O visitante



Por Paulo Furstenau*


Certa vez, trouxeram aqui na ONG um filhote de pombo muito machucado: ele não tinha penas nem pele na cabeça, sua carne estava toda exposta, ferimento causado provavelmente por humanos.

Curativos na ferida, homeopatia para fortalecer sua saúde e alimentação no bico foram sua rotina diária com nossos veterinários e voluntários, até que ele se recuperasse. Meses depois, Carequinha, como o batizamos, estava pronto para bater asas e voar. 

Os pombos e outros pássaros feridos que chegam a nós são tratados, recuperados e soltos novamente, como deve ser feito com qualquer ave (ou outros animais terrestres não domésticos) levada para cuidados veterinários em outros locais. Aqueles cujos ferimentos impossibilitam o voo são colocados para adoção responsável, como nossos atuais hóspedes Grace Kelly e Tom Tom.

Levamos então Carequinha para a Praça da República, que fica na vizinhança. Ele voltou para a ONG no dia seguinte, e lá ficou. Fomos então um pouco mais longe (3 km), e o soltamos no Parque da Água Branca. Ele voltou no dia seguinte. Tentamos daí o Parque Ibirapuera (a 5 km de nós). Ele voltou no dia seguinte. 

A próxima opção foi o Parque do Carmo, que fica a mais de 25 km de distância. Soltamos Carequinha lá e ele não voltou no dia seguinte. Mas, quase duas semanas depois, cá estava ele. Só que dessa vez Carequinha não veio querendo ficar. Ele veio atrás da comida e foi embora. E fez isso várias vezes nesse dia e nos dias seguintes. Provavelmente ele acabou vindo morar na Praça da República ou outro lugar vizinho.

Até que logo ele apareceu com uma novidade: uma namorada. E Carequinha é até hoje uma visita frequente aqui na ONG - ora sozinho, ora acompanhado. E, dado o casal de pombinhos que se formou e a assiduidade com que Carequinha vem atrás de comida, não é difícil deduzir que a família aumentou (aves alimentam seus filhos enchendo o papo de alimento e água e regurgitando em seus biquinhos).





Cuidados 

Ficamos felizes com a total recuperação de Carequinha, com suas visitas e por ele ter encontrado uma companheira (pombos formam casais monogâmicos e para toda a vida), mas lembramos aqui a importância de fazer um controle populacional dessas aves. 

Uma grande população de pombos juntos aumenta a possibilidade de desenvolvimento e contágio de doenças entre eles - sobre transmissão para humanos, existe muito mais mito do que fato (leia aqui); a toxoplasmose, por exemplo, assim como nos gatos, só é transmitida se o humano comer as fezes do animal ou tocá-las e em seguida levar a mão à boca, ou seja...

Além disso, uma superpopulação de pombos é um risco acrescido de eles sofrerem violências de humanos, muitas vezes cometidas justamente por causa desses preconceitos em relação a doenças - e outras tantas vezes cometidas por maldade mesmo. Carequinha e Tom Tom que o digam!

O controle populacional de pombos segue o mesmo princípio da castração de cães e gatos de rua (e também os que temos em casa): zelar, em primeiro lugar, pela saúde, segurança e integridade física dos animais. No caso dos pombos, uma boa solução é a colocação de pombais em praças e parques, fazendo-se a substituição dos ovos por ovos de plástico (os verdadeiros são usados para alimentação de outros animais ou como adubo). 

Nós, da Natureza em Forma, já nos reunimos com a administração do Parque da Água Branca (onde fizemos a segunda soltura do Carequinha), que estava com uma superpopulação tanto de pombos quanto de galinhas. Hoje, há ninhos no local e os ovos das galinhas são trocados. Sugerimos a eles que coloquem mais ninhos para as galinhas e também pombais.

Mas para fazer um efetivo controle populacional em uma escala maior, o ideal seria que todos os parques e praças das cidades tivessem pombais. Uma ida semanal de um funcionário da prefeitura ou Secretaria do Meio Ambiente para fazer a substituição e limpeza dos pombais já seria suficiente.

Com isso, além do controle populacional ético, as pombas têm um lugar adequado e seguro para colocarem ovos, o que é também uma forma de inserir na sociedade esses animais tão estigmatizados. Todos os animais merecem respeito e cuidados de nossa parte. Como seres racionais, devemos ajudá-los, e não machucá-los ou fazer qualquer mal. Afinal, todos eles são nossos irmãos terráqueos neste planeta.

E você, Carequinha, será sempre bem-vindo aqui na ONG! 



Fotos e vídeo: Natureza em Forma / Divulgação

*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

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