Por que veganos não consomem mel?


As abelhas são insetos sociais de cerca de dois centímetros de comprimento, listradas em preto e amarelo. Possuem cinco olhos: dois maiores na frente e três menores no topo da cabeça. Possuem também duas antenas, dois pares de asas e uma língua para sugar o néctar das flores. Existem cerca de 20 mil espécies diferentes de abelhas, e as do gênero Apis mellifera são as que melhor se prestam à polinização. Abelhas polinizam de 50% a 80% dos vegetais que utilizamos.

O mel é um produto encontrado em estado líquido viscoso e açucarado produzido pelas abelhas a partir do néctar recolhido de flores e processado pelas enzimas digestivas desses insetos, sendo armazenado em favos em suas colmeias para servir-lhes de alimento.

Uma abelha inicia o processo de produção de mel quando colhe o néctar de uma planta. O néctar das flores é similar à água com açúcar (sucrose); ele entra no sistema digestivo das abelhas, onde é misturado a enzimas que convertem seu açúcar em frutose. A maior parte dessa mistura deve ser evaporada, restando somente 18% de água na composição final, resultando em um alimento (alimento das abelhas) resistente a mofo, fungos e várias bactérias durante anos.

Como as abelhas não carregam baldinhos como nos desenhos animados, o mel é o vômito desses insetos – o mel nada mais é do que isso.

As abelhas e os humanos

Abelhas estão presentes nas mitologias de várias culturas, aparecendo também em imagens religiosas e estandartes reais. Em Valência, Espanha, há representações gráficas de arte rupestre de abelhas datadas do período neolítico. Na mitologia egípcia, as abelhas representam as lágrimas do deus Rá (o sol) quando caíram na areia do deserto. Na mitologia hindu, o deus do amor, Kamadeva, carrega um arco feito de abelhas. Inspirado na mitologia grega, Virgílio, poeta e pensador romano, em seu quarto livro das Geórgicas relata que o personagem Aristeu teria sido o primeiro apicultor e que cultivava abelhas em carcaças de animais. A Maçonaria tem como um de seus símbolos a colmeia.

Porém o ser humano sempre usou o fruto do trabalho desses insetos. O manuseio de abelhas, atividade lucrativa e gananciosa exercida por seres humanos para furtar o mel, é chamado de apicultura e remonta ao ano 2400 a.C., entre os egípcios e gregos. Lorenzo Langstroth (1810-1895), apicultor norte-americano, desenvolveu a chamada apicultura moderna.

As abelhas, parentes de formigas e vespas, existem há mais de 20 milhões de anos. O mel já era conhecido pelos sumérios (talvez a mais antiga sociedade) desde 5 mil a.C. As abelhas, naturais da Europa e Américas, foram introduzidas no Brasil no século 18 pelos jesuítas, no noroeste do Rio Grande do Sul.

Trabalho e hierarquia

Junto com outros insetos, pássaros e pequenos mamíferos, as abelhas polinizam plantas, pois quando se alimentam nas flores, levam o pólen, possibilitando a reprodução destas. Elas vivem em colmeias construídas no topo de árvores, cavernas etc. As colmeias, que podem chegar a 80 mil indivíduos cada, são locais de extrema organização, onde existem uma única rainha, muitos zangões e operárias.

Toda colmeia possui uma única abelha-rainha, que é a responsável pela reprodução da espécie, botando mais de mil ovos por dia, chegando a viver até cinco anos. Ela é alimentada com a geleia real, seu único e exclusivo alimento. A partir de seu nono dia de vida, já está apta a ser fecundada por zangões. Quando nascem duas abelhas-rainhas em uma única colmeia, elas lutam até a morte, pois só uma assumirá a missão de garantir a reprodução da colônia.

A função dos zangões nas colmeias é fecundar as abelhas-rainhas, o que ocorre uma vez ao ano. Eles não possuem ferrão e vivem em torno de três meses. No voo para fecundação da rainha, uma média de oito zangões conseguem realizar a cópula. Logo após a cópula, o zangão morre, pois seu genital fica preso à rainha.

As abelhas-operárias são quem realizam todo o trabalho dentro da colmeia – elas higienizam, garantem alimento e água para todos coletando pólen e néctar, produzem cera e mel e elaboram o própolis, que é uma substância desinfetante. Uma abelha-operária pode produzir, em média, cinco gramas de mel por ano. Elas vivem em torno de quatro meses. 

Nas colmeias, existe uma rígida hierarquia entre operárias, zangões e rainha.

Outros produtos gerados pelas abelhas nas colmeias

Cera: produzida por glândulas especiais das abelhas, é o resultado da reelaboração do mel, sendo usada como estrutura básica dos favos. O formato hexagonal do favo permite que sua parede fina de 1/3 milímetro de espessura suporte 30 vezes seu peso.

Pólen: alimento para as abelhas.

