Livro quer acabar com crendices que colocam tamanduá em risco

Tamanduá-bandeira, animal em processo de extinção (Foto: Christian Musat / Shutterstock)


O tamanduá-bandeira e o gato preto têm algo em comum: são vítimas das crendices populares. É mundialmente conhecida a crença de que gato preto representa azar. No cerrado brasileiro, o tamanduá-bandeira assume esse papel, muitas vezes resultando na morte desses bichos. O problema, associado aos atropelamentos em rodovias, ameaça a continuidade da espécie, já inserida na lista das que estão em processo de extinção.

O assunto foi pesquisado e se tornou o livro infantil O Incrível Tamanduá-Bandeira, parte do projeto Bandeiras e Rodovias, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Serão distribuídos gratuitamente cinco mil exemplares em escolas públicas (com prioridade para as rurais), em cidades com ocorrência de tamanduás no Mato Grosso do Sul. 

O objetivo do livro é informar crianças e adolescentes sobre a importância desse icônico animal do cerrado e, assim, sensibilizar esses jovens leitores (e, por extensão, todas as pessoas) quanto ao respeito à vida desses bichos.

Os organizadores informaram que o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é considerado vulnerável à extinção, constando na Lista Vermelha das Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). Nas rodovias de Mato Grosso do Sul, é a terceira espécie que mais morre em atropelamentos, atrás apenas do cachorro-do-mato e do tatupeba.

Mas os tamanduás são atropelados não apenas devido a altas velocidades, como também por serem “malvistos” por muitas pessoas, que acreditam que eles atraiam mau agouro. “Essas crenças acabam virando motivo de perseguição aos animais”, nota a bióloga Mariana Catapani, doutoranda do programa de ciências ambientais da Universidade de São Paulo (USP) e que ajudou no levantamento de dados para o livro juntamente com Bruna Oliveira, coordenadora do Projeto Tatu-Canastra.

Em consequência das crendices, tamanduás acabam sendo mortos, segundo informa Mariana: “Há quem acredite, por exemplo, que, ao cruzar com um tamanduá, a sorte só voltará se a pessoa bater no focinho do bicho. Outros, em posse de veículos, acabam cometendo o atropelamento proposital”.

Mariana e Bruna avaliaram as crenças populares sobre a espécie a partir de mais de 500 entrevistas na região de cerrado do Mato Grosso do Sul. “Existem diversas questões apontadas pelos entrevistados sobre não gostar da espécie, de crenças à baixa percepção estética sobre o animal. Isso é um processo psicológico e algo que passa de geração em geração”, afirma Mariana.

A pesquisadora aposta na contribuição do projeto: “Espero que, com esse livro, possamos alcançar as crianças para que elas cresçam com um olhar livre de preconceitos e desse tipo de crença que só prejudica essa espécie tão importante”.

Capa do livro O Incrível Tamanduá-Bandeira (Foto: Divulgação)


A publicação conta também com um manual do professor, com atividades para serem executadas em sala de aula com os alunos, e ilustrações do biólogo Pedro Rodrigues Busana. As artes são resultado de seu mestrado profissional na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

“Os desenhos têm uma abordagem científica, baseados em observações e entrevistas com profissionais, com a função de delinear o que precisaria ficar evidente nessa arte. Buscamos um traço mais realista, para que as crianças identifiquem os animais quando avistá-los. Ao divulgar isso para as crianças, acreditamos que possamos alcançar também os adultos, já que elas são multiplicadoras de informação para os pais”, comenta Busana.



NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Lembramos que maus-tratos contra animais é crime ambiental. Saiba aqui como denunciar.

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