Você já deve ter ouvido falar do veganismo. O que se sabe é que a ‘filosofia’ vem crescendo e o mercado de produtos para esse público também. E você sabe a diferença entre o vegano e o vegetariano? Toda semana, o vegetarianismo, por exemplo, ganha cerca de dois mil novos adeptos no País, de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Estima-se ainda que 4% da população brasileira, cerca de 7,6 milhões de pessoas, seja de vegetarianos - muitos deles, veganos. E 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. Em Jundiaí (SP), esse número não existe oficialmente, no entanto, sabe-se que cresce, assim como a média brasileira.
Uma pessoa vegetariana não consome qualquer tipo de carne: boi, galinha, porco, peixe etc. Já o vegano não consome NENHUM produto de origem animal, e o veganismo é considerado um estilo de vida que se abstém, na medida do possível, de qualquer produto ou serviço que envolva exploração animal, e não para por aí, porque exploração animal não termina no prato. O vegano também não compra produtos em couro, lã, pele, pena, seda nem produtos testados em animais.
A jornalista Luciana Sanfins adotou o vegetarianismo há 11 anos, e o motivo principal foi a causa animal. “Sempre fui meio 'natureba' e engajada no movimento de bem-estar animal. Depois de começar a fazer ioga e ler mais sobre o vegetarianismo, resolvi parar de comer carne. Primeiro foi a carne vermelha e, depois, todas as outras. Incluí vários alimentos nas minhas refeições, como os vegetais verde-escuros, mais grãos, sementes. Ao contrário do que muita gente diz, não tenho problemas de saúde. Na gestação, procurei uma nutricionista para dar um ‘up’ na minha dieta e, apenas com a alimentação, passei por uma gestação saudável para mim e para o bebê. Durante a amamentação, também esteve tudo bem, apenas entramos com a complementação de ferro e B12, mas tudo sob controle”, conta.
Enquanto o vegetarianismo pode ser adotado por razões diversas, como a questão ética, saúde e religião, o veganismo tem como princípio básico e foco principal a questão ética, de luta pela libertação e não exploração animal. Isso implica uma atitude mais ampla por parte do vegano (como é chamado o adepto do veganismo) em relação ao vegetariano.
Ana Laura Hermann é vegana e conta que a decisão teve origem na adolescência e por influência de amigos, além do estilo musical que ela curtia na época. “Durante a adolescência, eu escutava hardcore, e boa parte das bandas que eu escutava na época (e ainda escuto) falava sobre direitos dos animais. Aos 19 anos, conheci uma galera vegetariana de Itu, me empolguei e decidi aderir ao vegetarianismo. Conforme o tempo passava e eu me aprofundava sobre os direitos dos animais, percebi que não bastava parar de consumir carne, então fui virando vegana aos poucos.”
Mas aí vem a pergunta: o que os veganos defendem? O veganismo é um movimento que busca a libertação animal em todas as frentes possíveis, incluindo mercado, alimentação, trabalho forçado e entretenimento. Vale dizer que isso não envolve apenas os animais não humanos (que são chamados de “irracionais” pelo senso comum). Ou seja, a libertação dos seres humanos também é defendida. Isso significa que veganos buscam eliminar o consumo de produtos oriundos de empresas que exploram a mão de obra análoga à escravidão. Além disso, ainda há movimentos (como o Food for Life) que apoiam a adoção universal do veganismo como forma de democratizar o acesso à alimentação, pois cerca da metade dos grãos produzidos no mundo são usados para a engorda de “animais de corte”.
“Escolhi ser vegana única e exclusivamente por ética. Se podemos ter uma vida plena dentro do veganismo, para que explorar os animais? O que fazemos com eles é uma barbárie. O consumo de produtos de origem animal também está matando o planeta”, acrescenta Ana Laura, que inclusive indica o documentário Cowspiracy (2014), que “não possui imagens chocantes de maus-tratos, mas é bem explicativo”.
Muita gente pensa que vegetarianos e veganos não possuem vida social ou não desfrutam daquela deliciosa cervejinha e passam longe de um churrasco. Mas Luciana conta que não é bem assim e que seus famosos “kits” fazem sucesso nas reuniões com amigos. “Geralmente, levo espetinhos de vegetais com curry, kafta de proteína de soja, filés de berinjela ou abobrinha, vinagretes coloridos, pão de alho, farofa de castanhas, saladas mil, batatas assadas na brasa, cebola assada com azeite e por aí vai. Em parceria com uma amiga, criei uma página no Facebook para compartilhar algumas receitinhas. E não deixo de tomar minha cervejinha, mas prefiro as de trigo. Já os relacionamentos e a vida social seguem numa boa - meu marido, por exemplo, não é vegetariano e consome carne, mas ele diminuiu bem por conta do nosso convívio. Eu não manipulo carnes, e como geralmente é ele que cozinha, ele prepara a carne dele e a minha comida também”, diz Luciana.
Ana Laura conta que na casa dela são todos veganos há 20 anos, inclusive a pequena Olga (filha do casal). Para ela, comer carne não é sinônimo de saúde de ferro, muito pelo contrário. Segundo ela, a carne não supre o que uma dieta variada em vegetais oferece. Além de tudo, quando optaram pelo veganismo, decidiram também diminuir o consumo de produtos industrializados. “Não só por conta de consumir mais produtos in natura, mas também por diminuir o consumismo. Acho que o combate à exploração dos animais e ao consumismo andam lado a lado, assim como qualquer outra forma de combate à exploração e luta por justiça social”, diz.
“Aqui na cidade, costumamos frequentar o restaurante do Seu Carlos, um senhor taiwanês, que possui preço justo e tem uma comida maravilhosa, mas se quisermos comer um lanche, vamos a Campinas, pois os lugares com opções aqui cobram preços abusivos. Damos preferência a lugares especializados em comida vegetariana, e não aos que usam o vegetarianismo como nicho de mercado”, explica Ana Laura.
Estima-se que no Brasil quase cinco milhões de pessoas já pratiquem o veganismo. Há alguns anos, os veganos não tinham quase nenhuma opção de produtos para consumirem, mas, de uns tempos para cá, o leque está cada vez maior e esses consumidores têm movimentado um mercado que cresce em torno de 40% ao ano, segundo pesquisa da Euromonitor. Do ponto de vista do empresário Antônio Fischer, dono do Match Point Spa e restaurante no bairro do Caxambu, “o mercado brasileiro chegou em um momento onde pessoas que nunca ouviram falar já sabem o que é o veganismo. Hoje não é moda. É uma tendência”.
O restaurante de Fischer oferece opções vegana, vegetariana e é especialista em raw food ("comida crua", uma forma de alimentação baseada em alimentos de origem vegetal, não processados ou cozidos, onde se preserva todas as enzimas dos alimentos, que ajudam sua própria digestão e outros processos metabólicos que resultam na produção de energia e desintoxicação do organismo).
“Ao contrário do que muita gente pensa, a comida vegana ou vegetariana não é mais cara, pois seu custo-benefício é muito maior, além da qualidade de vida, disposição e benefícios para o organismo. Pessoas que não consomem carnes ou gorduras têm muito menos probabilidade de ficarem doentes. É um estilo de vida saudável e com qualidade, que oferece mais disposição”, finaliza Fischer.
Saiba mais sobre o veganismo no vídeo abaixo.
Saiba mais sobre o veganismo no vídeo abaixo.
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