Dia Internacional do Gato não é para comemoração



Oito de agosto foi instituído como Dia Internacional do Gato. Criado em 2002 pela International Fund for Animal Welfare, a celebração tem o objetivo de debater e conscientizar os tutores sobre como cuidar corretamente de seus felinos, garantindo seu bem-estar. A data não foi criada simplesmente para valorizar esse animal fofinho, mas para conscientizar a população das necessidades e características da espécie, a fim de diminuir o número dos casos de maus-tratos* e preconceito contra o bichano.

Os felinos ainda são protagonistas de outras datas ao longo do ano: Dia Mundial do Gato, em 17 de fevereiro; Dia de Abraçar Seu Gato, em 4 de junho; Dia Nacional do Gato, em 29 de outubro, nos Estados Unidos; Dia Nacional do Gato Preto, em 17 de novembro, também nos Estados Unidos.

O 17 de fevereiro foi criado na Itália, como forma de valorizar a espécie de animal de estimação mais comum na Europa e EUA. No Brasil, estamos quase chegando lá. A população atual de felinos é de mais de 23,5 milhões. Nos últimos seis anos, esse número cresceu cerca de 4%. E não para por aí: a estimativa é que só aumente. A previsão é que, em menos de 10 anos, os gatos serão os animais de estimação predominantes por aqui também.

O jeito curioso, independente e de fácil adaptação a ambientes pequenos são alguns dos fatores que têm levado o brasileiro a se interessar e optar cada vez mais pelos bichanos.

Porém nem tudo são flores. Segundo a bióloga, doutora em psicobiologia e especialista em felinos Juliana Damasceno, os gatos ainda sofrem com mitos criados na Idade Média, na época da Inquisição, quando eram considerados animais místicos e perseguidos pela Igreja Católica. A médica veterinária, especializada em felinos, Vanessa Zimbres lembra que, em países onde predomina essa religião ou mesmo onde a colonização foi feita pelos católicos, essa crença ainda pode ser muito forte, infelizmente.

Por isso, a importância de dias como o 8 de agosto. Apesar de serem os animais mais populares em muitos países, os gatos ainda sofrem grande preconceito e maus-tratos. “É um dia para, além da conscientização para melhores cuidados com os felinos, debater sobre o que podemos fazer para tornar o mundo um lugar melhor para os felinos. Justamente por conta desse preconceito que ainda sofrem em alguns países, resultado de sua própria história de domesticação e perseguição que esses animais sofreram”, reforça Vanessa.

“A humanidade ainda está em processo de desmistificação do gato. Quanto mais informações e conhecimento tivermos sobre uma espécie, mais poderemos preservá-la”, avalia Juliana.

Segundo Vanessa, a crença de que os gatos não são apegados aos tutores só vem de pessoas que nunca conviveram com um gato. “De fato, o gato não foi domesticado de forma ativa, não houve intenção em domesticá-lo. Eles é que foram se domesticando e por isso mantêm suas características 'selvagens', podendo ser interpretado erroneamente como animais interesseiros.” Esse mito vem da independência. Por não dependerem em absoluto do ser humano, muitos acreditam que a espécie é interesseira**.

Por que ter gato?

Ao contrário do que muitos pensam, gatos são animais companheiros e carinhosos, além de encantar e fascinar pelo seu comportamento doce, sutil e livre. Os gatos são os animais que melhor se encaixam ao moderno estilo de vida, com essa loucura de corre-corre, lotada de trabalho, sem tempo nem para ver os amigos.

Você chegará em casa estressado, mas o gato terá acabado de acordar. Ele vai roçar na sua perna, pedir um carinho, miar por um sachê e estar superativo para interagir. Isso porque são animais crepusculares. Estão ativos no início da manhã (são ótimos despertadores) e à noite.

E não tem problema se você morar em uma quitinete de 30 m². Se você adaptar sua casa com espaços que atendam suas necessidades comportamentais***, eles vão amar o espaço. Mesmo você se sentindo numa caixinha de fósforo.

Como garantir que eles são felizes?

Só esse tópico poderia virar uma postagem daquelas gigantes. Mas, para resumir, temos que conhecer bem a espécie e suas necessidades, além de sua história de vida, para oferecer, dentro de nossas casas, tudo o que precisam. Isso para poderem expressar seus comportamentos naturais. “Devemos conhecer o felino, suas características comportamentais em especial, pois muito do que julgamos ser problema pode ser o comportamento normal do animal”, salienta Vanessa.

