Por Juliana Carreiro*
No ano passado, publiquei aqui uma postagem mostrando que, nos dois anos anteriores, as buscas no Google pelos termos 'vegano' e 'vegetariano' cresceram 700%. De lá para cá, o interesse por esses estilos de vida só tem aumentado no Brasil e no mundo e, com ele, surgem também algumas dúvidas. Uma delas é sobre a saúde das crianças que seguem esses estilos alimentares. Os pais que param de comer carne ou deixam de consumir qualquer produto de origem animal, que é o caso dos veganos, têm direito de quererem passar essas filosofias para os filhos, principalmente porque não estarão afetando a saúde, o bem-estar nem o desenvolvimento deles.
Muitas vezes, a escolha pode partir das próprias crianças. Conheço um rapazinho que vai fazer sete anos e desde os três não quer mais comer carne de boi, peixe ou frango. Isso aconteceu quando ele associou que o que estava em seu prato eram animais. Sua mãe, seu pai e sua irmã mais nova comem de tudo e ele segue firme em sua postura. Quando tinha três anos, passeando com a mãe no supermercado, ele perguntou de quais animais eram feitas as peças de carne que estava vendo. Ela respondeu que algumas eram de boi, outras de frango e outras de peixe, e ele perguntou: “Quem é que vai cuidar do filhote desse papai boi?”. Essa consciência tem sido cada vez mais comum entre crianças e adolescentes. Já dei uma aula particular de culinária para dois irmãos, um de 14 e um de 16 anos, que estavam se tornando vegetarianos e queriam aprender a fazer seus próprios pratos, já que a mãe não estava gostando da ideia de ter que se reinventar na cozinha. Não acho certo tentar convencer uma pessoa a comer um animal se ela se recusa a isso, por mais nova que ela seja. E se os pais desses pequenos protetores da natureza souberem que essas escolhas não trarão prejuízos a eles poderão ficar mais tranquilos.
Aqui no Brasil, o normal é comermos muito mais carne vermelha do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que seriam 70 gramas ao dia para os homens e 55 para as mulheres. Esse excesso pode ser nocivo para a nossa saúde, portanto diminuir um pouco esse consumo faria bem para todo mundo. Mesmo assim, quando se trata das crianças, sabemos que elas estão em fase de crescimento e têm uma grande necessidade de nutrientes. Por isso, quando os pais ou os próprios filhos optarem por uma rotina alimentar que restrinja algum alimento, é importante procurar um nutricionista que irá orientá-los sobre como substituir esse alimento. Há profissionais especializados em vegetarianismo e veganismo. Para trazer algumas dicas rápidas sobre essas substituições, falei com a especialista em nutrição funcional e professora do curso Cardápio Infantil, Alimentação Saudável desde Bebê, Karin Paciulo.
A partir de qual idade a criança pode se tornar vegetariana?
Se os pais são vegetarianos, a criança seguirá o padrão da família desde a introdução alimentar, mas para isso é preciso acompanhamento com nutricionista, para que o profissional possa elaborar um plano alimentar equilibrado para a criança e toda a família, além de indicar suplementação adequada de vitaminas e minerais se necessário**.
Sem planejamento nutricional, no que o vegetarianismo pode afetar o desenvolvimento da criança?
As proteínas são de grande importância para o desenvolvimento dos músculos e cognitivo e devem ser adequadas no caso de crianças vegetarianas e veganas, com a utilização de proteínas vegetais que de preferência contenham os aminoácidos essenciais em sua composição. A vitamina B12 é essencial ao organismo, pois trabalha em conjunto com o folato na síntese de DNA e das células vermelhas do sangue. Sua falta pode indicar fadiga, letargia, fraqueza, perda de memória e problemas neurológicos e psiquiátricos.
Quais os nutrientes-chaves para as crianças?
Em fase de desenvolvimento, todos os nutrientes são importantes para uma criança. Por isso, a alimentação deve ser a mais variada possível, não permitindo que a criança caia no consumo apenas de carboidratos e açúcares, que é um grave erro, e que pode prejudicar muito o desenvolvimento. Isso vale também para aquelas que comem carne. O ideal é ingerir alimentos ricos em substâncias como ferro, cálcio, ômega 3, proteínas e a famosa vitamina B12. Em alguns casos, só o cardápio não basta, é preciso suprir com suplementos, como o caso da B12. Mas sem crise! Existem pessoas que mesmo consumindo carne têm falta dessa vitamina, então não é fato isolado em vegetarianos.
Como fazer a substituição?
Para ter uma alimentação saudável e completa, você pode substituir alguns ingredientes. Por exemplo, vegetais verde-escuros e leguminosas são fonte de ferro - uma dica é combinar esses alimentos com outros ricos em vitamina C, pois ajudam na absorção. A ingestão de cálcio pode ser suprida pelo brócolis, feijão e espinafre, por exemplo. As proteínas, muito importantes, podem ser encontradas na combinação entre cereais e leguminosas (o famoso arroz com feijão), oleaginosas e tofu. Não se esqueça de oferecer ao seu filho uma lista diversificada de frutas, legumes e verduras. A banana é rica em vitaminas do complexo B, C e E, potássio, ferro e fibras, além dos açúcares naturais, ótimos para o fornecimento de energia. Um cardápio sem os devidos nutrientes pode ser prejudicial para a formação e crescimento dos ossos, desenvolvimento cognitivo, sistema nervoso, sistema imunológico, entre outros.
Alimentos como a quinoa e o amaranto também são ótimos substitutos para a carne vermelha. É sempre importante ressaltar que essa rotina alimentar equilibrada, baseada em comida de verdade, com cereais, leguminosas, frutas, verduras e legumes, deve ser seguida por todas as crianças.
Foto: Reprodução
NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:
**1. Todas as pessoas - consumidoras ou não de carne e derivados animais -, de qualquer idade, deveriam ter um planejamento alimentar orientado por um profissional nutricionista. E eventuais necessidades de suplementação de vitaminas não é algo exclusivo para veganos e vegetarianos.
2. Leia aqui mais matérias sobre veganismo na infância.
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