No país do churrasco, movimento por um dia sem carne é o maior do mundo

Merendeira serve prato vegetariano a alunos da rede pública de São Paulo (Foto: Divulgação)


Pular o consumo de carne um dia na semana é um movimento mundial, que vem ganhando cada vez mais adeptos em todo o planeta. Nos Estados Unidos, a campanha Meatless Monday, criada em 2003 pelo publicitário e filantropo Sid Lerner, depois de saber que os norte-americanos consomem 15% mais carne do que o necessário, hoje está presente em 35 países.

Em Gante, na Bélgica, todas as quintas-feiras o cardápio é vegetariano nas escolas e órgãos públicos desde 2009. No Reino Unido, a campanha é encabeçada pelo ex-Beatle Paul McCartney. Na Argentina, conhecida por seu apreço à picanha, desde 2017, o presidente Mauricio Macri criou o Lunes Vegano.

No Brasil, o movimento Segunda sem Carne existe desde 2009, em parceria com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), convidando as pessoas a substituir a proteína animal pela proteína vegetal ao menos uma vez por semana.

Por meio da Secretaria do Meio Ambiente, a campanha chegou à rede pública de ensino de São Paulo em 2011, oferecendo refeições livres de produtos animais nas escolas do município*. Hoje, a ação se estende a outros estados e é considerada a maior do mundo. "Só em 2017, foram 47 milhões de refeições Segunda sem Carne na rede pública", diz a gerente de campanhas da SVB, Monica Buava

Uma pesquisa do Datafolha de 2017 mostra que 63% dos brasileiros quer reduzir o consumo de carne e 73% se sente mal informado sobre como os animais são tratados na pecuária. Do ponto de vista do consumo consciente, é importante diminuir as opções de carne no prato pelo impacto ambiental gerado, especialmente pela produção da carne bovina.

A pecuária é uma das maiores responsáveis pelo desmatamento e pelas emissões de gases de efeito estufa, além de ser grande consumidora de água. Sabendo que a carne é um ingrediente culturalmente importante no cardápio do brasileiro, deixar de consumi-la ao menos uma vez por semana é um passo importante para diminuir a pegada ambiental. 

Bobó de shitake

Uma das barreiras enfrentadas por quem deseja aderir ao movimento é a cultura de que não se pode ter uma dieta nutritiva sem a proteína animal. Era no que acreditava a campeã olímpica Fernandinha do Vôlei até cinco anos atrás, quando se interessou pela Segunda sem Carne ao ver uma postagem no Instagram.

Depois de duas semanas aderindo à campanha, ela resolveu ir além e se tornou vegana. A decisão se deu mais pelo ativismo contra o manejo dos animais do que por gosto pessoal. "Eu adorava carne vermelha mal passada. Hoje, sou fã de bobó de shitake, e a saúde vai muito bem", diz.

Facilitar o acesso da população a receitas vegetarianas e veganas é uma das preocupações do movimento, que oferece a consultoria Opção Vegana para restaurantes gratuitamente. "Como boa parte da população almoça fora de casa, é importante ter opções nos restaurantes, para que elas não se sintam limitando suas possibilidades ao diminuir o consumo da carne", diz Monica. "Ao contrário, elas podem ampliar o leque e descobrir novos sabores."

Quebrar o mito de que a alimentação vegetariana e vegana é cara é outra meta. "Só se for à base de produtos importados e industrializados, senão, sai mais barato do que comer carne", afirma a gerente da SVB.



*NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Inspirado na Segunda sem Carne, o programa baiano Escola Sustentável promete cortar em dois anos 100% dos alimentos de origem animal da merenda escolar de quatro cidades do sertão baiano - todos os dias. Leia aqui.

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