Própolis: substância resinosa, é usado pelas abelhas para vedar orifícios e desinfetar a colmeia – é um antibiótico natural e antifúngico. Sua composição aproximada é de 55% resinas vegetais, 30% cera de abelhas, 8% a 10% óleos essenciais e 5% pólen.

Geleia real: secreção produzida pelas glândulas de jovens abelhas-operárias, é a única fonte de alimento para a abelha-rainha por toda sua vida.


E o que há de errado em consumir mel segundo o veganismo?

Veganismo é a filosofia segundo a qual deve-se viver sem explorar os outros animais, sob qualquer aspecto. O vegano vive sem se alimentar de animais não humanos e os produtos deles derivados (ovos, leite e laticínios, gelatina, corantes como a cochonilha etc.), repudia a caça, a vivissecção (veganos boicotam quaisquer produtos que tenham sido testados em animais), confinamento, apropriação, rodeios, circos, zoológicos e qualquer tipo de "entretenimento" utilizando animais, comércio, trabalho dos bichos. Não usa couro, peles, lã, penas, camurça, seda, enfim, qualquer prática que signifique exploração de animais. Veganismo não é só dieta. É um conjunto de práticas com base nos direitos dos animais*.

Num relato de 2001 da revista eletrônica de veterinária Animal Welfare, o cientista C. M. Sherwin, da Escola Veterinária de Bristol, analisou experiências científicas realizadas em insetos e procurou interpretar suas reações. Foram avaliados a capacidade de memória e aprendizagem através da observação, a presença de percepção espacial, respostas operativas, testes de preferência e dor etc. Sherwin concluiu que as respostas apresentadas por diversos invertebrados como abelhas e aranhas, que nós consideramos automáticas, rígidas e fixas, estão afinal sob algum controle voluntário.

A crueldade que envolve a dita “apicultura” é enorme

Fumigação: o apicultor usa fumaça - com palha ou sabugo de milho - para deixar as abelhas atordoadas e intoxicadas e poder manusear mais facilmente a colmeia. A morte das abelhas não acontece apenas por asfixia pela fumaça, mas também pelo calor, pois a fumaça é muito quente, matando os insetos queimados. Além disso, na extração de favos, os apicultores esmagam abelhas com suas próprias mãos.

As abelhas-rainhas são inseminadas artificialmente (o apicultor utiliza ganchos e seringas) com o sêmen de zangões decapitados, porque o ato de arrancar a cabeça do zangão e espremer o tórax faz com que eles ejaculem. Essa inseminação é feita com abelhas importadas italianas, alemãs e africanas, que produzem mais mel e causam devastação entre as abelhas nativas.

Apicultores grampeiam as asas da rainha para que ela não possa abandonar sua colmeia, levando consigo muitas das operárias. As abelhas também podem criar uma nova rainha, a princesa, para perpetuar a espécie, criando um novo enxame. O apicultor, percebendo que a produção de mel irá baixar com a saída dessas operárias, além de grampear a rainha, mata a princesa ainda em forma de larva. A colmeia fica superlotada, as abelhas produzindo muito mel, que é retirado e comercializado. Depois, as abelhas são mortas de fome ou envenenadas (ou, para substituir o mel que foi furtado, as abelhas são alimentadas com pólen artificial e calda de açúcar branco, inteiramente desprovidos de nutrientes), recomeçando um novo ciclo (as rainhas são mortas quando decai sua capacidade de produção de ovos).

Na manipulação dos favos, muitas abelhas morrem esmagadas. As abelhas são separadas de suas colmeias sendo sacudidas violentamente ou por jatos de ar, o que provoca a perda de suas asas e pernas, gerando dor e morte.

Abelhas também são submetidas à vivissecção e muitas experiências são realizadas para aumentar a produção de mel, o que garante a ganância dos apicultores.

Em alguns países como o Japão, abelhas sofrem radiação para fazer com que os ferrões caiam, “fabricando-se” abelhas sem ferrões que se tornam inofensivas, para um manuseio mais fácil.

Apicultores instalam armadilhas para captura e matança de tatus e iraras, pois esses animais silvestres se alimentam do mel das abelhas.

Insetos sentem dor?

Sim, abelhas e outros insetos sentem dor, segundo o fisiologista Gilberto Xavier, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP): “Os insetos possuem terminações nervosas similares às que nós, humanos, temos. Por isso, é razoável supor que eles tenham algum tipo de percepção sensorial equivalente ao que nós chamamos de dor. Além disso, o animal é capaz de fazer uma aprendizagem de esquiva, afastando-se de algo que lhe cause desconforto”. Os insetos possuem receptores nervosos convergentes – suas terminações nervosas são na pele e possuem ainda mecanismos de bloqueio de dor diferentes e mais eficientes que os dos humanos. 

Não precisamos de mel

Seres humanos podem substituir o mel por melado de cana, melado de beterraba, xarope de agave-azul, xarope de bordo/ácer (maple syrup) etc.

O MEL É DAS ABELHAS!




Fotos: Reprodução


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:


*2. Conheça aqui as diferenças entre veganos e vegetarianos. 

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