O astrofísico norte-americano Carl Sagan, também conhecido como o “astrônomo do povo”, se tornou um dos cientistas mais respeitados do século 20. Com centenas de publicações científicas e mais de 20 livros lançados, Sagan conquistou popularidade mundial após o lançamento da série Cosmos (1980), escrita por ele em parceria com a esposa, Ann Druyan, e Steven Soter. Em 13 episódios, o programa ajudou a ampliar o interesse pela ciência e pela espiritualidade sem viés religioso.
E foi exatamente por causa da preocupação com o lugar do ser humano no universo e o reconhecimento da nossa pequenez que Sagan se tornou um crítico das ações humanas em detrimento de outros seres vivos. Uma de suas célebres frases foi eternizada no episódio Blues for a Red Planet, que foi ao ar em 26 de outubro de 1980. “Se há vida, então acredito que não devemos fazer nada para perturbar essa vida. Marte, então, pertence aos marcianos, mesmo que eles sejam apenas micróbios”, recomendou.
E foi exatamente por causa da preocupação com o lugar do ser humano no universo e o reconhecimento da nossa pequenez que Sagan se tornou um crítico das ações humanas em detrimento de outros seres vivos. Uma de suas célebres frases foi eternizada no episódio Blues for a Red Planet, que foi ao ar em 26 de outubro de 1980. “Se há vida, então acredito que não devemos fazer nada para perturbar essa vida. Marte, então, pertence aos marcianos, mesmo que eles sejam apenas micróbios”, recomendou.
Carl Sagan também condenava os experimentos feitos com animais. Provas dessa sua postura podem ser encontradas no livro Sombras de Antepassados Esquecidos (Shadows of Forgotten Ancestors), publicado em parceria com a esposa em 1992. Na obra, ele relata a triste realidade dos primatas explorados em prol da ciência, citando como exemplo um experimento em que macacos foram obrigados a puxar uma corrente para serem alimentados em um laboratório.
O problema era que essa mesma corrente eletrocutava outro macaco cuja agonia estava à vista, por intermédio de um espelho unidirecional. Se eles não a puxassem, ficariam com fome. Depois de aprender a usar as correntes, os macacos recusaram-se a fazer isso. No experimento, somente 13% dos animais a puxaram. Os outros 87% optaram pela fome.
Um macaco ficou sem comida por quase duas semanas para não ter que ferir seu companheiro. Aqueles que tinham sido vítimas de choque elétrico em experiências anteriores estavam ainda menos dispostos a puxar a corrente. Carl Sagan e Ann Druyan então se perguntaram quantos seres humanos na mesma situação seriam tão altruístas.
Sagan apontou que os macacos usados no experimento, e que ainda assim se recusaram a provocar dor em outros seres vivos, nunca foram à escola dominical, nunca ouviram falar nos 10 mandamentos, nunca se contorceram por causa de uma mera lição de educação cívica. Ainda assim, são exemplares em suas bases morais e sua corajosa resistência ao mal. “Entre esses macacos, pelo menos nesse caso, o heroísmo é a norma”, frisou.
“Os macacos são exemplares em suas bases morais e sua
corajosa resistência ao mal” (Foto: Reprodução)
Segundo o astrofísico, muitos de nós temos uma perturbadora predisposição a causar dor, e por uma recompensa muito menor do que a comida quando dela somos privados durante um experimento. Para entender melhor o assunto, ele sugere a leitura de Obediência à Autoridade: Uma Visão Experimental (Obedience to Authority: An Experimental View), livro publicado por Stanley Milgram em 1974. “Na história humana, há um número preciso de poucos cuja memória veneramos porque conscientemente se sacrificaram pelos outros. Para cada um deles, há multidões que nunca fizeram nada”, critica.
Em Sombras de Antepassados Esquecidos, Sagan aponta que a humanidade se tornou cada vez mais insensível em relação aos animais, e não somente no campo da pesquisa científica, mas em todas as esferas, inclusive reduzindo-os a comida, vestuário e outros tipos de produtos:
“Os seres humanos – que escravizam, fazem experimentos e retalham outros animais – têm uma tendência compreensível de fingir que os animais não sentem dor. Uma distinção entre seres humanos e animais é essencial se quisermos subjugá-los à nossa vontade, usá-los, comê-los – sem qualquer inquietação sobre culpa ou arrependimento. É indecente de nossa parte, que muitas vezes nos comportamos de forma tão insensível em relação a outros animais, afirmarmos que só os seres humanos podem sofrer. O comportamento de outros animais torna essas pretensões enganosas. Eles são muito parecidos conosco.”
Carl Sagan dizia também que nossas simpatias morais não se encontram com os cientistas, mas com os não humanos, que enquanto vítimas de experimentos demonstram uma santa vontade de fazer sacrifícios para salvar os outros – em referência aos animais que se recusam a tomar parte em experiências que causem dor aos seus semelhantes.
Carl Sagan nasceu em 9 de novembro de 1934, em Nova Iorque, e faleceu em Seattle, em 20 de dezembro de 1996, em decorrência de pneumonia. Ele era defensor do ceticismo e promoveu a busca por inteligência extraterrestre. Foi pioneiro nos estudos do efeito estufa e da exobiologia. Fez carreira como professor da Universidade Cornell e em 1978 ganhou um Prêmio Pulitzer pela autoria de Os Dragões do Éden (The Dragons of Eden). Seu romance Contato (Contact) foi adaptado paro o cinema em 1997, sob direção de Robert Zemeckis e estrelado por Jodie Foster.
Referências
Cosmos: A Personal Voyage: Blues For a Red Planet (PBS). Carl Sagan, Ann Druyan e Steven Soter. Gregory Andorfer Rob McCain. Veiculado originalmente em 26 de outubro de 1980.
Sagan, Carl; Druyan, Ann. Shadows of Forgotten Ancestors. Ballantine Books. Edição: Reprint (1993).
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