Ferdinando, ativista da causa animal

     (Imagem: 20th Century Fox)


Por Paulo Furstenau*


Um dos indicados ao Oscar 2018 de melhor animação, O Touro Ferdinando (Ferdinand, 2017), dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha (diretor de A Era do Gelo 2 (Ice Age: The Meltdown, 2006) e outras animações famosas), é mais que um filme - é um projeto de conscientização sobre a causa animal. Na telona, é contada a história de um touro espanhol que vive em um rancho de criação e treinamento para touradas. Ferdinando, porém, repudia os planos que os humanos têm para os animais de sua espécie - ele só quer ser feliz em harmonia com os outros animais e a natureza. Na vida real, o estúdio que produziu o filme, a 20th Century Fox, em parceria com o santuário The Gentle Barn, localizado na Califórnia, EUA, adotou um filhote de touro, que batizaram de Ferdinand.

O propósito da existência do Gentle Barn, de acordo com o site do santuário, é "ensinar pessoas sobre bondade e compaixão em relação aos animais, outras pessoas e nosso planeta". Há quase 20 anos, eles resgatam cavalos, burros, vacas, porcos, ovelhas, cabras, perus, galinhas, lhamas, pavões, avestruzes, gatos e cães de situações de maus-tratos e negligência. "É um lugar de cura, onde crianças aprendem que, mesmo que pareçamos diferentes do lado de fora, somos todos iguais por dentro. Quando reabilitados, os animais nos ajudam a dar esperança e inspiração a crianças com histórias semelhantes de luta e perseverança."

Ferdinand tem uma vida livre de exploração (Foto: The Gentle Barn)



Origem

O Ferdinando da ficção nasceu em 1936, nas páginas do livro O Touro Ferdinando (The Story of Ferdinand), pelas mãos dos norte-americanos Munro Leaf (texto) e Robert Lawson (ilustrações). Dois anos depois, a obra virou uma animação de curta-metragem da Disney, Ferdinando, o Touro (Ferdinand the Bull), dirigida por Dick Rickard, que venceu o Oscar 1939 de melhor desenho de curta-metragem.

Desde sua publicação, o livro foi traduzido para mais de 60 idiomas, inclusive português, tornando-se um clássico da literatura infantil. E uma perturbação para os regimes fascistas da época em que foi lançado, afinal, Ferdinando não aceitava a violência, que supostamente deveria ser sua natureza, segundo a cabeça dos humanos. O livro para crianças que narra a história de um touro pacifista foi banido por Hitler na Alemanha - tendo sido queimado nas fogueiras de livros do ditador - e pelo general Franco na Espanha, terra de Ferdinando. Enquanto isso, na Índia, dizem que Gandhi afirmou que O Touro Ferdinando era seu livro favorito.

Ilustração de Robert Lawson para O Touro Ferdinando, livro de 1936


Oito décadas após seu nascimento, o "touro gigante com um grande coração" ganha novamente as telas dos cinemas, dessa vez como um longa-metragem de quase duas horas de duração (o curta de 1938 tem oito minutos). Maior visibilidade para uma mensagem atemporal de paz universal e respeito a todos os animais (touros e todos os outros), que têm igual direito a uma vida livre e feliz, sem dor, sofrimento ou morte por assassinato. 

Que esse ensinamento seja eficazmente transmitido aos milhões de crianças que estão vendo o filme em todo o mundo, e também àquelas que tiverem a oportunidade de visitar o santuário onde vive agora o Ferdinando da vida real. Segundo o site do Gentle Barn, Ferdinand "irá crescer como um símbolo de esperança para as futuras gerações". E nós, da causa animal, esperamos que essa mensagem, seja para as crianças de agora, seja para as crianças que estão por vir, não se perca quando adentrarem a fase adulta.

Somos todos iguais

       (Imagem: 20th Century Fox)


A igualdade é a grande lição de Ferdinando. Em uma cena do filme, o cachorro Paco lhe diz: "Galinhas são galinhas, cachorros são cachorros, touros são touros". Sendo ele um cão, um animal de estimação que, junto com os gatos, goza dos maiores privilégios entre os humanos, que é acariciado pelo tutor enquanto este ingere bois/vacas, galinhas/frangos, porcos, peixes e outros animais mortos (não, isso não é parte do filme, apenas uma análise sobre a cena em questão), podemos detectar um tom especista na fala de Paco. 

Afinal, para ele é fácil ser um cão, ainda mais tutelado por uma família amorosa. Já os outros animais, assim pode-se interpretar sua declaração, deveriam se conformar com seus destinos (uns nasceram para ser comidos, outros para "entreter", como em uma tourada, etc.), ditados pelos humanos. Mas Ferdinando derruba esse argumento dizendo a Paco que eles são irmãos, deixando seu irmão canino sem resposta. Ferdinando está certo: touros, cães, galinhas, humanos e todos os outros animais, somos todos irmãos que habitamos este planeta, e devemos cuidar uns dos outros, e não explorar ou matar.

Ferdinandos

No Brasil, o filme está em cartaz em diversas salas de cinema (veja aqui o trailer dublado). Encontramos o antigo curta-metragem da Disney, dublado, e replicamos em nosso YouTube (veja aqui). O livro, em português, está à venda nas principais livrarias e sebos. E se você quiser acompanhar a vida do Ferdinand em carne e osso (carne e osso que pertencem a ele e que ficarão com ele até o dia de sua morte natural, como deve ser com todos os animais), siga o Gentle Barn em suas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e/ou SnapChat.

Veja um vídeo dele publicado no YouTube do santuário:




*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

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