A pecuária ocupa 75% das terras aráveis do planeta. Empreendedores e cientistas pensam em
formas de substituir carne, leite e ovos (Foto: Gonzalo Martinez / Thinkstock / Getty Images)
A produção de carnes e outros produtos de origem animal requer extensas áreas e uso maciço de recursos naturais escassos. A pecuária ocupa 75% das terras aráveis do planeta, principalmente para pastagem e produção de ração, embora seja responsável por apenas 12% das calorias consumidas globalmente. No Brasil, milhões de hectares de vegetação nativa, em ecossistemas como a Amazônia e o cerrado, foram perdidos para a abertura de pastos e cultivo de grãos como a soja, usada predominantemente como ração para animais.
Um relatório recente feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã de Cooperação Internacional mostrou que a pecuária é o setor da economia brasileira com os maiores custos em termos de perda de capital natural: para cada R$ 1 milhão de receita do setor, R$ 22 milhões são perdidos devido à perda de capital natural e outros danos ambientais. De forma semelhante, estima-se que as operações de abate e processamento de animais custem ao País, em danos ambientais, 371% a mais do que a receita que geram.
A possibilidade de reverter o impacto negativo de uma economia ainda centrada no uso de animais, e ao mesmo tempo atender à demanda de uma população crescente e mais afluente, representa um grande desafio. A boa notícia é que uma revolução na forma de consumir e produzir alimentos já está em curso.
Por um lado, consumidores e governos se conscientizam dos problemas ambientais, éticos, de saúde e econômicos associados à criação de bilhões de animais anualmente, com empresas e investidores cada vez mais conscientes dos riscos da associação direta e indireta a práticas nocivas. Por outro, cientistas e empreendedores no mundo todo estão explorando formas inovadoras de desenvolver substitutos de carnes, leites e ovos*.
Ex-presidente do Google, Eric Schmidt afirma que “uma revolução irá ocorrer, na qual as proteínas vegetais irão substituir a carne nas próximas décadas”. De fato, gigantes mundiais do setor já começam a mudar de rumo: recentemente, a Tyson Foods, a Maple Leaf Foods e a Unilever fizeram investimentos milionários no mercado de proteínas vegetais e substitutos para carnes.
Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford mostra que a redução no consumo de carnes seria também benéfica à saúde de todos e aos cofres públicos: no Brasil, ela poderia economizar mais de R$ 100 bilhões em gastos com saúde e perda de produtividade no trabalho até 2050, quase metade do investimento necessário para expandir os serviços de saneamento e tratamento de água para os 100 milhões de brasileiros que ainda não o possuem. A mudança para dietas vegetarianas e veganas representaria uma economia ainda maior, associada à redução no número de casos de diabetes e doenças cardiovasculares.
O Brasil corre o risco de perder o bonde da história se demorar para investir nessa mudança – por um lado, estamos comprometendo nosso capital natural, exportando carne e ração barata sem embutir os altos custos ambientais praticados em solo brasileiro; por outro, teremos que importar tecnologia alimentar em um futuro bastante próximo.
A certeza que temos é de que a mudança para uma alimentação "mais vegana" é essencial para enfrentar esses desafios sociais, éticos e ambientais. A pergunta que segue sem resposta, porém, é: de que lado o Brasil vai ficar?
Fonte: Época
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