O bem-estar vai muito além do número de caixas de areia, potes de água e ração, mas também a disposição destes no ambiente do gato. “As brincadeiras devem fazer com que o gato se sinta gato, ou seja, um caçador. Do contrário, teremos um animal infeliz, com problemas comportamentais e estressado, o que pode complicar e ameaçar a vida do animal”, alerta a veterinária.

Levar anualmente ao veterinário é outro requisito básico. Como os gatos disfarçam muito bem suas dores e angústias, percebemos que algo não vai bem, muitas vezes, quando há pouco a ser feito. O equilíbrio entre a saúde física e psicológica é fundamental para o bem-estar dos felinos.

Comportamento

Conhecido por ter sete vidas, há poucos anos os gatos ainda eram considerados por muitos como “cães pequenos”. Mas as atitudes sociais e o comportamento alimentar dos felinos são muito diferentes dos cães. Eles exploram, observam, interrogam e sondam o mundo ao seu redor. Qualquer objeto novo ou uma simples mudança nos móveis da casa já é capaz de deixar o felino bastante intrigado.

O gato foi domesticado há quase seis mil anos, porém, seu etograma (lista de comportamentos naturais da espécie) permanece o mesmo. As nove necessidades comportamentais básicas são idênticas, independentemente do estilo de vida do bichano: caçar, brincar, comer, esconder-se, observar, explorar, marcar território, dormir e higienizar-se. Ainda que a domesticação produza mudanças na duração de cada uma dessas atividades, até o gato de vida doméstica é um gato com uma vida de gato.

Questão de território

Os gatos são animais territoriais, portanto, é fundamental para eles conhecerem todos os cantos de seu território para se sentirem seguros. Eles mapeiam onde fica cada objeto, cada móvel e todos os potenciais esconderijos. Quando a mobília da casa é integrada e o ambiente bem arrumado, ele terá pouquíssimos lugares para se esconder em caso de perigo. Em consequência disso, o gato se sente exposto e vulnerável, já que, para ele, é muito importante manter o total conhecimento e controle de seu território, sendo preocupante saber que existe uma parte inexplorada da casa que pode conter algum perigo. Na natureza, os gatos dependem desse conhecimento para sobreviver e garantir seu alimento.

É preciso, portanto, promover seu bem-estar adaptando o ambiente, que deve ser constante e previsível para ele, tanto em termos de estrutura física quanto de odores. O acesso a prateleiras ou estantes em locais altos e seguros diminui o risco de o felino ter comportamentos de escape, buscando aliviar a ansiedade, como o excesso de alimentação e auto-higienização.

Alimentação

Cada gato tem seu próprio jeito de fazer suas refeições ao longo do dia. Em um esquema geral, a alimentação varia de três a 20 refeições por dia. O tamanho das refeições aumenta com a palatabilidade (especialmente a primeira refeição). A duração média de uma refeição é de quase dois minutos. Além disso, o gato não gosta que seu comedouro fique próximo à área de dormir ou da caixa sanitária.

Caçador solitário

Os gatos são caçadores solitários, que capturam pequenas presas, ingerindo-as sozinhos. O instinto da caça é inato: todos os bichanos sabem como caçar e a habilidade é aprendida enquanto ainda são filhotes. Gatos caçam independentemente de estarem muito bem alimentados e podem até levar a caça para o tutor porque querem ser parabenizados.

O comportamento de caça é composto por várias sequências:

Procurar e espreitar a presa;
Aproximar-se e perseguir a presa;
Capturar a presa;
Matar a presa;
Consumir a presa.

O gato e a ingestão de água

Gatos são de origem desértica, descendem de felídeos da região norte da África (alta temperatura e pouca água) e, embora domesticados, permanecem com o hábito de ingerir pouca água e concentrar a urina. Estimular a ingestão de água de forma direta com o uso de fontes, colocando água em mais de um bebedouro (de boca larga), em diversos pontos da casa ou mesmo atender às necessidades peculiares como beber água direto da torneira da pia e, de forma indireta, com o uso de alimentos úmidos (mais de 80% de água) é fundamental para melhorar a ingestão de água****.

Fonte: Estadão 

Foto: K-nekoTR / Creative Commons


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Saiba aqui como denunciar maus-tratos. 



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