças maiores têm o metabolismo mais acelerado e tendem a chegar na terceira idade entre seis e nove anos. Já os menores envelhecem mais devagar e são considerados idosos entre nove e 13 anos.”

Cuidados com a alimentação

A alimentação do bicho idoso também é diferenciada. Como a digestão e absorção são reduzidas com o envelhecimento, o animal deve receber uma ração que tenha digestão facilitada e proteínas de boa qualidade. As necessidades nutricionais de um cão velhinho são bem distintas das outras faixas etárias, por isso é preciso - com o auxílio de um especialista - fazer algumas alterações em sua rotina alimentar.

“Com o passar dos anos, o metabolismo, a massa muscular e a necessidade energética canina diminuem. Essa característica favorece o ganho de peso e seus problemas decorrentes”, pontua Quinzani. Rever a dieta do bicho, oferecendo alimentos específicos, reduzindo as porções, aumentando o número de refeições diárias e fazendo a suplementação de nutrientes essenciais é fundamental para manter a saúde e bem-estar na terceira idade.

Para o especialista, a avaliação dos dentes de um animal idoso também é de extrema importância, pois se houver dor, ele pode deixar de se alimentar. “A saúde oral dos animais também deve estar em foco; o mau hálito é sinal de problemas como tártaro e periodontite”, alerta o veterinário.

Cuidados com a saúde


Mas não é só a dentição do bicho que deve ser observada de perto. Nessa fase da vida, várias doenças podem surgir. As mais comuns em gatos são: insuficiência renal, hipertireoidismo, osteoartrite (ou artrose), disfunção cognitiva, neoplasias, hipertensão, diabetes, doença cardíaca e doença intestinal inflamatória.

Para os cachorros, os problemas não diferem muito, pois grande parte deles apresenta alterações nas articulações e nos ossos. “Esses problemas são demonstrados através da dificuldade para pular ou subir em um local mais alto, como o sofá”, explica Quinzani. Já na demonstração de dor, o animal se mostra sensível quando tocado próximo à região da coluna e ao executar movimentos simples.

Os cães também podem apresentar alterações cardíacas durante o envelhecimento, mas nem sempre os tutores conseguem reconhecer os sinais clínicos desses problemas. Cansaço e ofegância, intolerância a exercícios, desmaios, língua arroxeada após uma situação de excitação e, principalmente, tosse, são alguns sintomas de cardiopatia.

Casos da vida real

A professora de canto Monica d’Ávila constatou algumas dessas alterações no comportamento de sua vira-lata Pretinha, de 13 anos. “Percebo que ela erra a pontaria para subir em alguns locais, como escada e poltrona. De vez em quando, ela perde o equilíbrio e enxerga mal.” Segundo a tutora, a cadela também perdeu parte da audição e até um pouco da vitalidade. “Antes, ela ouvia alguém chegando e vinha correndo como maluca; agora, ela ouve, levanta a cabeça e não dá bola.”

Ela também percebeu que Pretinha anda menos disposta. “Já está a própria ‘velha rabugenta e dolorida’: se pegar no colo de mau jeito, ela chora. Fica também mais tempo deitada, quieta em cantinhos macios, em vez de andando para lá e para cá. Ela quer ficar no quentinho, não gosta de frio, come menos e rosna mais quando incomodam”, diz a tutora.

Para finalizar, os dois veterinários concordam que todos os cães e gatos devem passar por exames regulares quando chegam à terceira idade. E como a prevenção acaba sendo sempre a melhor saída, confira abaixo uma lista dos exames mais importantes que devem ser feitos anualmente:

> Avaliação odontológica: recomenda-se que seja feita a partir do primeiro ano de vida, mas cerca de 87% dos animais acima de três anos têm doença periodontal justamente porque não fizeram exame preventivo. Ele deve ser realizado por um médico veterinário especialista em odontologia;

> Exame de mama, testículo e próstata: deve ser feito anualmente, a partir dos quatro anos;

> Ultrassonografia abdominal: deve ser feita anualmente para animais acima de seis anos;

> Pressão arterial e eletrocardiograma: recomendado para animais acima de seis anos;

> Ecocardiograma: realizado anualmente, quando os animais apresentam alterações de pressão arterial, presença de sopro cardíaco ou cansaço;

> Exames de sangue: hemograma, ureia, creatinina, colesterol, glicose e enzimas hepáticas são geralmente os mais pedidos a partir dos seis anos;

> Exames de urina e fezes: anualmente, a partir do primeiro ano de vida.

E não se esqueça: durante a terceira idade, a fragilidade dos animais aumenta. Respeito, carinho, atenção e informações sobre os problemas mais comuns do envelhecimento são fundamentais para encarar com tranquilidade essa nova fase e seu amigo aproveitar ao máximo tudo o que a vida ainda tem para oferecer.

Fonte: PetMag

Fotos: Reprodução

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