O biólogo colombiano Fernando Trujillo tem dedicado sua vida a tentar proteger os botos-cor-de-rosa do rio Amazonas. A pesca comercial de um peixe carnívoro chamado piracatinga (Calophysus macropterus, também conhecido como douradinha no Brasil e mota na Colômbia) levou à intensificação da caça a esses animais nos últimos anos para uso de sua carne e gordura como isca.
No Brasil, estima-se que essa atividade mate 1,5 mil botos por ano. A pesca da piracatinga foi proibida no País por isso, porém, a matança dos botos aumentou em vizinhos como Peru, Bolívia e Colômbia. A espécie enfrenta ameaças à sua fonte de alimentos e ao habitat onde vive, o que tem mobilizado há décadas Trujillo, considerado uma das principais autoridades do mundo em botos-cor-de-rosa.
Além da pesca excessiva, o animal sofre com o crescimento da população humana na Amazônia – impulsionado por fatores como exploração de petróleo, mineração, grandes cultivos de soja, fazendas de gado e hidrelétricas, que levam à expansão de bairros nos arredores de estradas.
A pesca como vilã
“Por toda a minha vida eu trabalhei com botos. Mas só então me dei conta: agora a questão não são eles, mas sim a pesca”, afirma Trujillo.
Ele começou a investigar o consumo da piracatinga suspeitando que, pelo fato de se tratar de um peixe carnívoro, sua carne poderia ter altos índices de mercúrio, efeito da exploração ilegal de ouro na região.
Após estudos oficiais, o governo colombiano acabou condenando em 2015 o consume do peixe e, em setembro de 2017, proibiu permanentemente sua captura e comercialização.
O impacto da proibição na população de botos ainda não é estimado, mas a medida tornou o biólogo alvo de ameaças, e ele passou a precisar usar coletes à prova de balas e proteção especial para voltar à região onde trabalhou por décadas.
Trujillo atua há 30 anos em áreas perigosas da Amazônia para preservar os botos-cor-de-rosa. "Durante anos, circulei por áreas com guerrilhas e forças militares, mas o fato de estar fazendo algo positivo para a conservação sempre me ajudou bastante e me protegeu”, diz ele.
Em 2017, o biólogo venceu o prêmio da Whitley Fund for Nature (WFN), uma espécie de Oscar do meio ambiente que reconhece pessoas que lutam pela preservação nos países em desenvolvimento.
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